Mais de 150 organizações sociais e personalidades fazem carta de apoio aos pescadores da Baía de Sepetiba

2009-02-17 00:00:00

As atividades do consórcio empresarial Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), formado pela empresa alemã Thyssen Krupp e Vale, e financiado com R$ 1,48 bilhão do BNDES, são extremamente danosas ao meio ambiente e impactam diretamente a vida dos pescadores da região, impedindo-os de trabalhar. Agora, lideranças dos trabalhadores estão sendo ameaçadas de morte.
 
Representantes de mais de 150 organizações sociais e personalidades nacionais e internacionais entregarão hoje, 17 de fevereiro, às 17h30, ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, uma carta de apoio às cerca de 8 mil famílias de pescadores da região da Baía de Sepetiba que estão sofrendo com os impactos das obras do conglomerado industrial-siderúrgico-portuário ThyssenKrupp CSA Siderúrgica do Atlântico, que instalará a nova siderúrgica da empresa alemã na zona oeste do Rio de Janeiro.
 
Além da situação de descumprimento de leis ambientais, violações de direitos humanos, chineses submetidos a trabalho degradante e mortes na obra, lideranças dos pescadores artesanais da área estão sendo ameaçadas de morte e alguns pescadores estão tendo que sair da região.
 
A carta de apoio aos trabalhadores foi entregue na última sexta-feira nas mãos do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que se comprometeram a investigar as denúncias.
 
Além dos pescadores artesanais, naquela área se encontram diversificadas populações tradicionais, como os quilombolas que residem na Marambaia, índios (próximo a Tarituba e em outras ilhas), caboclos e caiçaras.
 
 
A carta 

Pescador artesanal da Baía de Sepetiba – RJ ameaçado de morte

Desde 2006, quando começou a instalação na Baía de Sepetiba – RJ, o consórcio empresarial Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), formado pela empresa alemã Thyssen Krupp e Vale do Rio Doce e financiado com R$ 1,48 bilhão do BNDES, começou também a luta de resistência dos pescadores artesanais na Baía de Sepetiba. As atividades da empresa são extremamente danosas ao meio ambiente e impactam diretamente a vida dos pescadores da região, impedindo-os de trabalhar. Foi assim que desde de luta de resistência dos pescadores da região e de denúncia dos crimes que a empresa vem se cometendo se fortaleceu. Esses movimentos denunciaram sistematicamente os crimes cometidos contra a legislação brasileira (ambiental e trabalhista), contra os pescadores e trabalhadores que estão dentro do canteiro de obras da empresa. Desde esta época, as organizações de pescadores denunciavam a suspeita de que a empresa vinha atuando na região com o apoio de grupos relacionados às milícias.

Uma das lideranças dos pescadores, que prefere ficar anônimo, vinha sofrendo há mais de um ano ameaças de morte freqüentes por parte de grupos ligados a milícia da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Isso, contudo, em nenhum momento fez ele recuar com relação à defesa dos interesses dos pescadores e às denúncias permanentes feitas contra a empresa TKCSA e suas irregularidades. Citaremos aqui as circunstâncias em que ocorreram as principais ameaças recebidas pelo nosso companheiro.
 
Ainda em 2007 essa liderança e outros pescadores organizaram um protesto num dos portões de entrada da usina. Na ocasião, perceberam a chegada de homens que não estavam usando uniforme e que faziam questão de mostrar que estavam armados e que se diziam “seguranças da empresa”. Esses homens também eram conhecidos na região por trabalharem diretamente ligados às milícias da região e se incumbiram de “acalmar” o protesto com ameaças. Esses “seguranças” tinham –e têm- acesso livre às instalações da empresa e são eles que controlam também o canteiro de obras. Moradores do entorno da planta, comentam de mortes de trabalhadores na obra.

Semana passada, após três telefonemas recebidos de madrugada, dizendo que essa liderança estava com seus dias contados, ocorreu a pior ameaça (05/02/2009). Esse pescador quando andava pela rua em que morava viu um carro parar na sua direção. Ele percebeu que o motorista do carro era um dos piores matadores da região. Esse matador, encarando diretamente essa liderança da pesca, deu ré em seu carro e fez um sinal com a mão de que ele esperasse por algo –com a mão espalmada. Automaticamente, acelerou o carro e foi embora.

A partir daí, essa liderança percebeu que era o momento de parar e se afastar da luta. Depois de ter recebido cara-a-cara uma ameaça de um conhecido matador da região, esse lutador teve que se refugiar. Encontra-se agora em paradeiro desconhecido, mas, sob segurança. Pensava não apenas em sua vida, mas na segurança de seus familiares como de sua esposa e de seus filhos. Saiu do lugar onde morava, abandonou sua casa e todo o seu passado. Outros companheiros de luta desse pescador estão atualmente correndo risco.

Tendo em vista o relato que aqui fazemos, exigimos que as denúncias permanentes que são feitas na região afetada pela empresa de que haveria uma vinculação da TKCSA com a milícia da Zona Oeste sejam investigadas pelo Ministério Público Federal e Estadual; pelos governos estadual e federal; bem como pela polícia federal.

Informações para a imprensa:

PACS - Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul
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