O contraponto da Cúpula dos Povos
Milhares de pessoas marcaram a história de Mar del Plata, cidade turística da Argentina, ao participarem da 3ª Cúpula dos Povos da América e da Marcha contra Bush. O evento, realizado de 1º a 5 de novembro, reuniu cerca de 500 organizações sociais, políticas e culturais de vários países, entre eles Argentina, Brasil, Chile, Cuba, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai.
Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz e um dos coordenadores da Cúpula dos Povos, afirmou que o encontro é um espaço de construção do pensamento de liberdade e de determinação própria da comunidade americana em contraposição ao pensamento único difundido pelos países dominantes. “Nosso povo não precisa de mais exércitos, principalmente se forem dos Estados Unidos, mas sim de mais recursos para a saúde e para combater a pobreza. Necessitamos de ações para a vida, e não para a morte”, afirmou.
A Cúpula dos Povos organizada pela Aliança Social Continental (ASC) - coligação de organizações sindicais, religiosas, camponesas, de direitos humanos, de mulheres e outros movimentos sociais - teve formato similar ao Fórum Social Mundial e contou com cerca de 150 atividades centrais, como oficinas, mobilizações e atividades culturais. Entre os temas debatidos nos quatro dias, estavam o livre comercio, a militarização, o terrorismo e a soberania alimentar.
Inconciliáveis
Na contramão do evento foi realizada nos dias 4 e 5, em Mar del Plata, a Cúpula das Américas, que contou com a participação dos Chefes de Estado e presidentes dos 34 países do continente, com exceção de Cuba (leia mais na página 10). Enquanto milhares de policiais argentinos garantiam a segurança do presidente de Estados Unidos na cidade, outros milhares de manifestantes expressaram sua solidariedade ao povo cubano, seu apoio ao presidente venezuelano Hugo Chávez e seu repúdio a George W. Bush, na Cúpula dos Povos.
“A verdadeira cúpula é essa, a do povo”, resumiu o presidente do Parlamento cubano, Ricardo Alarcon de Quesada, que repudiou a presença de Bush na região e participou da Cúpula dos Povos. “Há quatro décadas, Che Guevara nos convocou para lutar por nossa verdadeira e irrenunciável independência”, lembrou o cubano. O encerramento do encontro reuniu mais de 50 mil pessoas no Estádio Mundialista e contou, ainda, com a presença de Hugo Chávez e do ex-jogador de futebol argentino Diego Maradona. Na ocasião, o trovador cubano Silvio Rodrigues embalou o público com as canções revolucionárias que já serviram de hino em diversas mobilizações populares no mundo.
Os milhares de delegados na Assembléia dos Povos, reafirmaram, em sua declaração final, a luta para eliminar a pobreza, o desemprego e a exclusão social. O texto exige também o fim da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), a anulação de toda a dívida externa dos países da região e a qualifica de ilegítima, injusta e impagável. A defesa da soberania alimentar dos povos, da agricultura sustentável e uma reforma agrária integral, bem como uma rejeição enérgica à militarização do continente, são outras reivindicações inclusas.
A declaração condena os Estados Unidos por suas ações terroristas no mundo e determina a retirada das tropas militares estadunidenses da América latina, Iraque e Haiti. Também defende a liberdade dos cinco patriotas cubanos, presos há sete anos, que conseguiram a primeira vitória em agosto quando o tribunal de Atlanta anulou o julgamento. Agora, os cubanos aguardam o resultado da apelação feita pelo governo dos Estados Unidos que não acatou a decisão do tribunal. (Minga Informativa de Movimentos Sociais – www.movimientos.org)
De novo, unanimidade contra Bush
(da Redação)
O presidente estadunidense, George W. Bush, foi a personalidade mais criticada durante 3ª Cúpula dos Povos. As principais ruas de Mar del Plata estiveram tomadas por pixações, cartazes, faixas e camisetas com dizeres "Fora Bush" e "Fora Alca". Nos espaços do encontro, também não foi diferente. Em praticamente todos os painéis e grupos de discussão, a oposição a Bush e ao o que ele representa esteve evidente.
O maior protesto ocorreu no dia 04, último dia da Cúpula dos Povos e início da 4ª Cúpula das Américas, reunião dos presidentes do continente americano. Cerca de 20 mil pessoas participaram da marcha de encerramento do encontro, percorrendo durante uma hora e meia as ruas vazias de Mar del Plata. O comércio da cidade, com a grande maioria de lojas, bancos e restaurantes fechados, e a pequena presença de policiais chamaram a atenção. Alguns moradores vinham às janelas para tirar fotos e assistir às manifestações; outros batiam palmas e faziam gestos de apoio.
A marcha seguiu até o Estádio do Complexo Poliesportivo, onde aconteceu o ato final. Blanca Chancoso, da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), leu a carta final formulada na Cúpula. O destaque ficou por conta da presença do presidente venezuelano, Hugo Chávez, único dirigente do continente a participar da 3ª Cúpula dos Povos.
Brasil de Fato (www.brasildefato.com.br)