Fórum copyleft

2005-08-15 00:00:00

Programas conjuntos de rádio e TV, Memória Instantânea,
Laboratório de Conhecimentos Livres, Casa Macunaíma e
Ciranda acolherão as midias alternativas interessadas em
compartilhar sua cobertura do V FSM

Quem vai ao V Fórum Social Mundial para atuar como midia
alternativa ou quer participar dos projetos colaborativos
do seu Centro de Imprensa pode se orientar pela altíssima
chaminé ao lado do Rio Guaíba, em Porto Alegre. A velha
coluna de 107 metros que visitantes tomam por referência
quando querem fazer um passeio de barco pelo rio ou
assistir, das margens, ao famoso por do sol no Guaíba, será,
em janeiro de 2005, um marco da comunicação do V Fórum
Social Mundial. É seguir para lá!.

A chaminé faz parte da velha e desativada termo-elétrica
que até hoje mantém o nome de Usina do Gasômetro e que será
o centro de um formigueiro de comunicadores e midias
ocupadas com o FSM. Ao redor dela se espalharão as tendas
de agências de notícias que levarão suas equipes e
equipamentos para a cobertura jornalística do Fórum.
Independentes ou comerciais, todos os estandes de imprensa
ficarão nessa área.

Dentro do Gasômetro, haverá um Centro de Imprensa que, à
primeira vista, é semelhante ao de qualquer grande evento
internacional, muito melhor equipado que a maioria. Mas as
diferenças que explicitam o forte compromisso do próximo
FSM com o fortalecimento das midias alternativas estão em
quem vai usar e como serão usados esses equipamentos.

Não haverá distinção entre jornalistas de grandes agências
corporativas e comunicadores de pequenas publicações
comunitárias no acesso a uma parte importante do centro de
imprensa. São os computadores conectados à internet para
redação de artigos e remessa de textos e imagens para as
redações, redes e sites externos. Os critérios de
credenciamento para empresas jornalísticas e free-lancers
(condição de muitos “alternativos”) estão no site
institucional do FSM (www.forumsocialmundial.org.br).

Outra parte do centro, formada por estúdios de radio e TV,
ilhas de edição, uma sala de operações e outra de encontros
de pauta, terá uso exclusivo pelos projetos coletivos das
mídias alternativas. A utilização será organizada pelas
próprias redes independentes, com formas de gestão
colaborativas, como as que estão sendo construídas pelos
Fóruns de radio e de TV, ou pelo projeto Memória
Instantânea, que é um dos projetos guarda-chuva do Grupo de
Trababalho de Cultura do FSM dedicado à produção de audio-
visuais durante o grande evento. Através desses projetos, a
Usina do Gasômetro será o coração da cobertura
compartilhada do V FSM.

Os projetos de acolhida

A partir de dezembro, com o desenho final do projeto de
comunicação do FSM – ainda em construção dentro do Grupo de
Trabalho da Comunicação e suas interfaces com o GT de
Cultura, o Acampamento Internacional da Juventude e o
Comitê Organizador Brasileiro – comunicadores e mídias
alternativas que preparam sua ida a Porto Alegre começarão
a conhecer detalhes dos projetos coletivos que estão sendo
montados para acolhê-los.

Todos se baseiam no princípio do copyleft: produzindo
conteúdos e ferramentas que as mídias não comerciais que
chegam ao Fórum poderão reproduzir, utilizar, recriar – e
disponibilizar também para outras publicações.

Entre esses projetos, a Ciranda Internacional da Informação
Independente é uma espécie de veterana. Nascida durante o I
FSM, em 2001, e com uma grande rodada a cada nova edição do
fórum, a iniciativa acolhe jornalistas, comunicadores e
publicações não corporativas que desejam participar de um
trabalho conjunto de cobertura e divulgação do encontro.

Na sala da Ciranda, tradicionalmente, formam-se equipes de
edição em seis línguas (português, espanhol, inglês,
francês, italiano e alemão), além de edição de imagens e
conteúdos de mídias diferentes. São equipes formadas por
diferentes publicações, de diferentes países. Inclui também
redes de publicações que se organizam para cobrir o Fórum
em temas específicos, como já vem se repetindo nos últimos
anos com o projeto de cobertura feminista organizado pelo
site francês Les Pénèlopes e publicações da Europa e do
Leste Europeu – que tanto alimentam a Ciranda como
aproveitam matérias da produção coletiva em seus sites.

