Mulheres em luta contra o Agronegócio, por Reforma Agrária e por Soberania Alimentar

2009-03-18 00:00:00

As mulheres da Via Campesina se mobilizaram na última semana, em torno do Dia Internacional de Lutas das Mulheres, em 8 de março. A luta é a nossa ferramenta histórica para denunciar que o modelo do agronegócio é socialmente injusto e ambientalmente insustentável. Também questionamos o papel do Estado, que no momento de uma crise profunda e estrutural da economia, faz uma opção por socorrer grandes empresas privadas que exploram o nosso país, a biodiversidade, os recursos naturais e demitem trabalhadoras e trabalhadores.

Vivemos um período de nova ofensiva da direita contra os movimentos sociais. Com a jornada, mostramos aos inimigos da Reforma Agrária e dos trabalhadores que vamos continuar enfrentando o agronegócio, colocando um projeto como alternativa para o campo brasileiro.

Enquanto a agricultura empresarial recebe financiamento do governo federal de R$ 65 bilhões, a agricultura familiar, que gera empregos e produz alimentos para o povo, fica com menos de R$ 13 bilhões. Em 2008, o BNDES desembolsou para setores os setores da mineração, agropecuária, celulose e papel cerca de R$ 17 bilhões.

Na hora da crise, esses setores foram os primeiros a jogar nas costas das trabalhadoras e trabalhadores os efeitos da crise econômica: as empresas ligadas ao agronegócio demitiram 134 mil pessoas no país. Foi o segundo setor que mais dispensou funcionários desde setembro, quando eclodiu a crise econômica internacional.

As ações da nossa jornada transformam em luta o sentimento de todos os trabalhadores e trabalhadores da cidade e do campo:

Não vamos pagar pela crise!

Denunciamos a produção em forma de monocultura, e por isso ocupamos plantações de cana e de eucalipto. Essas culturas avançam sobre a produção de alimentos, e produzem efeitos nocivos sobre a biodiversidade. Por isso ocupamos uma usina da Cosan, em São Paulo, uma fazenda da Votorantim, no Rio Grande do Sul, uma fazenda de eucaliptos da Vale, no Maranhão, cortamos pés de cana na Paraíba, e plantamos feijão e milho no lugar. 
Denunciamos as condições precárias de trabalho, que chegam ao cúmulo da exploração escrava, e por isso ocupamos engenhos em Pernambuco e realizamos marcha no Paraná. Denunciamos o projeto de transposição do Rio São Francisco, e ocupamos a Codevasf em Pernambuco.
 
Denunciamos o modelo agroexportador, que prioriza o lucro das grandes empresas. Ocupamos o Portocel, da Aracruz Celulose, no Espírito Santo, questionando a exportação de 96% de sua produção de papel descartável para os consumidores do norte.
 
Questionamos o modelo do agronegócio, e o financiamento do Estado. A aliança entre os grandes proprietários de terra com as empresas transnacionais é legitimada pelo governo, que não prioriza o desenvolvimento da agricultura familiar. Ocupamos em Brasília o Ministério da Agricultura, ocupamos escritórios do Incra no Rio Grande do Norte e na Paraíba. Ocupamos agência do Banco do Brasil em Santa Catarina.
 
Apostamos na formação e no estudo, e realizamos encontros na Bahia, no Ceará e no Pará.
 
Protestamos em frente ao Supremo Tribunal Federal, cujo presidente, Gilmar Mendes, assumiu com convicção o papel de líder da direita no Brasil. Defende seus interesses como latifundiário e os interesses da sua classe social. Não quer Reforma Agrária nem quer ver a terra dividida. Deixamos o compromisso de seguir mobilizadas e não vamos nos curvar aos setores mais reacionários, às empresas transnacionais e ao capital financeiro.

Enquanto a terra, a água e as sementes estiverem ameaçadas, estaremos de prontidão. Somos herdeiras de tantas mulheres e homens que não se submeteram à desigualdade e à injustiça. Temos um projeto para a agricultura brasileira, com base na soberania alimentar, na pequena agricultura e na Reforma Agrária, para atender as necessidades do povo brasileiro.

Nesse momento, nos colocamos ao lado da sociedade brasileira para discutir como enfrentar a crise econômica e construir um projeto popular de desenvolvimento, com justiça social e soberania popular. 
 
Coordenação Nacional do MST