Educação em outros meios

2005-08-09 00:00:00

A educomunicação foi o principal tema tratado durante o
painel "Educação para a mídia: em busca de conceitos
democráticos". O conceito, que se difunde mais rapidamente
na América Latina, especialmente no Brasil, une as idéias
de educação e comunicação, como forma de representar uma
relação mais inclusiva e participativa entre mídia e
sociedade.

Um dos painelistas foi o professor Ismar de Oliveira Soares,
que coordena o Núcleo de Comunicação e Educação da Escola
de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo
(Eca/USP). Ele, ainda na década de 70, começou a trabalhar
de forma mais intensa nesse campo. Soares acredita que os
meios de comunicação podem ser aliados no processo
educacional e defende que crianças e adolescentes sejam
estimulados a olhar a mídia de forma crítica.

Desirée Rabelo, presidente da União Cristã Brasileira de
Comunicação Social (UCBC), apresentou rapidamente o
trabalho desenvolvido pela entidade, que existe há 35 anos.
A UCBC tem procurado desenvolver esse espírito crítico,
além de trabalhar na formação de educadores para a
comunicação e até mesmo capacitar jornalistas em práticas
de rádio, TV e uso cidadão da mídia. "A Lei de Diretrizes e
Bases prevê a educação para a comunicação. Existe, portanto,
a necessidade de formar profissionais capazes e reforçar
esse debate", observou.

Levar ao poder público as questões que a sociedade tem
discutido em relação à mídia é, aliás, uma das propostas do
Observatório da Educação, iniciativa da ONG Ação Educativa.
Uma das coordenadoras do projeto, Michelle Prazeres conta
que a idéia surgiu com a percepção de que havia uma lacuna
entre a sociedade e os meios de comunicação. Para ela, a
informação não pode ser tratada como mercadoria, pois é um
bem público. "Comunicação é direito. E não só o direito de
se informar, mas também o de produzir", afirmou.

Aprazíveis e desprezíveis

Embora, num primeiro momento, isso possa despertar uma
certa estranheza, o Conselho Federal de Psicologia também
tem se aproximado do debate sobre a democratização dos
meios de comunicação. Seu vice-presidente, Marcos Vinícius
Oliveira, se apressa em explicar o que fez a entidade, uma
autarquia, se envolver na questão: "A democracia é um tema
central na vida brasileira. E a possibilidade de um afro-
descendente ou um nordestino se identificarem nos
personagens de uma novela é mínima. Há dezenas de exemplos
de como processos sociais são moldados pelos meios de
comunicação. Nosso encontro com esse tema decorreu dessa
preocupação", explica. Segundo ele, a TV opera com
conceitos psicológicos "em estado bruto", para produzir um
determinado efeito, de modo que os indivíduos se comportem
conforme uma certa lógica. "Nós, por outro lado, buscamos
produzir uma inquietação", diz.

Oliveira percebe que o mercado divide o país em dois tipos
de pessoas: os aprazíveis, para os quais se voltam os
serviços e as oportunidades, e os desprezíveis, aos quais
quase tudo é negado. Isto se reflete na forma como as
comunicações são geridas. O próprio Conselho de Comunicação
Social, escolhido recentemente e que teria como atribuição
levar a sociedade civil a participar das discussões
nacionais sobre o assunto, acaba de sofrer um revés com a
eleição de vários empresários para sua composição. "Isso
foi um golpe", indigna-se.

- RITS