Trabalhadores de Cuiabá (MT) reagem contra a crise
Cuiabá (MT).- Cerca de 200 militantes de todas as centrais sindicais registradas, entidades de classe e movimentos sociais fizeram um ato público na manhã de hoje (30), na praça Alencastro, Centro de Cuiabá. Esta é uma reação conjunta dos trabalhadores, que afirmam: nós não vão pagar pela crise do capital!
Parte dos professores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) não deu aulas hoje, seguindo a orientação da Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat), conforme deliberado em Assembléia Geral. “Nós precisamos mostrar à sociedade e aos colegas professores que o acordo assinado pelo governo federal no ano passado não significou aumento para nós. Houve apenas uma readequação de valores: tira de um lado e coloca em outro. Este é um ponto. E também estamos aqui porque a Adufmat é historicamente solidária aos movimentos sociais e à luta em defesa do emprego, da cidadania e da renda dos trabalhadores”, afirma o presidente da Adufmat, Carlinhos Eilert. Sobre a paralisação parcial na UFMT, ele lamenta. “Infelizmente nem todos de nós tem consciência social”.
Para o professor Dorival Gonçalves Júnior, doutor em Energia pela USP, professor da UFMT, “o momento é de educação, principalmente de explicar essa crise mundial e os impactos que ela vai trazer para a classe trabalhadora”. Ele esteve no ato e considera “lamentável” a ausência dos professores da UFMT de uma forma mais ampla. “É preocupante verificar que a universidade está apenas reproduzindo todo este status quo, que ocasiona essa crise, sem a mínima reflexão”. Para ele, este assunto deve estar dentro de sala de aula, já que o momento é de “destruição”. E certamente isso atinge diretamente à classe trabalhadora. “Não discutir isso é muito grave”.
A estudante Luana Sousa, da diretoria do DCE-UFMT, em sua fala, parabenizou professores da UFMT presentes. “Que bom que entenderam a urgência desse ato”, disse. Segundo Eilert, talvez a crise não coloque em risco a estabilidade dos servidores, como os professores da UFMT. “Mas com relação às novas contratações, acredito que deve haver uma demora nos concursos. Não sabemos se haverá recursos para os novos prédios, porque o governo está cortando verbas, como acaba de cortar R$ 21 bilhões. Então, não temos certeza sobre o que vai acontecer, embora o governo diga que com a educação não vai acontecer nada”.
O governo federal, para o professor Juacy da Silva, diretor de Imprensa da Adufmat, assumiu o lado dos patrões e está exigindo que os trabalhadores colaborem pelo fim da crise. “Mas quando o empresariado tem lucro ele não fala para os patrões distribuírem esse lucro”, critica.
Sobre a passividade dos trabalhadores brasileiros diante da exploração, compartilham da mesma opinião o coordenador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Antonio Cavalcante Filho, o “Ceará”, e o presidente do Sindicato dos Servidores da Justiça Federal em Mato Grosso (Sindjuf-MT), Pedro Aparecido. “O governo popular do PT cooptou os grandes refletores dos movimentos de trabalhadores”, rechaça Pedro. Para Ceará, “isso engessou as lutas populares”.
Nas escolas, todos estão antenados para a questão da crise, diz a presidente da Sub-sede Cuiabá do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público (Sintep-Cuiabá), Helena Maria Bortolo. “No executivo municipal, o prefeito Wilson Santos tem colocado essa fala sobre crise como forma de pressão”.
Sobre o ato conjunto, a presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil em Mato Grosso (CTB-MT) e do Sindicato dos Trabalhadores na Educação de Mato Grosso (Sintrae-MT), Nara Teixeira, avalia que “é uma grande vitória estarmos todos juntos, todas as centrais, MST e estudantes, além de outros movimentos sociais. Temos lutas em comum que nos unem”.
As principais bandeiras levadas pelos trabalhadores, no ato de hoje, foram: contra demissões em massa, pela redução da jornada de trabalho sem redução de salários e direitos, por saúde, moradia e educação, em defesa dos serviços públicos e dos servidores e pelo direito irrestrito de greve. A luta pela manutenção do passe-livre, foi defendida pelos estudantes. “Muitos de nós também são trabalhadores e o passe-livre é impactante no orçamento das famílias. Também estamos aqui contra o corte de verbas na educação”, explica Daiane Renner, da diretoria do DCE-UFMT.
Quanto às demissões, Lu Freitas, da coordenação do MST-MT, alerta que elas já vitimaram mais de 100 mil trabalhadores no país, que foram para casa sem emprego. E lamenta: “Para o capital, o trabalhador é um ser descartável”. Segundo ela, “o trabalhador está em crise desde o início do sistema capitalista. E ninguém vem em socorro deles. Por que agora tem gente que tem dinheiro perdendo o Estado burguês é acionado e dá resposta rápidas. Então o discurso agora não é de proteção ao trabalhador, mas ao capital”.
A união de forças na luta, na avaliação do presidente da Central Única dos Trabalhadores em Mato Grosso (CUT-MT), Júlio Vianna, é sempre possível. “Entre os principais princípios da CUT está a unidade na luta. Nossos adversários não podem estar entre esses com quem comungamos muitos princípios. Portanto sempre será oportuno a gente construir a unidade na luta, sempre que necessário, sempre que a conjuntura exigir isso”.
O jornalista Nivaldo Alvarenga, da TV Universitária, estava no ato, fazendo a cobertura. “Jornalistas têm papel fundamental na história do Brasil. Principalmente na cobertura de atos, como este, que busquem garantir os direitos dos trabalhadores, mas nem sempre podem ter essa postura de luta, porque o patrão já corta e demite. Como aconteceu com o jornalista Rodrigo Viana, da Rede Globo, que foi demitido por contrariar os interesses do Grupo”. Por orientação do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso (Sindjor-MT), a categoria trabalhou hoje com uma fita preta na camisa, em sinal de luto, contra baixos salários, atrasos salariais, excesso de jornal e o risco da desregulamentação da profissão.
A estudante Míriam Meneses, que está fazendo mestrado em Geopolítica, acha que este é “o momento em que o povo tem que se unir, falar, porque estamos assistindo uma grande bancarrota do sistema, uma exclusão cada vez maior e mais perigosa, até mesmo para aquele que exclui”. Segundo ela, o medo de reagir, que a população tem, se dá porque “o sistema já impregnou em nós: ou você se adequa ou está fora. Existe um grande pacto político, tácito, de concordância com o sistema para você poder sobreviver”.
Para o presidente do Sindsep-MT, Carlos Alberto de Almeida, um ato, como o de hoje, “não ocorre só em função de uma categoria, mas em favor dos trabalhadores em geral”.
Na avaliação de Inácio Werner, representante do Centro Burnier Fé e Justiça e das Assembléias Populares, “a crise não é de agora e os trabalhadores vêm tentando uma reação”. No entanto, na visão dele, para derrotar o capital, é preciso unir muito mais forças.