Declaração da Via Campesina sobre sua participação na missão de solidariedade ao Líbano
A Via Campesina é uma organização internacional que defende camponeses/as, pescadores, mulheres rurais e a trabalhadores agrícolas migrantes. Hoje em dia, este movimento compreende 130 organizações e representa dezenas de milhões de camponeses que lutam contra o modelo neoliberal de globalização que põe os interesses econômicos acima das condições sociais e meio ambientais.
A Via Campesina participou com dois delegados em uma missão internacional de solidariedade com o povo do Líbano, respondendo a pedidos de socorro de parte de várias organizações Libanesas. Doze representantes de movimentos sociais, sindicatos e organizações de direitos humanos, além de membros do parlamento, fizeram parte desta missão de solidariedade em resposta a um chamado feito por várias organizações Libanesas.
A Via Campesina foi ao Líbano para encontrar-se com movimentos sociais, para visitar a região para fazer observações da situação e para divulgar informação sobre as conseqüências horríveis da guerra entre a população civil. Queremos também dar apoio direto às organizações da sociedade civil que estão enfrentando a destruição de seu país e às pessoas afetadas diretamente. Estamos particularmente preocupados pelo grave impacto aos camponeses e trabalhadores agrícolas do sul do Líbano, um setor consideravelmente golpeado neste conflito.
A delegação visitou a vários partidos políticos que apóiam a resistência no Líbano, assim como à organização de Hezbollah. Se levaram a cabo além disso reuniões com movimentos sociais Libaneses (grupos contra a guerra, meio ambientais,etc.), com o presidente da república de Libano, M. Emile Lahoud, com representantes do Comitê de Assuntos Externos do Parlamento Libanês e com membros do grupo de Nabil Berri, presidente do Parlamento.
A delegação visitou as zonas urbanas bombardeadas do sul de Beirute. Duas horas depois que a missão tinha saído destes lugares ocorreram mais bombardeios em dita zona. A delegação se encontrou com pessoas feridas em um hospital e também com pessoas deslocadas que buscaram abrigue em uma escola.
Aproveitando a cessação ao fogo, uma parte da delegação da Via Camponesa se transladou a Saida, a aproximadamente 40 Kms. ao sul de Beirute, para encontrar-se com camponeses da Organização de Trabalhadores Agrícolas Libaneses.
Todas as forças e organizações políticas que encontramos insistiram no fato de que a agressão Israelita não tinha nada que ver com a captura de dois soldados de Israel por Hezbollah, mas esta agressão havia planejada muitos meses antes pelos EUA e seu aliado na região, Israel, e que somente esperavam um pretexto para atuar.
Podemos observar que a maioria da população libanesa apóia à resistência armada, principalmente de Hezbollah, e também de outros grupos. A população civil resistiu de forma ativa a agressão e manteve a unidade nos momentos críticos e tem uma férrea vontade para enfrentar conjuntamente ao caos da guerra. Também resiste por meio da mobilização contínua de solidariedade, ajudando a um millon de pessoas deslocados e pelas suas ações preventivas evitado assim uma catástrofe ainda maior para toda a população.
No Líbano só há uma só organização camponesa que não está vinculada a grupos religiosos e que é independente dos partidos políticos. Esta se chama a União de Trabalhadores Agrícolas Libaneses que nos explicou que o sul do Líbano foi destroçado pelos bombardeios. Se destruiu 70% da produção de animais e cultivos (ovelhas, bodes, ganho, bananeiras, café, tabaco, etc.) assim como muitíssimas moradias e em alguns casos, aldeias inteiras.
A Via Campesina defende o direito à justiça, a igualdade e a solidariedade para os camponeses e camponesas, e para todos e todas. Por isso participa de forma ativa durante as grandes reuniões internacionais como o Fórum Social Mundial e outros espaços de luta (tais como em mobilizações contra o G-8, a OMC, e o FMI) e trabalha permanentemente para forjar alianças. A Via Camponesa trabalha com os movimentos sociais internacionalmente para criar uma frente de resistência à ideologia neoliberal e para promover políticas alternativas. Quando um povo está enfrentado um sério ataque, economicamente ou militarmente, como é o caso atual no Líbano, devemos responder com solidariedade e com chamados à resistência.
A Via Campesina, unida a muitos movimentos sociais, rejeita a agressão contra a população civil e demanda uma cessação imediato à guerra, assim como a retirada das forças Israelitas e a presença de uma força internacional de paz sob a direção da nações Unidas.
Toda a violência deve ser enfreada imediatamente para facilitar uma negociação que reconheça os direitos e as necessidades de todos os afetados pelo conflito. Não podemos nunca aceitar soluções militares para resolver conflitos. Se tem que voltar à mesa de negociação para alcançar um acordo compreensivo é a única solução. Todos e todas temos o direito de viver em paz e com o reconhecimento pleno de nossos direitos fundamentais.
* Gerard Durand de la Confederation Paysanne na França e Kari Kobberoed Brustad em NBS (Unión Camponesa) na Norruega