Congresso define rumos da CUT
A necessidade de assegurar a autonomia Central Única dos Trabalhadores
(CUT) em relação ao governo brasileiro e a discussão sobre o
posicionamento da central frente às eleições presidenciais, em outubro,
são temas que devem acalorar os debates dos 2 mil participantes do 9º
Congresso Nacional da CUT (Concut), entre os dias 2 e 9.
Durante o evento, realizado sob o tema "Trabalho e democracia: emprego,
renda e direitos para todos os trabalhadores e trabalhadoras", também
será escolhida a nova direção nacional da CUT. A corrente hegemônica da
central, Articulação Sindical (Arsind), apesar de apoiada por cerca de
60% dos delegados, está dividida, com dois candidatos à presidência. Um
deles é o atual presidente da central, João Felício. O outro, é Artur
Henrique Silva, atual secretário geral da CUT. O candidato da segunda
maior corrente, a Corrente Sindical Classista (CSC), é Wagner Gomes, com
cerca de 20% das intenções de voto. A Frente de Esquerda Socialista
(FES), formada por militantes do Psol e sindicalistas independentes, tem
cerca de 10% dos votos de intenção e deve anunciar a candidatura de Jorge
Luís Martins, o Jorginho. As Correntes Socialista Democrática (CSD), com
10%, O Trabalho (5%) e Tendência Marxista não haviam lançado candidatura
até o início do Concut.
Apoio à reeleição?
Arthur Silva, do campo majoritário, disse que sua corrente vai "defender
a reeleição de Lula como um projeto dos trabalhadores". Wagner Gomes, da
CSC, afirma que "enquanto a Articulação apóia quase incondicionalmente a
reeleição de Lula, nós defendemos uma plataforma dos trabalhadores, um
projeto nacional independente". Jorginho, da FES, considera um equívoco o
apoio incondicional à reeleição de Lula: "Seria como assinar, mais uma
vez, um cheque em branco". De acordo com ele, a FES vai se posicionar
contra os tucanos e também pretende questionar o governo Lula, "que não
cumpriu suas promessas de campanha".
Um balanço sobre a atuação da CUT durante o "período inédito em que o
Brasil teve um presidente oriundo do movimento sindical" também será
fundamental, na opinião de Altamiro Borges, do Comitê Central do PC do B,
partido ligado à CSC. Para ele, a CUT pecou no início do governo, com uma
postura "adesista e passiva", como por exemplo na reforma da Previdência.
Borges atribui o equívoco à hegemonia da corrente majoritária da Central,
a Articulação Sindical, vinculada ao PT. "Ou a CUT gerencia sua autonomia
ou vai perder parte da sua base", avalia.
Autonomia sindical
Para os sindicalistas mais à esquerda, a central precisa ter autonomia.
De acordo com Jorginho, a CUT capitulou frente aos interesses do governo
ao invés de cumprir seu papel de mobilizar os trabalhadores: "A central
foi uma homologadora das políticas governamentais, o que representa um
desastre histórico". Jorginho acredita que o projeto originário da CUT
foi derrotado, pois nos últimos anos a central perdeu sua combatividade,
"não dialoga mais com a classe trabalhadora".
Num segundo período do governo Lula, com a indicação do então presidente
da CUT, Luiz Marinho, para o Ministério do Trabalho, a central se tornou
mais atuante, acredita Altamiro Borges. "Foi quando a Central passou a
participar de fato da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e propôs
aumento do salário mínimo", diz ele. Wagner Gomes, da CSC, concorda. Se a
CUT não teve autonomia necessária num primeiro momento do governo Lula,
analisa, "depois corrigiu o rumo, aumentando seu poder de mobilização".
Democracia interna
As estratégias da CUT para os próximos anos vão ser discutidas pelos
delegados do Congresso. Um dos desafios da central, acreditam os
sindicalistas, é a manutenção da democracia interna, fudamental para a
unidade entre as correntes e para impedir uma fragmentação ainda maior.
De acordo com Borges, para garantir o funcionamento da central é preciso
combater o "hegemonismo excludente que existe dentro da Articulação". Ele
acredita que representantes da corrente comemoraram a saída de sindicatos
para a Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) e têm uma relação ruim
com sindicatos ligados ao Psol. "Essa postura é negativa, vai excluindo
as correntes, acabando com a pluralidade", avalia. Como conseqüência, "o
poder de fogo da esquerda diminuiu e o que vai acontecer é que ficaremos
de fora da direção", completa Jorginho. A tarefa da CUT hoje, explica
Borges, "é aumentar seu poder de mobilização e de intervenção política na
sociedade, além de fazer "menos negociação por cima. A central precisa
ser mais propositiva e mais ativa em relação ao próximo governo".
Crise do sindicalismo
As dificuldades do sindicalismo hoje, embora não tenham espaço na pauta
do Congresso, deveriam ser amplamente debatidas, na opinião de Altamiro
Borges. De acordo com ele, durante a década de 1990, com as mudanças nas
empresas e a introdução de novas tecnologias, o sindicalismo sofreu um
"baque" e perdeu uma de suas principais características, a combatividade.
Mais que isso, dentro dos sindicatos as direções se afastaram das bases,
"passaram a priorizar as negociações e ficaram mais aparelhistas e
burocratizados". Se havia uma esperança em relação à superação da crise
do movimento sindical com a vitória de Lula, diz Borges, ela acabou, pois
os problemas ficaram ainda maiores. De um lado, uma parte adotou uma
postura passiva, adesista e acrítica, aponta. "Do outro, adotou uma
postura de combate frontal".