O novo muro da vergonha
Movimentos sociais planejam mobilização para impedir a construção de
um muro duplo na fronteira dos Estados Unidos com o México.
Como parte de um pacote de medidas para conter a entrada de imigrantes
ilegais, congressistas estadunidenses apresentaram o projeto conhecido
como "iniciativa Sensenbrenner", que prevê a construção de um muro
duplo, de mais de mil quilômetros, na fronteira entre o México e os
Estados Unidos. Essas medidas, que ainda devem ser aprovadas pelo
Senado e pela Casa Branca, geraram protestos em todo o mundo. No Fórum
Social Mundial, foi articulada uma mobilização para destruir
simbolicamente esse possível monumento ao terror imperialista.
No dia 28 de janeiro, em Caracas, entidades ligadas à defesa dos
Direitos Humanos anunciaram a realização de uma marcha que terá início
no dia 21 de março, em Chiapas, no México, e atravessará o país até
chegar a Cidade Juarez, na divisa com os EUA. Ali acontecerá um ato de
desobediência civil, no qual manifestantes cruzarão o limite entre os
dois países para mostrar indignação em relação ao tratamento que
recebem os imigrantes nos EUA.
De acordo com Michael Guerrero, coordenador nos EUA da Grassroots
Global Justice, junto ao ato contra o muro acontecerá um Fórum Social
Fronteiriço, cujo objetivo será preparar uma plataforma para as
organizações ligadas às questões que envolvem imigrantes. Além disso,
vão começar os debates para o Fórum Social dos Estados Unidos,
previsto para junho, em Atlanta, Georgia.
Edur Arregui, da Liga Magonista 7 de janeiro, entidade que está
articulando o ato entre organizações estadunidenses, mexicanas e
canadenses, afirmou que já foram gastos cerca de três bilhões de
dólares na construção de partes do muro e que, caso o novo projeto
seja aprovado pelo congresso estadunidense, os custos podem chegar a
20 bilhões de dólares. "O muro é simplesmente um monumento para
intimidar os imigrantes, pois não aumenta a segurança. É para dizer
que eles não são bem-vindos. Serve para fazer com que os imigrantes
entrem no país sem dignidade".
Ele acredita que além de ser um símbolo do poder imperialista dos EUA,
o muro deve gerar na maioria dos estadunidenses a sensação de estar em
uma fortaleza sitiada. "O muro é um elemento-chave de controle da
sociedade estadunidense. Serve para isolar a sociedade, para que o
povo não veja outros povos, para que não se identifique e não sinta
empatia por nenhuma outra nação."
Cidade Juarez
A cidade onde vai acontecer a Intifada mexicana tem 1,7 milhão de
habitantes e retrata as conseqüências das políticas antiimigrantes dos
Estados Unidos. A maioria da população de Cidade Juarez é de mulheres
e crianças. São esposas, filhos e filhas dos imigrantes homens que se
arriscam no deserto em busca do sonho americano.
Ciudade Juarez, no Estado mexicano de Chihuahua, faz fronteira com a
cidade texana de El Paso. Nos últimos dez anos, mais de 350 mulheres
foram mortas em Cidade Juarez sob circunstâncias que as autoridades
ainda não conseguiram esclarecer. As hipóteses apontam para tráfico de
órgãos, crime organizado, redes de tráfico de mulheres e companhias ou
pessoas que realizam vídeos de pornografia.
Para Christian Ramirez, do Comitê do Serviço Americano dos Amigos
(AFSC, sigla em inglês), a causa dessas mortes está relacionada ao
problema da criminalização da imigração. "Famílias se desfazem pelo
sonho americano. As mulheres de Cidade Juarez ficam vulneráveis pelas
condições a elas impostas", acredita ele.
Segundo Christian, desde que foi implantada a Estratégia Bilateral de
Cooperação Contra as Drogas México-Estados Unidos, em 1998, mais de
quatro mil pessoas morreram ao tentar atravessar a fronteira. No
México há mais de 400 fossas comuns onde são enterrados aqueles que
não conseguem terminar a travessia com vida.