Mulheres da Via Campesina em Jornada Nacional de Luta por todo o Brasil

2009-03-09 00:00:00

Nesta segunda-feira (09/03), mulheres da Via Campesina iniciam uma jornada de lutas, em torno do Dia Internacional da Mulher. Foram realizados protestos, hoje, em Brasília, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná (leia o manifesto da jornada no final desta mensagem).

Com o lema “Mulheres Camponesas em Luta Contra o Agronegócio, pela Reforma Agrária e Soberania Alimentar”, as mulheres da Via Campesina lutam por um projeto que priorize a produção de alimentos para o mercado interno e que não destrua o meio ambiente. Para isso, reivindicam a viabilização de políticas públicas que garantam a soberania alimentar e energética do povo brasileiro em vez do financiamento dos grandes projetos do capital internacional, da especulação de terras e do agronegócio.

Como alternativas ao modelo de desenvolvimento que é aplicado hoje no Brasil, a Via Campesina propõe a agroecologia como projeto produtivo de alimentos saudáveis para o mercado interno, o direito à terra através da Reforma Agrária, os direitos territoriais de povos indígenas e populações quilombolas, o direito ao trabalho em condições dignas e bem remunerado, o direito à previdência social, à socialização do trabalho reprodutivo, dentre outros.

Segue abaixo um balanço da Jornada Nacional nos estados.

ESPÍRITO SANTO

Cerca de 1300 mulheres da Via Campesina do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro ocuparam o Portocel, porto de exportações da empresa Aracruz Celulose, localizado em Barra do Riacho, município de Aracruz, no Espírito Santo. A mobilização faz parte das atividades de luta do 8 de Março, Dia Internacional de Luta das Mulheres.

O objetivo da ação é denunciar a concentração de terras da empresa, que são usadas para plantio de eucalipto para exportação, prejudicando a soberania alimentar; e o repasse de recursos públicos do Estado para essa multinacional, o que tem aumentado ainda mais com crise mundial. A empresa se apropria de recursos públicos, mas não gera nem garante empregos, destrói o meio ambiente e não contribui para o desenvolvimento nacional. Para salvar a Aracruz da falência, o governo repassou, via BNDES – com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) - R$ 2,4 bilhões para o grupo Votorantim comprar ações da Aracruz. Mesmo com os recursos de amparo ao trabalhador, a empresa não garante emprego, e já demitiu mais de 1500 trabalhadores terceirizados. O caso é uma demonstração que os interesses das empresas privadas se sobrepõem aos interesses do povo brasileiro.

BRASÍLIA

Cerca de 800 mulheres da Via Campesina ocupam o prédio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,em Brasília, onde realizam um ato pacífico. As trabalhadoras rurais denunciam o modelo de desenvolvimento imposto pelo governo, empresas transnacionais e bancos para o campo brasileiro, e cobram a implementação de um modelo agrícola baseado na pequena agricultura, através da realização da reforma agrária, e uma política econômica voltada para a geração de empregos para a população.

SÃO PAULO

Cerca de 600 trabalhadoras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra realizaram nesta segunda-feira (09) a ocupação de uma área da Cosan, no município de Barra Bonita, na região de Jaú, a 280 km da capital. O grupo Cosan explora uma área duas vezes maior que o total de hectares destinados para a Reforma Agrária no Estado de São Paulo: 605 mil hectares pelo grupo, contra apenas 300 mil para as 15 mil famílias em assentamentos estaduais e federais.

A unidade da Barra, local da manifestação, é a maior usina de açúcar e etanol do mundo em capacidade de moagem de cana, ou seja, é um símbolo do setor sucroalcooleiro. Segundo estudos do BNDES (2003), esta usina explora mais de 70 mil hectares de terra, dos quais cerca de 18 mil hectares são de propriedade da própria empresa, e os demais são arrendados, abarcando seis municípios da região.

RIO GRANDE DO SUL

Cerca de 700 mulheres organizadas pela Via Campesina ocupam neste momento a Fazenda Ana Paula, de propriedade da Votorantim Celulose e Papel. A ocupação foi iniciada com o corte de eucalitpo na área.

Depois de especular contra a moeda brasileira e ter prejuízos com a crise financeira, a VCP recebeu R$ 6,6 bilhões do governo brasileiro para adquirir a Aracruz Celulose, através da compra de metade da carteira do Banco Votorantim e de um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –BNDES. O custo da compra foi de R$5,6 bilhões.

A VCP havia prometido gerar 30 mil empregos no estado e mesmo recebendo recursos e isenções fiscais dos governos federal, estadual e de municípios, a Aracruz causou a demissão de 1,2 mil trabalhadores em Guaíba, entre trabalhadores temporários e sistemistas, e a VCP, outros 2 mil trabalhadores na metade sul. O agronegócio foi o segundo setor que mais demitiu com a crise financeira. Apenas em dezembro, o agronegócio demitiu 134 mil pessoas em todo país.

PARANÁ

Cerca de 1.000 trabalhadoras da Via Campesina fazem uma marcha pelo centro de Porecatu, no Norte do Paraná. A marcha faz parte da Jornada Nacional de Mulheres da Via Campesina, saiu do Centro Comunitário da Prefeitura até a praça central, onde será realizada uma celebração com a partilha de alimentos da Reforma Agrária.