Energia para quê e para quem?

2007-10-19 00:00:00

Com esta pergunta central, o Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB, juntamente com outros movimentos do campo e da cidade, tem buscado estudar, refletir e elaborar ações articuladas que reafirmam a energia como um bem público essencial: \"água e energia não são mercadorias\"

Nesta perspectiva, o MAB realizou entre 01 e 13 de outubro a etapa preparatória do curso Energia, Desenvolvimento e Soberania, no ex-Instituto Cajamar/SP

O curso, com duração de dois anos e meio e início previsto para fevereiro/2008, além de militantes do MAB, MST, MMC e de outros movimentos da Via Campesina, contará com a participação de sindicalistas, especialistas da área, estudantes, e assessores ligados a universidades, tais como USP e UNICAMP

Nessa etapa preparatória do curso foi realizado o seminário Latino-americano \"Panorama Energético\" (dias 05 e 06 de outubro), no qual foram abordados vários temas ligados a energia, mundo do trabalho, meio ambiente e campesinato com debatedores do Brasil, El Salvador, Nicarágua, Argentina, Guatemala e de Cuba

O Sinergia esteve representado no seminário com os dirigentes Dinovaldo Gilioli (um dos debatedores) e Sigval Schaitel

Com o objetivo de partilhar as reflexões e conclusões do seminário publicamos uma síntese dos temas abordados:

Constatações do debate

- Há uma forte hegemonia do capital no setor de energia nos países da América Latina; as estruturas do Estado estão colocadas a serviço desse capital, apesar do discurso social; os setores que dominam a área de energia estão ligados ao capital financeiro, ao mínero-metalúrgico e ao agro-negócio

Esses se consolidam em vários países latino-americanos através da implantação de Áreas de Livre Comércio, da garantia de infra-estrutura e da militarização

- A crise do petróleo assevera o processo ofensivo nas diversas fontes de energia no mundo, através de grandes obras/aparelho industrial em projetos hídricos (rio Madeira), combustíveis líquidos (etanol), transformando energia em mercadoria (fonte direta de lucro)

- O modelo em toda a América Latina é o mesmo, e as empresas exploradoras são as mesmas

O processo de privatização se deu através de legislações que foram se moldando aos projetos dessas grandes empresas, especialmente internacionais, a partir de orientações de organismos financeiros internacionais

Os preços mais altos e fontes mais caras de energia são para o povo e os mais baixos para o setor eletrointensivo pra fim de utilização capitalista (exportação de alumínio, por exemplo)

- O discurso de escassez de energia é uma forma de pressão sobre estados nacionais

É preciso questionar: escassez para quem? Para que modelo de sociedade? Os que questionam esse modelo são atacados

Muita gente na América Latina não tem energia elétrica

Muitos dos que têm não conseguem pagá-la

Energia Elétrica e o Mundo do Trabalho

Com relação ao mundo do trabalho, o atual Modelo Energético amplia o nível de desemprego, aumenta o grau de exploração: menos trabalhadores produzindo mais lucros para grandes grupos; diminui ou estabiliza o quadro próprio das empresas, aumenta o número de trabalhadores terceirizados, provocando o agravamento de acidentes, levando a mutilações e mortes de muitas pessoas

Há de um lado o sentimento de culpa para os demitidos e de cooptação de alguns que ficam e ganham mais, complicando a organização dos trabalhadores

Organização e Resistência

Para tratar desses e outros problemas é preciso continuar resistindo: a esquerda não tem um projeto claro que lhe permita um enfrentamento maior

O que existe são meras lutas corporativas, lutas regionalizadas e institucionalizadas (por dentro do aparelho do estado burguês), forte política de cooptação/repressão e uma população desinformada

O conhecimento sobre o tema energia deve ser aprofundado, massificando a sua compreensão, formulando proposta de um novo projeto que atenda realmente ao interesse do povo e da nação e organizar lutas/ações de caráter nacional e internacional buscando maior solidariedade entre os trabalhadores e povos

Há que se exigir a reparação completa dos danos dos atingidos por barragens, lutar incessantemente contra a implantação de empresas eletrointensivas com fins capitalistas (nacionais e multinacionais); contra a exportação de energia para grandes empresas ganharem mais dinheiro; contra toda forma de privatização e pela revisão do processo nas empresas que foram privatizadas; contra o Estado burguês e suas leis burguesas

Essa luta deve ser feita com todos os povos que buscam o socialismo: por um alto desenvolvimento humano e sustentabilidade ambiental