Organismos multilaterais são ameaça
de Quito (Equador)
O debate sobre a relação dos povos indígenas com os
organismos multilaterais foi uma das mais polêmicas
discussões da 2ª Cúpula Continental dos Povos Indígenas. De
um lado, estão entidades que acreditam que a única forma de
defender os direitos indígenas é assumir uma posição
crítica e combativa frente a organismos como o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. De outro,
estão representantes de entidades favoráveis a um diálogo
com esses organismos, não excluindo a possibilidade de
serem contemplados em seus projetos.
Na declaração final do encontro, prevaleceu o repúdio às
políticas dos organismos financeiros internacionais. "Eles
querem matar a fome nos presenteando com um bolo feito com
milho contaminado. Eles nos oferecem migalhas para evitar
que nos mobilizemos e lutemos por nossos direitos", critica
Salvador Zuñiga, do Comitê de Organizações Populares e
Indígenas (Copin), de Honduras.
O colombiano Antonio Jacanamijoy, ex–coordenador do Fórum
Permanente para as Questões Indígenas das Nações Unidas,
procurou contemporizar: "Não podemos nos isolar do
processo. Se o Banco Mundial e o FMI querem conversar
conosco, vamos até lá colocar nossas posições".
PERVERSIDADE LIBERAL
A venezuelana Nicia Maldonado, presidente do Conselho Índio
da Venezuela (Conive), também é contrária a acordos com as
instituições internacionais. "Não podemos legitimar suas
políticas. De que me serve uma escola se não posso definir
qual o conteúdo ensinado? Os organismos internacionais não
querem nos apoiar, mas sim definir o que vamos pensar."
A saída, segundo Zuñiga, é o movimento indígena buscar
projetos alternativos de desenvolvimento. "Temos de nos
organizar, desde a base, para exigir autonomia para
fazermos uso da nossa riqueza, nossos minérios, nossas
florestas", sugere o líder hondurenho.