O conhecimento nas mãos certas
Revolução digital: Software livre, liberdade do
conhecimento e liberdade de expressão na Sociedade da
Informação.
A tecnologia da informação, daqui para a frente, será de
importancia vital para todas as pessoas. Se hoje, já quase
não conseguimos viver sem recursos computacionais que
gerenciam nossas vidas, como será daqui em diante? E agora
temos este dilema: o programa que controla todas estas
informações, deve pertancer a alguém ou pertencer a todos?
Formamos hoje uma sociedade que é centrada e dependente da
comunicação de dados, e esta comunicação se torna dia a dia
mais presente, mais comum em nossas vidas, e por isso, mais
importante. Por isso, e pelo motivo dela ter sido
desenvolvida em um meio coletivo, é que surge a percepção,
neste período de transição, de que a tecnologia deve ser um
bem comum, e não um monopólio. E é atualmente, nesta briga
entre produtores de software, que todos que se importam com
o bem estar coletivo devem atentar-se. O software é o
regente de todo este sistema. É a inteligência por trás das
máquinas, é o que há de mais humano entre elas, a essência
de todo o sistema digital que move o mundo e haverá de
mover cada veis mais. Então, este conhecimento, esta
tecnologia, deve permanecer nas mãos de quem quer fazer
dinheiro com ela, ou nas mãos de pesoas que querem que a
tecnologia seja um bem da humanidade, e trabalham para que
toda essa evolução venham a servir vantagens para todos,
sem distinçoes? É baseado nisso que se impõe esta briga
ideológica entre o software livre e o proprietário. Entre
um bem de todos e um simples produto de consumo. cabe a
todos nós decidirmos que rumo esta briga irá tomar, e,
mesmo para aqueles que nunca tiveram contato com um
computador, basta saber que a vida ou a morte de pessoas
dependerá básicamente disto, em um futuro muito próximo. É
de se pensar.
Eu já tinha lá minhas afinidades com a filosofia do
Software Livre, e demais idéias de liberdade de expressão
no ciberespaço. Mas depois deste encontro, com a
apresentação do Advogado Lawrence Lessig, co- criador do
projeto Creative Commons, esta simples afinidade torna-se a
certeza que este é o caminho certo. Lessig mostrou uma
apresentação refinada de porque a geração de conhecimento e
arte que serão veiculados na rede devem permanecer livres.
A criação descende de outras que vieram antes, e será a
base para outras que virão. Por isso, deve ser livre. Ele
demonstrou a criatividade digital em um processo de
reaproveitamento, ou remix, e deixou bem claro ao repetir
constantemente a palavra "Free" qual era o objetivo ali
dele, da Creative Commons e dos outros participantes da
mesa. Deixou também claro o rumo que as tecnologias
digitais tomam para facilitar o acesso á produção e
aproveitamento do conhecimento, e que somente a lei cria
impedimentos para que isso aconteça. Citou como comparação
o caso das vítimas da AIDS na áfrica em virtude das leis de
patentes dos remédios, um exemplo extremo de como a lei de
propriedade intelectual pode afetar diretamente os direitos
mais básicos de um ser humano. A Creative Commons tem como
lema "Alguns direitos Reservados" e não "Todos os direitos
reservados", como a indústria prega hoje em dia. É um guia
para os autores e criadores fazerem seu trabalho e
distribuí-los de uma forma justa. O projeto pode ser
acessado em: http://creativecommons.org/
Outro participante, o espanhol Manuel Castells, um teórico
do ciberespaço, ressaltou que a internet só atingiu o
status que tem hoje por ter sido desenvolvida desde o
início como uma tecnologia aberta, que pode ser criada e
ampliada por todos. Os padrões da internet são livres, e se
assim não fosse, não teria condições de atingir a
abrangencia que tem hoje. Por isso a importância dela
continuar lidando com padrões abertos em toda sua evolução
daqui para a frente. Já o americano John Perry Barlow (ex-
letrista da banda Grateful Dead)é co-fundador da Eletronic
Frontier Fundation, outra sociedade que luta pala
manutenção da liberdade no ciberespaço. Ele deixou claro
sua adimiração pelo Brasil e sua cultura, e ressaltou a
importância que o país tem na luta pela liberdade de
expressão, com os programas de Software Livre apoiados pelo
atual governo federal.
Outro depoimento importante foi de Christian Ahlert, da BBC
de Londres, que está disponibilizando arquivos audiovisuais
da companhia na internet, com o modelo de copyright da
Creative Commons, como uma maneira de incentivar o
crescimento do número de espectadores, deixando parte deste
acervo livre para ser copiado e modificado. O encontro
terminou com a participação do ministro da cultura Gilberto
Gil, que ressaltou seu apoio e do governo ao software livre
e ao Creative Commons, e a importância da tecnologia para a
cultura, assim como a necessidade de manter-se esta
tecnologia ao acesso de todos. Como talvez a maior parte do
público estava ali presente não exatamente pela causa da
liberdade digital, mas por fãs seus, Gil acertou em deixar
claro o ideal Hacker, que é o de pesquisar, descobrir,
construir o conhecimento e compartilhá-lo com todos, e não
o de causar danos, como a maioria das pessoas
equivocadamente ainda pensa.