Boletim eletrônico da SOF
Mulheres no Fórum Social Mundial 2003
Podemos dizer que o início da terceira edição do Fórum Social Mundial se deu nas ruas da capital gaúcha, no dia 23 de janeiro, com mais de cem mil pessoas marchando pela paz e autodeterminação dos povos e mostrou que a luta contra a guerra e a política neoliberal não é uma iniciativa isolada. As ruas de Porto Alegre receberam milhares de pessoas, misturando palavras de ordem em diferentes vozes e idiomas num coro afinado de ideais e valores.
A Marcha Mundial das Mulheres abria a passeata com suas coloridas bonecas de 10 metros de altura - confeccionadas em Caicó (RN) - seguidas dos estandartes da Marcha e dos painéis costurados pelas próprias participantes, que traziam figuras femininas formadas com a junção de retalhos de mãos entrelaçadas. O Centro Feminista 8 de Março, de Mossoró, levou à passeata o batuque nordestino da percussão em instrumentos de Pau e Lata e se uniu às participantes de todos os continentes fortalecendo o grito: " A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadoria!".
O bloco da Marcha empolgou a abertura da passeata por sua criatividade visual e musical, onde se via a diversidade de experiências das presentes. Algumas já antigas militantes e outras mais recentes. No trajeto da passeata foi possível vivenciar o crescimento da adesão ao feminismo. E foi surpreendente ver o conjunto das participantes assumir a liderança do bloco, tomando iniciativa de manter as palavras de ordem, mostrando que é na luta e na mobilização que se constrói a rebeldia, a utopia, a transformação.
A Marcha apresentou aos participantes do FSM 2003 uma série de eventos e atividades, contando com as presenças de latino-americanas, canadenses, européia, africanas, do Oriente Médio, além das brasileiras vindas de diversos Estados.
Na programação constaram temas sobre a mercantilização dos corpos das mulheres, nova geração política e feminismo, acesso à educação, saúde, trabalho e alternativas econômicas. Oficinas culturais e um mural pintado com a participação de mulheres de diversas nacionalidades também integraram as atividades da Marcha.
A opinião geral entre as mulheres da Marcha, que estiveram reunidas após o encerramento do FSM em reunião de dois dias, é que a organização das atividades foi muito boa, geraram grande visibilidade e ofereceram discussões importantes tanto para a organização das mulheres como de apresentação ao conjunto dos participantes do Fórum.
Alternativas feministas e mercantilização do corpo da mulher
Discutir propostas de novas alternativas de inserção da mulheres no mercado de trabalho sob uma ótica feminista foi tema de um dos seminários da Marcha. Foram apresentados depoimentos sobre a autodeterminação das mulheres na construção de sua cidadania e liberdade. O debate em torno do reflexo de mercados comuns - como a Alca - no trabalho das mulheres também foi colocada em evidência em relação às mulheres que comercializam produtos artesanais e a ameaça da biopirataria, na qual as fórmulas populares seriam patenteadas com o selo norte-americano.
Na oficina sobre a mercantilização do corpo das mulheres foram discutidas os diferentes campos em que a mulher se torna objeto de comércio. O turismo sexual e a exploração do corpo da mulher pela mídia tiveram maior enfoque nas discussões.
No acampamento da juventude as atividades da Marcha Mundial das Mulheres serviram como fomento para atividades e manifestações ocorridas naquele espaço. Na oficina de Pixação Crítica e Libertação de Cartazes Publicitários, as jovens expressaram seu repúdio ao padrão de beleza imposto pela mídia através da grafitagem. Uma passeata com o mote "Somos Mulheres Não Mercadorias" entrou no acampamento da juventude, onde mais de 25 mil pessoas estiveram acampadas durante o FSM. A atividade, surgida espontaneamente entre as jovens que participaram da oficina, foi crescendo com as adesões de outras mulheres e os cartazes produzidos foram colocados em locais estratégicos dentro da Cidade das Cidades.
Marcha propõe ações até 2005
O FSM, nesta terceira edição, conseguiu avançar em suas estratégias propositivas, indo além do campo da análise e reflexão. Em seu seminário de construção das ações para 2005, a Marcha Mundial das Mulheres lançou duas propostas que deverão ser discutidas durante seu Encontro Internacional, que será realizado em março de 2003, na Índia.
Dentre as idéias, estão a construção coletiva de uma Carta Feminista para a Humanidade baseada nos Direitos Humanos Universais e a produção de uma colcha de retalhos com os símbolos das entidades e organismos regionais responsáveis pela Marcha. " A nossa idéia é organizar caravanas itinerantes e visitar cidades da região, agregando símbolos à colcha e, assim, contribuindo no processo de construção da Marcha no Nordeste", disse Conceição Dantas, coordenadora do Centro Feminista 8 de Março.
Movimentos sociais mundiais em rede
A assembléia dos Movimentos Sociais foi realizada no FSM no dia 24 de janeiro, e esteve pautada, principalmente, pela demanda generalizada por esforços que permitam propostas concretas de articulação e planos de luta contra a globalização e o neoliberalismo. Estiveram presentes diversas organizações sociais dos cinco continentes.
O texto da convocatória dos movimentos sociais reafirma o desejo e necessidade de “construir uma rede articulando as análises e compromissos para nossas mobilizações. Suas responsabilidades seriam enriquecer e alimentar o processo, promover sua diversidade e assumir o grau necessário de coordenação. Os objetivos da rede serão melhorar o engajamento dos movimentos ao redor do mundo num debate político mais profundo para facilitar a ação comum e reforçar a iniciativa dos que lutam pelos interesses sociais”.
A convocatória da Rede inclui o 8 de março entre as datas de mobilizações globais. Isso nos desafia a criar novas formas de organizar esta jornada de luta, interpelando os movimentos sociais que também afirmaram estar “solidários às mulheres que lutam em todo o mundo contra a violência social e patriarcal” a continuar avançando neste sentido porque sabemos que as verdadeiras formas da solidariedade entre homens e mulheres ainda serão inventadas.
Passeata contra o Império e contra a Alca
No dia 27 de janeiro, as já conhecidas bonecas gigantes e os estandartes coloridos grafados com expressões como irreverência, autonomia, respeito e transformação do bloco feminista da Marcha Mundial das Mulheres saíram às ruas apresentando a Convocatória dos Movimentos Sociais resultantes das assembléias realizadas no Fórum Social Mundial.
A passeata selou as atividades da Marcha no Fórum e foi um momento em que os protestos contra a guerra foram expressados com veemência. Foi o primeiro passo na direção de celebrar o dia 15 de fevereiro como o Dia Mundial de Luta Contra a Guerra, com manifestações que irão acontecer em diversas partes do mundo.
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Agenda
13 de fevereiro – reunião preparatória ao 8 de Março
Às 17 horas, no CIM, Praça Roosevelt, 605 (ao lado da Igreja da Consolação). Reunião de preparação para os eventos e atividades do Dia Internacional da Mulher. Entre os eixos para este ano estão a luta contra a guerra e a Alca, mercantilização do corpo das mulheres e salário mínimo.
15 de fevereiro – todas contra a guerra
Neste sábado, mulheres e homens do mundo todo vão sair às ruas de suas cidades para dizer não ao ataque militar de Bush e seus aliados contra o Iraque: para dizer não à guerra global permanente que os interesses dos poderosos declaram contra a vida e os direitos de toda a humanidade. A força de nossa união pode parar a guerra. Mobilize-se em São Paulo: ato contra a guerra – sábado, 15 de fevereiro, às 16 horas, na avenida Paulista, Vão Livre do Masp.
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Expediente
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