Fórum defende comunicação
livre, independente e verdadeira
Uma nova comunicação é possível. A idéia, que faz eco ao lema do V Fórum Social Mundial (FSM) de que um outro mundo é possível, deu o tom do I Fórum Mundial de Informação e Comunicação. O evento aconteceu um dia antes do início do V FSM, em Porto Alegre.
Debaixo de uma grande tenda branca na Usina do Gasômetro, sacudida pela ventania que deu descanso ao calor de 40 graus dos últimos dias na capital gaúcha, jornalistas - norte-americanos, italianos, brasileiros, canadenses,argentinos e africanos, só para citar algumas nacionalidades - formavam uma verdadeira torre de babel em busca da compreensão dos principais problemas que afligem a mídia contemporânea.
Por que os meios de comunicação no sistema democrático não estão fazendo uma cobertura mais crítica? Por que a informação hoje se converte numa mercadoria e tem se curvado à indústria do espetáculo em detrimento da representação da realidade?
As questões levantadas pelo diretor do jornal Le Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet, nortearam boa parte dos debates ao longo do dia. Segundo Ramonet nos encontramos hoje numa situação de "ignorância informacional", sem saber se podemos confiar no que lemos, se o que está escrito é verdade ou será desmentido no dia seguinte.
Para o italiano Giulietto Chiesa,do Parlamento Europeu, os movimentos sociais precisam atuar junto com os jornalistas em direção a uma mídia mais independente. "Um jornalista sozinho, uma mídia alternativa sozinha, não consegue mudar nada", afirmou Chiesa, que defendeu a transformação da produção da mídia independente, para poucos, num grande movimento forte e organizado em favor da democratização e socialização da informação, além de um novo tipo de educação voltada para os meios.
"Temos que aprender a fazer o que não fizemos antes. Temos que ter ousadia". Chiesa também estimulou a luta contra a privatização e os canais oficiais de TV, que decidem a agenda de discussões do dia. "Temos que inventar uma nova vacina contra essa doença louca chamada TV", disparou.
Ele defendeu ainda uma aliança entre jornalistas e produtores de publicidade e entretenimento em direção a informações e programações de qualidade. A atuação dos movimentos sociais também foi analisada pelo teórico belga Armand Mattelart, que ressaltou a necessidade de uma conceituação e formalização de suas atividades."É preciso uma tomada de distância para analisar melhor o que está sendo feito",afirmou. O pensador destacou ainda a importância da semiótica como forma de se analisar como as palavras têm servido para reforçar o sentido de "Ordem Total" e alertou para a relevância da sociedade fazer as perguntas corretas: "Queremos um outro mundo, mas que mundo é esse?", provocou.
A necessidade de se pensar estratégias de comunicação inovadoras para conseguir chegar a diferentes públicos foi ressaltada por Marcelo Furtado, do Greenpeace, que defendeu uma aproximação maior entre os diversos movimentos sociais e os jornalistas.
Ele também fez uma crítica à falta de profundidade das matérias causada, entre outros fatores, pela substituição de profissionais mais experientes, especialistas em determinados temas, por recém-formados e sugeriu que as organizações realizassem palestras ou cursos que pudessem ajudar na formação dos profissionais da mídia e melhoria da cobertura.
O ativista aproveitou ainda para provocar a platéia formada por cerca de 300 jornalistas: Por que a mídia brasileira não fala sobre as intenções do governo Lula de reativar seu programa nuclear? Por que há cadernos especializados em política e economia e não em meio ambiente? Os debates que seguiram até o final da tarde, também tiveram as participações de Mario Lubetkin, diretor geral da Agência de Notícias IPS (Inter Press Service),como moderador; Steve Buckley,presidente da AMARC e Patrice Barrat, presidente da ArticleZ?, entre outros.
O I Fórum Mundial de Informação e Comunicação foi organizado pela IPS, pelo Le Monde Diplomatique e pelo Media Watch Global (MWG), representado no Brasil pelo Observatório Brasileiro de Mídias. Uma de suas metas é criar uma rede mundial de jornalistas e meios de comunicação tendo em vista a democratização e a qualidade da informação.
- Cristiane Parente - Agência ViraJovem? de Notícias www.revistaviracao.com.br/forum