Livre infomaré

2005-08-08 00:00:00

Laboratório de Conhecimentos Livres vai mostrar em Porto Alegre que é possível apropriar-se das tecnologias para fazer mídias, artes, música e outras invenções

Uma amostra grátis do que pode acontecer no Laboratório de Conhecimentos Livres dentro do Acampamento da Juventude do próximo Fórum Social Mundial foi oferecida, no último 20 de novembro, por grupos de jovens criadores de mídias livres com ajuda de um veterano entusiasta: o músico e ministro Gilberto Gil.

São iniciativas distintas, mas vários coletivos que participarão do laboratório em Porto Alegre integram também uma rede chamada “Articuladores”, que se dedica a construir projetos para disseminar o uso de tecnologias livres em projetos de comunicação e arte populares, um ponto alto das atividades previstas por eles para o próximo FSM.

No encontro com Gil, os Articuladores montaram um laboratório a jato para mostrar na prática que os equipamentos e programas livres podem substituir tecnologias próprietárias que enriquecem as indústrias fonográficas e de audio-visual e tornam as produções artísticas um privilégio dos que podem pagar por elas. Mais que isto: não fossem as patentes, direitos autorais e códigos fechados que cercam conhecimentos simples de informática, qualquer coletivo poderia transformar as produções culturais de sua comunidade em arte disponível pela internet.

Tirado do forno

O laboratório, montado para testar um kit tecnológico construído pelos Articuladores e destinado a equipar uma centena de “Pontos de Cultura” disseminados por um novo programa do Ministério da Cultura, durou quase o tempo de uma entrevista e uma apresentação musical do ministro.

Depois de apresentar uma composição inédita , "Máquina de ritmo" , e comentar as virtudes dos recursos apresentados, Gil foi presenteado pelos participantes com um CD saído do forno. Dentro, trazia a gravação feita na hora e editada em uma ilha de áudio usando o programa Ardour, software livre para captação e tratamento sonoro. Fora, a embalagem do CD trazia a capa com recorte de uma foto de Gil – também tirada ali mesmo, tratada e editada com o software GIMP. E no pacote, com a finalidade de distribuição livre pela internet, um clip de Gil, com sua participação musical e sua fala no evento. Tudo gravado e finalizado na ilha de edição montada com outro software livre: Cinelerra (ver links da música e video-clip abaixo).

Sendo composição jamais apresentada ao público, sem contrato autoral com nenhuma gravadora, e com autorização do próprio ministro compositor, tudo que o Grupo Articuladores produziu nessa tarde, para espanto e celebração até dos que sabiam que tudo aquilo seria possível – tornou-se um evento na história cultural brasileira, liberada na internet para deleite de qualquer interessado". Não se tinha registro, até aquele momento, de nenhuma ilha funcional de áudio e vídeo que gravasse e produzisse mídia somente através de programas livres e que tivesse sido aprovada pela crítica de um músico profissional. Gilberto Gil aprovou e liberou.", diz Fabianne Baveldi, no site "Software Livre Brasil".

Compartilhando idéias

Que relação tem esta experiência com o laboratório que o Acampamento da Juventude e diversos coletivos de arte e mídia farão no próximo FSM? Como diz a canção de Gil: "posso legar um dicionário de compassos pra você, no futuro você vai tocar...daí por diante, samba avante já sem precisar de mim". O propósito do laboratório que está sendo construído em Porto Alegre é trocar conhecimentos como esses, além de práticas e ferramentas virtuais para quem quiser fazer suas próprias midias, artes e outras invenções. E estimular que isso seja feito com autonomia , sem depender de tecnologias proprietárias ou de especialistas.

“O fórum já tem uma característica de reunir pessoas, movimentos e grupos culturais, todos com as suas necessidades de comunicação. No laboratório, poderão trocar experiências com os coletivos que fazem apropriação tecnológica para comunicar e disseminar suas atividades. Ou simplesmente poderão experimentar ferramentas livres para criar, produzir coletivamente, compartilhar idéias e conhecimentos”, diz Rafael Gomes, do Coletivo Palmarino.

