Brasil:

Das mãos camponesas e operárias nasce a Aliança entre trabalhadores

MPA
2016-07-04 22:00:00

 

MPA em parceria com a CNM/CUT fortalecem a Aliança Operária e Camponesa com a doação e comercialização de alimentos saudáveis, é o alimento produzido no campo sendo entregue na mesa do trabalhador na fábrica

 

 

Das mãos do camponês para as mãos dos operários, do campo para a mesa do trabalhador da fábrica. Esse foi o caminho que 3 toneladas de alimentos saldáveis percorreram do Espirito Santo até São Paulo, construindo a Aliança Camponesa e Operária, pelas mãos dos próprios trabalhadores que se organizaram na produção dos alimentos em forma de mutirão e por outro lado, a organização dos operários nas fábricas, se organizando para receber esses alimentos. Cenas vividas nesta semana, entre os dias 21 a 23 de junho de 2016, momentos que emocionaram quem produz e quem consome.

 

A doação e venda direta de alimentos saudáveis produzido pelos camponeses/as do Movimentos dos Pequenos Agricultores (MPA) do Espirito Santo, para os trabalhadores da Ford em São Paulo, organizados pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT). Onde montou-se uma Barraca dentro da Montadora, “um espaço que é dos trabalhadores desde 1992, eles deram o nome de Economia Solidária é onde eles fazem com que os parceiros possam vender sua produção, no caso nós como camponeses do MPA estamos fortalecendo a Aliança Camponesa e Operária por Soberania Alimentar a qual a gente vem desde 2015 nessa construção”, destaca Josineide Costa Sousa, camponesa e dirigente do MPA em SP.

 

Foram mobilizados a produção de umas 50 famílias camponesas do movimento, e uma diversidade de produtos, mais de 43 itens, entre eles doces, pães, biscoitos, farinha, mel, tempero, café, arroz, fubá, farinha de mandioca e açúcar mascavo, a grande maioria deles produzido ou beneficiados pelas mulheres camponesas. O objetivo, fortalecer a Aliança Camponesa e Operária, e, a Solidariedade entre os trabalhadores do campo e da cidade, a ação ganha mais significado ainda diante da conjuntura que vivemos.

 

Para os camponeses do Espirito Santo, onde forma produzidas essas 3 toneladas de alimentos, tem um significado econômico muito importante, pois o Estado está vivendo a maior crise de sua história. Muitos camponeses não conseguem produzir pois falta água, falta chuva, e os poucos que conseguem produzir enfrentam dificuldades com a comercialização, então, a solidariedade entre as Classe Camponesa e Operária tem sido a melhor aliança já construída. Poder dar vazão para essa produção, dos camponeses que ainda tem, apesar de toda a seca, é fundamental para garantir uma condição um pouco melhor e passar por esse momento de crise que os camponeses no Espirito Santo estão vivendo.

 

Imagina qual é o trabalhador que tem condições de pagar R$ 20,00 por uma embalagem de 200g de mel, os camponeses/as do MPA comercializaram pelo mesmo valor 1,300 Kg de mel, e ainda assim, foi possível o camponês receber mais do que o atravessador paga, ou seja, o camponês está ganhando mais e o alimento está chegando ao trabalhador por um preço mais barato e com qualidade muito superior.

 

Sobre essa construção, o camponês e dirigente do MPA no ES, Raul Kauser, descreve, “foi um grande mutirão arrumar, ajeitar essa produção, carregar o caminhão e ir para São Paulo, fazendo toda a viagem, foi um grande esforço onde todos pegaram junto, esse é o espirito”.

 

Para Paulo Cayres, presidente da CNM/CUT, “essa Aliança Camponesa e Operária não deixa de ser um instrumento de luta da Classe Trabalhadora, essa Aliança se fortalece a cada dia”, destaca Paulo. Que ainda complementa, “essa Aliança é muito importante para fortalecer nossa luta, pois o dinheiro que o trabalhador ganha na fábrica, precisa ser revertido para outros trabalhadores, então é esse o papel que a Confederação está fazendo e os metalúrgicos do ABC em parceria com o MPA”.

