Mulher precisa resgatar sentido feminino, diz pedagoga
Criar uma nova relação de gênero baseada na parceria entre homens e
mulheres. Na avaliação da pedagoga Íris Boff, este é o principal desafio
para a sociedade atual e, principalmente, para as organizações sociais,
que vislumbram a transformação do mundo.
Na manhã desta segunda-feira (27/03), durante o Encontro das Mulheres do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), em Curitiba, Íris
colocou em xeque a relação convencional entre homens e mulheres. Para
ela, mudanças somente acontecerão a partir de uma postura mais atuante da
figura feminina frente à cultura machista, que não respeita as diferenças
e discrimina iniciativas.
Íris acredita que o primeiro passo a ser dado pela mulher para a
construção de uma nova relação é o resgate do "feminino". Antes de exigir
qualquer mudança do homem, é necessário que a mulher transforme a si
própria, derrubando tabus culturais e sexuais que afligem há muitos anos.
"O 'feminino' está associado à espiritualidade e à subjetividade. Engloba
desde as características físicas e a fertilidade da mulher, até as suas
vontades e o modo de como encara e como se relaciona com o mundo e as
pessoas. Está na hora de ela assumir quem é e o que quer, sem medo ou
vergonha", argumenta.
Esse processo, segundo a pedagoga, está para ser construído, até mesmo
dentro dos movimentos sociais. A discriminação contra a mulher já é algo
tão intrínseco a sua cultura, que ela se auto-reprime.
Nesse sentido, quando ocupa um espaço nas organizações, as mulheres
acabam se adaptando ao modo de ser masculino, absorverndo seus vícios e,
muitas vezes, o seu machismo. "A mulher acaba moldando o seu jeito ao do
homem, para ser aceita no grupo. Isso é muito perigoso, pois a mulher
perde a sua identidade e acaba reproduzindo características e ações
negativas, reafirmando ainda mais sua pré-condição de subordinada",
reflete.
Alternativa
Íris Boff defende que a parceria entre o homem e mulher é o principal
elemento que constitui a nova relação de gênero. No entanto, é necessário
que o homem se feminilize. "Quando falamos que o homem deve se
feminilizar, muitos dizem, com preconceito, que isso é coisa de 'gay'. É
necessário que ele troque de papel com a mulher, enxergue o mundo pela
ótica dela. Somente assim conseguirá se aproximar da mulher", explica.
Um dos elementos a ser alterado é a inteligência masculina, que é
estritamente racional. "A inteligência feminina é chamada de 'intuição'
para parecer algo menor. Mas é a inteligência mais completa que existe,
porque também é formada pela sensibilidade. Afinal, todos nós temos
sentimentos", defende.
Nesse sentido, Íris deixa um recado às pessoas mais conservadoras. "As
gerações femininas qu e estão vindo são cada vez mais evoluídas
espiritualmente. Mas os homens não estão acompanhando essas mudanças, o
que pode gerar um choque ainda maior nas relações".