Para acomodar oficinas, encontros, experimentação e emprego de programas livres nas comunicações, o AIJ e os coletivos estão identificando espaços e recursos e já prevendo uma programação que vai além do uso das tecnologias de internet. “O laboratório também terá atividades com técnicas livres, como a bioconstrução, ou de questionamento das patentes de medicamentos, entre outras", diz Viliano VG Fassini, do AIJ.

Estão previstas atividades envolvendo diagramação, desenho e desenvolvimento de sites, construção de rádios livres, manutenção e reciclagem de microcomputadores, laboratórios de desenvolvimento de software (Hacklab), uso de arte na comunicação, criação de rádio web, TV web, vídeo ativismo e trocas de idéias sobre propriedade intelecual – como as que propõem copyleft ou creative commons.

Algumas iniciativas mobilizarão pessoas dentro e fora do território do FSM, através da internet. Um exemplo será o escaneamento de livros que atrairá colaboradores distantes interessados em participar da Scan Fest (um dia inteiramente dedicado a disponibilizar conteúdos de livros na Internet).

Gestão horizontal já começou

Com formato e localização ainda em processo de definição, o laboratório deverá oferecer uma infra-estrutura básica, com acesso a internet em alta velocidade e possibilidades de participação -- inclusive promovendo oficinas e atividades próprias -- de coletivos que chegarem de outros países.

O que vai permitir o máximo de apropriação do laboratório pelos coletivos é o conceito de auto-gestão que acompanha a própria história do AIJ, como explica VG. Com formatos diferentes para cada espaço do acampamento ou fases da sua construção, "é uma gestão mais horizontal, sem decisões hierárquicas", diz ele. No caso do laboratório, por exemplo, a gestão compartilhada já começou, "desde o momento em que os coletivos começaram a pensar o projeto ou sua participação e estão conversando". No caso das decisões do acampamento durante o FSM, também há uma dinâmica de participação horizontal. "São feitas reuniões abertas no final do dia, onde até problemas mais estruturais de segurança são tratados e resolvidos. Essa forma de gestão significa para quem participa também ser responsável pelo espaço e pelos recursos coletivos.", diz VG.

A formulação do Laboratório de Conhecimentos Livres vem envolvendo a participação de alguns coletivos brasileiros como Capão on-line de Comunicação, o Submídia, de radio livre, o Base V , de midia impressa, o Midiatatica, de arte-comunicação, a Raio X comunicacao, de comunicação local, o Projeto Metafora, de reciclagem de computadores, o Coletivo Palmarino, de digramação e web e o Re:Combo, de produção cultural compartilhada. É esperada também a participação de comunidades CMI como a do Rio de Janeiro, já envolvida na proposta.

Se os planos e sonhos desses coletivos se concretizarem todos, o laboratório poderá começar, na prática, antes do fórum e com atividades distantes de Porto Alegre. A idéia do coletivo Midia Sana, do Recife, é encarar dias de estrada cruzando o Brasil, com uma programação de paradas de video ativismo por todo o longo caminho até o Sul do país.

Para saber mais sobre o Laboratório de Conhecimentos Livres: comunicacao@acampamentofsm.org

Música, videoclip, letra, capa e contracapa do CD "Máquina de Ritmo" estão no site: http://banto.radiolivre.org/gil/

A música em ogg (alternativa livre ao mp3): http://banto.radiolivre.org/gil/maquina-de-ritmo.ogg

A música em mp3 http://www.pirex.com.br/pirexmp3/maquina-de-ritmo.mp3

Fórum copyleft (a cobertura da mídia alternativa no próximo FSM) http://www.planetaportoalegre.net/publique/cgi/public/cgilua.exe/web/tem...

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