 

A ação econômica da comercialização da produção se mistura profundamente com a ação política do momento de enfrentamento ao Golpe. Enquanto o governo interino e golpista de Michel Temer está desmantelando o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), está acabando com a Políticas Públicas para a Agricultura Camponesa e fazendo uma política totalmente nefasta para os trabalhadores de maneira em geral, os trabalhadores do campo e da cidade se juntam e criam condições de botar alimentos saudável com preço junto na mesa dos trabalhadores e ao mesmo tempo, gerar renda e condições de resistência aos camponeses, isso é um negócio altamente estratégico.

 

 

 

Doação de cestas de produtos saudáveis da Agricultura Camponesa

 

Em solidariedade aos trabalhadores que ocupam a mais de 40 dias a Fábrica Karmann-Ghia em São Bernardo do Campo - SP, em luta por seus salários e direitos. O MPA em parceria com a CNM/CUT e a Federação Estadual dos Metalúrgicos (FEM-CUT/SP) realizaram a doação de Cestas de Alimentos Saudáveis para esses trabalhadores.

 

Os metalúrgicos decidem ocupar a fábrica no último dia 13 de maio, quando a Justiça emitiu parecer confirmando que a atual diretoria não havia, de fato, cumprido com as obrigações com os antigos donos da empresa, gerando uma indefinição sobre quem são os reais proprietários da fábrica. São 364 trabalhadores que estão sem saber o que irá acontecer, ocupam a fábrica e começam a discutir alternativas para assumir a empresa em esquema cooperativado. Eles se revezam em três turnos para que a fábrica esteja ocupada 24 horas por dia.

 

No rosto de cada um ficou estampado a felicidade ao receber as cestas de alimentos das mãos dos camponeses. “ Eles estão em uma situação muito delicada nesse momento e a gente pode então entregar para essas famílias alimentos saudáveis, alimentos produzidos pelas mãos Camponesas”, destaca Raul.

 

Em cada pacotinho de produto, em cada pacotinho de biscoito, em cada garrafinha de mel tem o nome do camponês que produziu, há uma identidade de nome de pessoas, não é o nome de uma indústria ou de uma marca, mas é o nome de uma pessoa.

 

“O caminhão que levou essa produção dos camponeses até São Paulo, é um caminhão da Ford, talvez, se nesse caminhão tivesse o nome dos trabalhadores que botaram a mão nele para produzi-lo, quem sabe, talvez um daqueles que recebeu o alimento que a gente levou também foi um dos que botou a mão para construir o caminhão”, Raul faz a reflexão.

 

O significado é esse, é entendermos que tudo o que existe nesse mundo é obra do trabalhador é o trabalhador que produz tudo, que faz tudo e ele é quem tem direito de usufruir de tudo. “A nossa organização entre os trabalhadores tem que servir para isso mesmo, é para enfrentar e derrotar o Capital no Campo que explora os camponeses que vende feijão à 18 reais o kg na cidade, o Capital que explora a mais valia dos trabalhadores na indústria, na fábrica, enfim, esse é o sentido maior da ação”, afirma o dirigente do MPA.

 

Para Raul, “o que o MPA realizou nestes dias tem uma simbologia gigante é uma simbologia maravilhosa, a gente fica muito orgulhoso de fazer parte da construção desse processo e como diz o Paulão é uma Aliança que não tem volta, vamos ter dificuldades, vamos ter percalços, mas o negócio é esse, é botar alimento na mesa povo e alimento saudável, alimento bom”.

 

“Essa experiência para nós do MPA ficará na história, há anos que vínhamos nessa construção que já se consolidou, tem se dado ao longo da toda história do Brasil, que é a Classe Operária e a Classe Camponesa, fazerem essa junção das Classes, de estar uma contribuindo com a outra, nós produzindo nosso alimento saudável sem agrotóxico com um preço bom para os trabalhadores, e eles comprando de nós. É uma via de mão dupla, uns ajudando os outros”, finaliza Josineide.

 

 

Por Comunicação MPA

Fotos: MPA