Aqui tem mulheres lésbicas, feministas e revolucionárias
Foto: Geilane Oliveira
A visibilidade Lésbica foi celebrada pelas participantes do 9º Encontro Internacional da Marcha Mundial das Mulheres na Tenda Regina Estela que, além de lésbicas, eram mulheres bissexuais, heterossexuais, jovens, mulheres sindicalistas, camponesas e estudantes. Regina Estela foi uma militante feminista, lésbica e de esquerda que teve uma importante atuação no movimento feminista em São Paulo desde a década de 80 e que faleceu em 2003. Assim, além da homenagem a Regina Stella, procurou-se recuperar a história daquelas lutadoras sociais engajadas em lutas por transformações sociais.
No dia 29 de agosto durante o 9º. Encontro Internacional da Marcha Mundial das Mulheres foi realizado o painel Visibilidades Lésbica com a participação de Larissa Passos, diretora LGBT da UNE, Márcia Balades, articuladora estadual (SP) da Liga Brasileira de Lésbicas e Cinthia Abreu, militante da Marcha Mundial de Mulheres – SP.
A luta por visibilidade lésbicas e bissexuais nos sindicatos, movimento sociais e estudantis, apontaram as painelistas e participantes, vai além do reconhecimento, implica em avançar na compreensão de que a discussão da sexualidade não deve ser relegada ao foro privado. Lembrando que o pessoal é político, elas afirmaram que ainda é preciso avançar sobre o tema da sexualidade nos diversos movimentos, e que a transformação da radical da sociedade passa fundamentalmente pela transformação das relações sociais de sexo, para qual faz-se necessário a superação do modelo de sexualidade baseado na heterossexualidade obrigatória orientada para reprodução e para satisfação dos desejos dos homens.
A denúncia sobre a falta de preparo dos profissionais da saúde para lidar com a saúde da mulher lésbica também foi abordado pelas participantes do painel. A concepção da sexualidade das mulheres para fins reprodutivos muito presente entre os profissionais de saúde foi diversas vezes mencionadas por várias participantes, o que aponta, em termos concretos, para a necessidade, por exemplo, garantir a formação adequada de profissionais da saúde, incluindo nos currículos escolares temas como a Saúde da Mulher Lésbica e uma ampliação da visão de sexualidade unicamente para reprodução.
Além disso, a garantia da Laicidade do Estado também foi abordada pelas participantes que lembraram as ameaças de retrocessos, tais como a Cura Gay e o Estatuto do Nascituro, encabeçadas pelos setores conservadores da sociedade que também são aliados também do grande capital. Esses elementos, afirmam as participantes levam também a discussão da Reforma Política.
A violência contras as mulheres lésbicas – a lesbofobia – também foi denunciado pelas presentes, que ao compartilharem suas próprias histórias puderam identificar o papel da heteronormatividade na conformação de nossos corpos e vidas e a violência como forma de controle da sexualidade das mulheres em suas várias facetas; ela é a agressão física e verbal que sofremos nas ruas quando ousamos demonstrar nosso afeto em público, ou quando por romper com os padrões de feminilidade somos reconhecidas como “sapatão” e por isso xingadas e/ou agredidas. Ela também está presente na fetichização do sexo entre mulheres, “sonho de consumo” de muitos homens, intensamente explorado pela indústria da pornografia, o que mostra que a discussão sobre mercantilização do corpo e da vida das mulheres, portanto, do papel do mercado como organizador das nossas vidas é central para as mulheres lésbicas e bissexuais.
A compreensão de que a luta das mulheres lésbicas não é uma luta separada das mulheres heterossexuais foi diversas vezes apontadas por painelistas e demais presentes; a heterossexualidade obrigatória e a redução da sexualidade das mulheres a reprodução e a satisfação dos homens são elementos fundamentais do patriarcado que junto com a divisão sexual do trabalho estruturam a opressão das mulheres dentro do sistema capitalista que é patriarcal e racista.
Algumas das presentes ressaltaram, nesse sentido, a necessidade afirmar uma perspectiva de transformação radical da sociedade, construindo críticas, resistências e alternativas não só ao mercado que organiza nossas vidas, mas também aos discursos e conteúdos liberais que hoje balizam a atuação de setores do movimento LGBT e feminista. Nesse sentido, reafirmou-se também o compromisso com a construção e um feminismo popular onde caibam todas as mulheres.
http://encontrommm.wordpress.com/2013/08/30/aqui-tem-mulheres-lesbicas-feministas-e-revolucionarias/