"Pobreza rural e fome no campo só podem existir em uma sociedade desigual e injusta"

2012-06-19 00:00:00

A Fundação Perseu Abramo, em parceria com o Partido dos Trabalhadores (PT), realizou debates sobre a questão agrária brasileira na Cúpula dos Povos, nesta sexta-feira (15), com o painel O Agrário Brasileiro e A Erradicação da Pobreza com Sustentabilidade Ambiental. 
 
Os temas relacionados às diferentes perspectivas sobre a crise alimentar foi o que norteou a discussão. Para o presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), Renato Maluf, ao analisar a pobreza no campo, destacou o fato da crise dos alimentos ser sistêmica e estar articulada à crise econômica, ambiental e energética. "A pobreza rural e fome no campo só podem existir em uma sociedade desigual e injusta, pois o fato do camponês - que produz alimentos para a sociedade - não ter comida para ele é cruel”.
 
Guilherme Cabral, secretário de extrativismo e desenvolvimento rural sustentável, falou sobre a dificuldade do governo em fortalecer a pauta da Reforma Agrária, mesmo que de alguma forma haja vontade e interesse do governo sobre esse tema. Apontou ainda que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconhece a agroecologia como forma de resolver a pobreza nos assentamentos, mas que “a mudança não acontece só por vontade do governo. As organizações do campo devem levar a questão da agroecologia para os assentamentos e formar a base”.
 
Por outro lado, Leornado Veloso, secretário de agricultura e membro do grupo de estudos em agrobiodiversidade, acredita que a erradicação da pobreza no campo se dá por meio de políticas do governo, mas que este tem interesses diversos e contraditórios. “Por exemplo, a produção de arroz orgânico nos assentamentos do Rio Grande do Sul está sendo ameaçada agora pela liberação do arroz transgênico”.
 
Ao longo do debate, muito se falou sobre a real intenção do governo em trabalhar políticas referentes à Reforma Agrária, já que ele não só continua investindo maciçamente no agronegócio, como também perdoa as dívidas dos grandes latifundiários.
 
Nessa perspectiva, Renato Maluf colocou a necessidade da Reforma Agrária ser reafirmada a todo momento, já que essa é uma eu  não é apropriada pelo governo com facilidade, uma vez que “gera conflitos, por isso é preciso ficar pressionando o governo para que ele a paute”.
 
Educação
 
O tema da educação no campo tampouco fora deixado de lado no debate. Padre João lembrou a importância de se ter um modelo educacional voltado especificamente paro o campo, ainda mais quando se busca alterar o estado das coisas.
 
“As universidades públicas colocaram o saber do campo nas mãos das multinacionais. É preciso criarmos um modelo educacional diferenciado para o campo”. O deputado destacou o fato das maiores expressões de educação no meio rural serem iniciativas das próprias entidades e movimentos, já que pelos meios institucionais essa questão somente retrocedeu. Os últimos dados do censo rural, por exemplo, apontam que nos últimos dez anos foram fechadas mais de 37 mil escolas no campo. 
 
Além disso, ao falar sobre a Agricultura Familiar, Padre João salientou que “está comprovado que onde há incentivo do governo, há produção muito maio", ao considerar que as duas grandes características desse modo de produção está no uso de sementes crioulas e na não utilização de agrotóxicos.
 
17 de junho de 2012
http://mst.org.br/A-pobreza-rural-e-fome-no-campo-so-podem-existir-em-um...