Documentários livres
A britânica BBC, uma das maiores redes de comunicação do
mundo, decidiu digitalizar seu gigantesco arquivo
recentemente. Uma campanha foi lançada na Internet e dentro
da empresa para que esse formato fosse disponibilizado
gratuitamente ao público e que seu reaproveitamento fosse
autorizado. Christian Ahlert, professor do Oxford Internet
Institute, foi um dos que apoiaram essa causa. Ele
conseguiu convencer a direção da empresa e os
documentaristas a fazerem uso da licença Creative Commons,
que possui diferentes níveis de liberdade de utilização.
Foi um processo demorado e difícil, reconhece, mas que pode
trazer mudanças na forma de produção da emissora. Devido a
problemas legais, por enquanto apenas os documentários
serão digitalizados e licenciados sob a Creative Commons.
Ahlert participou de uma mesa sobre “revolução digital” na
manhã deste sábado, 29 de janeiro, e conversou com a Rets
após o evento. Leia abaixo a entrevista.
Rets - Você afirmou que a BBC está digitalizando parte de
seus arquivos. Todo o conteúdo será registrado de acordo
com a licença Creative Commons?
Christian Ahlert- Não, pois, por razões legais, a BBC não
possui todos os direitos sobre tudo o que produz. Logo, por
enquanto, apenas documentários serão licenciados em
Creative Commons, pois deles a emissora possui a maior
parte dos direitos. O que a BBC pretende fazer, a partir do
momento em que o arquivo for criado, é pedir autorização
para todos que vierem a participar de algum tipo de
produção sua para facilitar a digitalização e o
licenciamento.
Rets - Isso pode se tornar uma tendência mundial ou a BBC
será um caso isolado?
Christian Ahlert- Acho que é uma necessidade da era moderna
a abertura de arquivos. Há muita produção guardada e, com a
digitalização, o público poderá assistir a esses programas
no momento em que quiser e também usufruir de suas imagens.
Rets - De quem foi a iniciativa de colocar os arquivos sob
licença Creative Commons?
Christian Ahlert- A CC foi apoiada pelo ex-diretor de
Conteúdo da BBC e o apoio foi mantido pela atual direção,
bem como dentro da organização. Foi algo que levou tempo
para conseguir adesão, mas agora mais e mais pessoas estão
convencidas de que é a coisa certa a fazer. Temos que mudar
a forma de pensar a transmissão. Atualmente ela é algo
passivo: você senta no sofá e assiste à programação. Mas,
daqui em diante, os programadores vão precisar mudar seu
paradigma e passar a pensar em algo mais participativo, em
que o espectador possa fazer parte do processo de produção.
Rets - Houve algum problema com o departamento jurídico da
emissora?
Christian Ahlert- Foram levantados vários argumentos,
principalmente em relação a direitos morais. Os advogados
têm um ponto: alguns artistas não sabem o que está sendo
feito com suas obras e isso é algo muito difícil de
controlar.
Precisamos mudar nossa forma de pensar, pois o
aproveitamento de criações é algo muito antigo, que vem de
culturas com as quais não temos contato, anteriores a esse
licenciamento estreito que é o copyright. Há muito tempo
ouvimos histórias contadas por outras pessoas e as
repassamos. Há 400, 500 anos, as pessoas não faziam
contratos como hoje.
Rets - As novas produções da BBC serão feitas sob Creative
Commons?
Christian Ahlert- Espero que sim.
- RITS