Agronegócio e impunidade alimentam violência no campo

2005-09-28 00:00:00

No Brasil, a impunidade aliada à opção do governo federal pelo modelo do agronegócio faz com que a violência no campo se mantenha. Isso pode ser comprovado através dos dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) entidade que, desde 1975, apóia a luta de trabalhadores e trabalhadoras rurais no país. De janeiro à agosto de 2005, 28 pessoas foram assassinadas em áreas rurais. A informação revela que, apesar das inúmeras denúncias e da ação dos movimentos sociais do campo, a violência persiste.

Na última sexta feira, um triste exemplo confirmou esta tese. O coronel Mário Pantoja, condenado a 228 anos de prisão por ser um dos responsáveis pelo massacre de 19 Sem Terra, em Eldorado dos Carajás, em 1996, conquistou, na justiça, o direito de hábeas corpus. Agora, ele vai esperar, em liberdade, o julgamento do seu recurso.

O levantamento da CPT registrou ainda 27 tentativas de assassinato, 114 ameaças de morte, 2 pessoas torturadas, 52 agredidas fisicamente, 144 presas e 80 feridas. O estudo da entidade também abrange conflitos, mortes em conseqüência destes conflitos, famílias expulsas do campo, ocupações de terra e trabalho escravo - 173 denúncias de trabalho escravo com o envolvimento de 5.407 pessoas. Em 21 de setembro, cerca de 170 pessoas, dentre elas, 15 crianças, foram encontradas, vivendo em regime de escravidão, na cidade de Pirenópolis, estado de Goiás.

Intertítulo: Estado do Pará lidera lista de assassinatos

Dos 28 assassinatos registrados pela CPT, 14 aconteceu no estado do Pará, que figura entre os mais violentos do Brasil. O caso que mais despertou a atenção foi a morte de Dorothy Stang, em Anapu, em 12 de fevereiro. A missionária estadunidense, de 74 anos, naturalizada brasileira, foi morta por pistoleiros, a mando de fazendeiros e madeireiros da região. A missionária apoiava e estimulava a criação dos chamados PDS (Projetos de Desenvolvimento Sustentável), que aliavam produção e proteção ao meio-ambiente.

Uma comissão estadunidense está no Brasil para acompanhar os procedimentos jurídicos que cercam os cinco acusados na morte de Dorothy Stang. Eles estiveram em Anapu, para conhecerem a situação atual das comunidades da região. Em Belém, capital do estado, tiveram audiências com órgãos governamentais, com o Tribunal de Justiça do Estado do Pará e Ministério Público Federal e Estadual.

A comissão se encontrou também com os Ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto. O objetivo da visita é pressionar para que o crime seja julgado de forma imparcial e que todos os envolvidos sejam punidos.