Nota de repúdio da Vía Campesina ES
A Via Campesina ( CPT, MPA, PJR, MST, APTA ) ES, vem através deste, manifestar nossa indignação e nosso repúdio às violações dos Direitos Humanos na ação truculenta da Prefeitura Municipal de Aracruz contra moradores da ocupação em Barra do Riacho.
Membros da coordenação da Via estiveram lá conversando com as famílias sobre os fatos ocorridos.
Os primeiros sinais da truculência são notados logo na entrada do distrito onde dois núcleos de casas foram reduzidos à montanhas de entulhos.
Relatos das agressões, da violência versaram entre tiros de bala de borracha, bombas de gás e máquinas derrubando suas casas com todos os pertences das famílias dentro, pois não lhes permitiram pegar sequer os seus documentos pessoais. Várias pessoas apresentavam feridas pelo corpo, mas a ferida maior e que encontramos em todas elas estava na autoestima, na alma.
Estiveram presentes na mesma ocasião representantes do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, do CDDH, do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, da Igreja, o Deputado Estadual Genivaldo e a Senadora Ana Rita, ambos representando as Comissões dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa e do Senado respectivamente. A senadora foi categórica em afirmar que está do lado do povo e que irá fazer de tudo para que a justiça feita. Eles integraram, junto com mais algumas pessoas, uma comissão para ir falar com o prefeito, mas não temos informações sobre os resultados sobre esta conversa.
Todas as falas foram unânimes em responsabilizar autoridades do governo do estado pela atrocidade uma vez que ele é o mandatário da Polícia Militar, além, é claro, do prefeito municipal.
A violência também lembrou o episódio da aldeia do olho d’água onde policiais federais investiram com igual truculência nos/as companheiros/as indígenas demonstrando que naquele município, o coronelismo de outrora ainda impera, só que agora travestido de empresários. Foi assim com os companheiros Quilombolas do São Domingos no Sapê do Norte e em outras diversas situações no Espírito Santo.
É preciso um basta neste modus operandi da Polícia Militar, é preciso que seja definido outro formato de intervenção que paute pelo respeito, pela negociação conforme lembrou o presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos afirmando que ele mesmo foi impedido de chegar próximo ao local no momento que a barbárie estava acontecendo. Ele afirmou também que este foi um dos pontos de sua conversa com o Governador.
Nós, da Via Campesina também estamos de luto pela companheira Dona Santa que tombou na luta diante da covardia da polícia militar e essa dívida deverá ser cobrada. A ação deverá ser apurada até as últimas conseqüências se é que o nosso governador saberá honrar a enxurrada de votos que teve inclusive daqueles que a sua polícia massacrou naquele lugar.
O mais importante foi perceber que o povo está unido e com vontade de persistir na luta, e conforme lembrou uma das lideranças do movimento, o Valdinei, “mais do que por nós, agora será por Dona Santa” sugerindo que assim que conquistem de volta as suas moradias que a comunidade passe a levar o nome dela. É preciso também que toda sociedade saiba que esta liderança em pleno século XXI está sendo caçada e está sob ameaça em pleno Estado de Direito. Que nada lhe aconteça pois estamos todos/as cientes e solidários.
Fica a pergunta: quantos mais? Que país é este que diz que quer acabar com a pobreza?
Continuaremos solidários a toda luta do povo pela dignidade, justiça e liberdade de expressão.
As famílias estão alojadas numa quadra de esporte toda aberta e estamos no inverno. É preciso que sejam recolhidas doações de roupas, lonas, artigos de higiene pessoal e alimentos.
PÁTRIA LIVRE !!
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA - CPT
MOVIMENTO DOS PEQUENOS AGRICULTORES – MPA
PASTORAL DA JUVENTUDE RURAL – PJR
MOVIMENTO DOS SEM TERRA – MST
ASSOCIAÇÃO DE PROGRAMAS EM TECNOLOGIAS ALTERNATIVAS - APTA