Reunião de hackers
A mesa sobre "Revolução Digital", realizada neste sábado,
29, pela manhã, reuniu diversas personalidades, que falaram
principalmente sobre as tentativas de impor limites ao uso
da Internet e sobre o uso de programas de código aberto e
livre. Eram palestrantes o espanhol Manuel Castells; o
ministro da Cultura brasileiro Gilberto Gil; os professores
universitários John Perry Barlow e Lawrence Lessig, além de
Chris Ahlert, do Oxford Internet Institute.
Para eles, as mudanças que a Internet tem provocado na
sociedade não podem ser paradas, e toda tentativa de
interrompê-las não terá sucesso. "O principal obstáculo
para o desenvolvimento da Internet é o uso de propriedade
intelectual como forma de lucro", afirmou Castells,
sociólogo autor da trilogia Sociedade em Rede. "A
propriedade não é o modelo ideal de lidar com coisas
intocáveis", opinou o norte-americano John Perry Barlow, da
Eletronic Frontier Foundation. Barlow se opôs ao modelo de
cobrança pelo uso de informações na rede mundial de
computadores. Defensor da livre circulação da informação,
ele alertou para os perigos da comercialização de notícias,
músicas e vídeos na Internet, principalmente para países em
desenvolvimento. "A propriedade intelectual não pode ser
uma nova forma de colonialismo", disse. "Precisamos de uma
nova ideologia, contrária à propriedade", ressaltou Lessig,
autor de O futuro das idéias e Free culture.
Entre os exemplos de como fazer isso está a licença
Creative Commons, na qual os autores de uma obra
intelectual podem abrir mão de seus direitos na medida em
que desejarem. O cantor e ministro Gilberto Gil é um dos
que aderiram à novidade. "Sou ministro e sou músico, mas
sobretudo hacker de espírito", declarou, para depois se
dizer fã das novas tecnologias. Segundo Lessig, só com esse
tipo de registro é possível manter o "remix" que marca as
culturas em todos os tempos. O reaproveitamento de
produções na Internet, para ele, é uma "mudança radical na
forma de fazer cultura" e um estímulo ao desenvolvimento
coletivo. Um dos idealizadores da Creative Commons, o
norte-americano afirmou que a liberdade, para funcionar,
precisa ser compreensível, imutável e usável. Por isso
considera inaceitável a postura de empresas de comunicação
que procuram proteger ao máximo suas propriedades
intelectuais e a de empresas de computação que não liberam
os códigos de seus programas.
A rede de televisão e rádio britânica BBC foi elogiada por
sua decisão de, ao digitalizar parte de seu acervo, colocar
os arquivos sob a licença Creative Commons, possibilitando,
assim, o aproveitamento de imagens por internautas. "Assim
o telespectador poderá escolher a que assistir e juntar
produções", declarou Christian Ahlert, responsável pela
digitalização. Ahlert disse à Rets que essa não foi uma
decisão fácil de ser tomada. "Precisamos de muita conversa
para convencer os diretores de que isso seria benéfico não
só para a empresa como para o público". Ele acredita que em
breve todas as grandes companhias de produção de conteúdo
seguirão o mesmo caminho.
Segundo Castells, a lógica da rede mundial de computadores
é baseada na colaboração entre desenvolvedores e a
introdução de outra forma de organização provocaria o fim
desse meio de comunicação. "Todos os códigos da Internet
foram espalhados por usuários. É um absurdo querer proibir
a liberdade de associação", ressaltou. Para o espanhol, a
sociedade, daqui em diante, deve se organizar de acordo com
o binômio "caos e progresso". Gil concordou e disse que o
movimento pela liberdade na Internet "não é 'anti', mas
'pró' uma cidadania global, da informação, do exercício da
sensibilidade e da humanidade". Entusiasta, o ministro,
disse querer ver a cultura "hacker" predominar no futuro.
"Os hackers alargam o saber e crêem no compartilhamento de
informações", esclareceu.
http://fsm2005.rits.org.br/apc-aa
fsm2005/fsm2005/index_conteudo.shtml?AA_SL_Session=50c9e740
8e728a025d270d04e9cfd5b9&x=128