Via Campesina participa de protestos por todo o país
As mulheres da Via Campesina seguem com as manifestações em torno do Dia Internacional das Mulheres, nesta quinta-feira (08/03), para denunciar os efeitos negativos do agronegócio, o poder das transnacionais da agricultura e propor o modelo de produção da agricultura familiar, com base na soberania alimentar.
Na semana das mulheres, a Via Campesina realizou atividades e protestos em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Sul, Paraíba, Sergipe e Ceará. Hoje já aconteceram atos em Paraná, Maranhão, Piauí, Espírito Santo, Brasília e Mato Grosso.
No Paraná, mais de 700 mulheres do MST realizam vigília em frente a empresa brasileira de produtos agroquímicos Nortox no Paraná, em protesto ao avanço do agronegócio, a produção de transgênicos e agrotóxicos.
As mulheres querem chamar a atenção da sociedade para a necessidade de uma agricultura que produza alimentos saudáveis, sem agrotóxicos e transgênicos. Além de alertar para os prejuízos que empresas como a Nortox causam a saúde e ao meio ambiente.
A empresa, produtora de herbicidas e inseticidas, é umas das principais responsáveis pela produção do glifosato pós-emergente, usado na cultura da soja transgênica, que envenena os alimentos consumidos pela população e contamina o solo e os lençóis freáticos da região, provocando a destruição da natureza e da biodiversidade.
A empresa está localizada no município de Arapongas, próximo ao distrito de Aricanduva, onde vivem aproximadamente 2.000 mil pessoas, que permanentemente estão expostas à contaminação dos seus produtos químicos.
No Maranhão, diversas organizações de mulheres do campo e da cidade se unificaram no para lutar contra a expansão do agronegócio e contra a presença de Bush no Brasil. Reivindicam também políticas públicas específicas para as mulheres, nas áreas de saúde, educação e segurança.
Mais de 500 pessoas protestaram em frente à sede do governo estadual, em. Em audiência com o governador Jackson Lago (PDT), as mulheres entregaram carta com reivindicações dos movimentos. No final do ato, o governador colocou o boné do MST e ajudou a enforcar um boneco de Bush.
"O agronegócio está avançando bruscamente no Maranhão. Hoje a maior parte das lavouras é de eucalipto, soja e cana-de-açúcar. A presença de Bush no nosso país tem um valor simbólico muito grande, já que ele é o grande representante do neoliberalismo", afirmou Maria Divina Lopes, dirigente estadual do MST.
Pela manhã, as mulheres fizeram uma grande marcha pela cidade de São Luiz. Partiram da Praça Deodoro e seguiram até o Palácio da Justiça, onde fizeram o enforcamento do boneco do Bush.
No Piauí, um ato unificado de entidades da cidade e do campo, como a Via Campesina, reuniu 500 mulheres, que fizeram uma marcha pela região central de Teresina.
Depois de passar pela Assembléia Legislativa, as manifestantes ocuparam o palácio do governo do Estado, onde serão recebidas pelo governador Wellington Dias (PT).
Na audiência, as mulheres dos diversos setores vão apresentar uma pauta de reivindicação que trata de temas como educação, saúde, previdência e Reforma Agrária.
No Espírito Santo, as trabalhadoras rurais da Via Campesina fecharam a BR-101, no trevo Maria Amélia, município de São Mateus, em protesto contra a empresa Aracruz Celulose, que representa o agronegócio no estado.
Cerca de 500 pessoas participam da manifestação, que pediu a demarcação das terras indígenas e quilombolas no estado. As mulheres também protestaram contra o atual modelo de investimentos públicos, que prioriza o agronegócio em detrimento da pequena agricultura.
Em Brasília, a Via Campesina realizou uma marcha com 400 mulheres até a Embaixada dos Estados Unidos, onde aconteceu ato contra o presidente Bush. Pela manhã, o MMC (Movimento de Mulheres Camponesas) lançou a Campanha Nacional pela Produção de Alimentos Saudáveis, que tem como lema "Produzir alimentos saudáveis, cuidar da Vida e da Natureza".
O objetivo da campanha é explicar à sociedade que a agricultura camponesa enfrenta, supera e negar o modelo do agronegócio, sustando no capitalismo e patriarcado no campo.
Para Justina Cima, da coordenação nacional do MMC, a campanha tem uma importância fundamental diante da questão do aquecimento global, da destruição da natureza, da contaminação da terra, da água e do ar.
"A campanha tem uma importância muito grande porque, a partir das experiências concretas das mulheres que estão organizadas em movimento, queremos mostrar todo o potencial que as mulheres têm nos pequenos roçados, na horta, além de tudo que contribui na produção de modo geral", explica.
No Mato Grosso, mais 200 mulheres da Via Campesina realizaram uma marcha de 8 quilômetros da sede do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), que está ocupado desde fevereiro, até o centro de Cuiabá, pela manhã.
Um ato político reuniu os movimentos do campo e da cidade, sindicatos de professores e bancários, pastorais e a senadora Serys Shessarenko (PT-MT), em protesto contra a política de guerra do presidente George W. Bush, que chega hoje ao país.
O MST ocupa a superintendência do Incra em Cuiabá desde 25 de fevereiro para cobrar a agilização do processo de Reforma Agrária no Mato Grosso. Em 2006, estava previsto o assentamento de 1.000 famílias do movimento. Receberam o lote apenas 38 famílias. Em todo o estado, há 3.600 famílias vivendo em acampamento à beira de estrada.
"A Reforma Agrária está parada no Mato Grosso", diz Itelvina. Além de assentamentos, o MST cobra projetos para infra-estrutura, habitação e crédito para a produção agrícola dos assentados.