Ciranda: formação para as crianças e construção de novas relações de gênero
É cada vez mais comum que em encontros dos movimentos sociais organize-se um espaço chamado ciranda infantil, para acolher as crianças e assegurar a participação das mães nos espaços de formação política e demais atividades da luta. Geralmente, são outras mulheres, educadoras, que se envolvem no trabalho de cuidar dos filhos e filhas dos militantes.
No entanto, no Encontro Nacional Mulheres em Luta por Soberania Alimentar e Energética existe um diferencial: os homens são os educadores infantis. Todos os dias, pelo menos 15 crianças participam da ciranda. Para Amarildo de Souza Horácio, coordenador do espaço, a questão de gênero deve estar no centro das discussões. “As crianças dos movimentos são nossas, de responsabilidade tanto dos homens como das mulheres, e neste momento em que elas estão discutindo, nada melhor do que, como exemplo, nós homens estejamos aqui cuidando seus filhos.”
A ciranda infantil nasce da necessidade prática de participação das mulheres, mas que no decorrer do tempo e com a experiência dos movimentos, este espaço se ampliou para a formação das crianças. “Este é o espaço de militância das crianças, que se envolvem em atividades pedagógicas e fortalecem o sentimento de pertença aos movimentos desde pequenos”, afirma Amarildo. “Aqui eu ajudo as outras crianças, brinco, desenho e conheço outros sem-terrinha”, conta Inaê Cotta Januário, de 7 anos.
Quanto à confiança das mães em deixar seus filhos e filhas, isso avança na medida em que elas conhecem a ciranda e o que ela se propõe. O que Amarildo aponta como desafio é a formação dos educadores e educadoras infantis. No entanto, finaliza, “é importante resguardar este espaço para que os filhos não sejam mais empecilho para a não participação das mulheres”.