Tecnologia e conteúdo
Mais do que discutir padrões e tecnologias, é necessário e
fundamental considerar como ela poderá proporcionar ao
conjunto da sociedade uma expressão mais livre, plural e
democrática. Esta foi a essência do que se debateu no
painel "Digitalização das comunicações", organizado pelo
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC),
com as participações de Celso Schröder, membro da Federação
Nacional dos Jornalistas e coordenador geral do FNDC; Luiz
Antônio Carvalho, consultor para Projetos Especiais da Rede
de Informações para o Terceiro Setor (Rits), e Alexandre
Kieling, diretor técnico da Associação Brasileira de TVs
Universitárias (ABTU).
Há uma grande polêmica no aspecto técnico quanto à escolha
do melhor padrão para o desenvolvimento no Brasil da TV
digital. Existem modelos diversos que disputam o enorme
mercado brasileiro e ainda a possibilidade de que o país
opte por um modelo próprio. A TV digital vai proporcionar a
convergência de diferentes mídias - televisão, rádio e
Internet seriam acessíveis com o uso de um mesmo aparelho -,
daí a preocupação com o acesso democrático a todo esse
potencial, tanto do ponto de vista da recepção quanto da
produção de conteúdo.
Partindo da experiência da Rits no Projeto Telecentros SP,
desenvolvido em parceria com a Prefeitura de São Paulo,
Luiz Antônio destacou a importância de garantir espaço para
populações cuja expressão é tradicionalmente marginalizada.
"Interessa-nos o acesso, mas também a produção de conteúdo
local. Seja qual for a decisão sobre o padrão a ser usado,
nada dispensa o governo de avançar na inclusão digital.
Mais do que a escolha de um ou outro protocolo", afirmou,
"é preciso saber o que permite ao país avançar nesse
sentido. E nada será garantido sem políticas públicas".
Celso Schröder deu seqüência ao tema convocando a uma
reflexão sobre a utilidade da digitalização das
comunicações. Para ele, não é a tecnologia que está em jogo,
mas a chance histórica de mudar o cenário e a relação da
sociedade com a própria tecnologia. "Não enxergamos a
democratização da comunicação como algo final. Ela vai
garantir a democratização efetiva do país e a participação
efetiva da sociedade", acredita.
Alexandre Kieling, que representa a ABTU na coordenadoria
da Câmara de Conteúdo, também propõe que as discussões
sobre a digitalização saiam do campo tecnológico. "Temos de
observar os aspectos econômico e social do serviço: quem
faz, o que faz, de que forma faz e qual a finalidade. E
discutir como vão funcionar no novo estatuto da TV digital
o rádio, a TV, o jornal e a Internet". A Câmara de Conteúdo
foi criada por sugestão do FNDC, de modo a abrir espaço
para participação da sociedade nas discussões do Comitê
Consultivo do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD).
Kieling lamenta que o debate, atualmente, gire muito mais
em torno dos interesses das TVs comerciais abertas.
"Ninguém quer discutir TV educativa, TV comunitária... é
preciso rever essa cadeia de valor, de quem produz e
distribui conteúdo", ponderou.