No projeto Ciranda, as pessoas participantes escrevem suas
matérias no Centro de Imprensa do Fórum e podem inserí-las
diretamente no site, através de ferramentas hoje bastante
simplicadas da internet. As equipes de edição fazem um
trabalho de finalização de títulos, chamadas, seleção de
imagens e mantêm o site renovado constantemente durante o
FSM. O envolvimento das pequenas mídias alternativas, além
de algumas grandes e fortes divulgadoras do Fórum (como
Terra Viva, da IPS, que também participa regularmente) na
cobertura conjunta faz o contraponto criativo e
colaborativo ao trabalho da imprensa tradicional. Na
Ciranda, é possível construir pautas conjuntas (temas e
atividades a serem cobertas com determinado interesse ou
abordagem), mas ninguém é pautado pela Ciranda, a não ser
por sua publicação ou critério pessoal.

Uma sala de operações

Em 2005, a Ciranda se constituirá em uma plataforma de
divulgação das midias alternativas que produzem textos,
fotos, audio e vídeo, acolhendo ou linkando conteúdos de
outras plataformas coletivas. Mas a velha sala de edição de
textos e fotos da Ciranda no FSM ficou pequena demais para
este ano Nasceram e cresceram com ela projetos
compartilhados para mídias específicas, como radios
comunitárias e TVs. Outros projetos coletivos inspirados no
mesmo conceito de copyleft e gestão colaborativa
despontaram, precisando de espaço para concretizar-se e
acolher participantes, a exemplo da Minga, uma espécie de
Ciranda promovida por movimentos sociais do Equador para
cobrir o Fórum Social das Américas em Quito. Para apoiar o
compartilhamento de experiências, o centro de midia do V
FSM terá uma de sala de operações da mídia alternativa onde
as equipes responsáveis pela edição e atualização dos
projetos multi-mídia coletivos poderão trabalhar captando
os materiais trazidos pelo conjunto de comunicadores
espalhados pelo FSM.

Já está entre os grupos de acolhida a iniciativa Fórum de
Radios, que deverá fazer a gestão do uso coletivo de dois
estúdios, transmitir boletins conjuntos para o território
do Forum Social Mundial, através de uma antena instalada
especialmente para isso, além de programas criativos.
“Nossa idéia é fazer divulgação da campanhas radiofônicas
produzidas pelas redes que chegam ao Fórum, como alguma
campanha do comércio justo, ou do Grenpeace, naquele
intervalo entre as notícias que as emissoras comerciais
utilizam para fazer publicidade”, explica Maurício do Los
Santos, da Radio Mundo Real e do Núcleo Gestor do Forum de
Radios. É esperada a participação das Redes Abraço, do
Brasil, AMARC e ALER, internacionais, além de radios
independentes.

Da mesma forma, iniciativas como o Ciranda TV, que soma
emissoras não corporativas da Venezuela, Brasil e Cuba, o
Memória Instantânea e as TVs comunitárias brasileiras devem
participar de um núcleo gestor dos recursos para audio-
visual, compartilhando estúdios de TV, programas, imagens,
documentários. “A Vive TV deverá dedicar três horas diárias
de sua programação para divulgar coberturas do FSM”,
explica a jornalista brasileira que hoje reside na
Venezuela, Cláudia Jardim, reponsável pela articulação
Ciranda TV.

Para além do Gasômetro

Conviver e compartilhar experiências de mídia são
propósitos de dois outros projetos vinculados ao Grupo de
Trabalho de Comunicação do COB/FSM, mas de livre gestão. O
Laboratório de Conhecimentos Livres deve ser realizado pelo
Acampamento Internacional da Juventude e coletivos de mídia
e arte que construirão ou acolherão oficinas e atividades
envolvendo novas e velhas midias e apropriações
tecnológicas.

Com oficinas de radio, fotografia, internet e jornal
impresso a Casa Macunaíma – projeto já realizado no I Forum
Social Brasileiro, em Belo Horizonte, e no III Fórum
Mundial da Educação, em São Paulo – terá uma versão
adpatada para o Fórum Social Mundial. Promovida pela rede
Abraço de radios comunitárias, a Casa funcionará em uma
escola pública, como das outras vezes, mas possivelmente
não oferecerá hospedagem aos comunicadores que chegam para
as atividades. O formato da Casa também está em definição.

Nas próximas semanas, até o V Fórum Social Mundial, Planeta
Porto Alegre trará matérias especiais sobre as várias
iniciativas de comunicação compartilhada no FSM

Informações/participação na Ciranda: ciranda@ciranda.net