Alternativas para uma nova sociedade
enviado especial a Quito (Equador)
Em meio às cordilheiras dos Andes, a mais de 2,8 mil metros
de altitude, o movimento continental contra o
neoliberalismo tenta ganhar impulso com o 1º Fórum Social
das Américas. O encontro, que compõe a agenda do Fórum
Social Mundial, começou dia 25 de julho, em Quito, no
Equador, e termina dia 30 de julho. Durante o curto
período, cerca de 700 organizações sociais de 45 países
presentes buscam fortalecer a luta por um projeto
alternativo de sociedade.
Quito deu uma cor própria ao Fórum Social, ratificando a
presença do movimento indígena que, no Equador, derrubou
dois presidentes nos últimos 15 anos. A partir desse fórum,
temas como a construção de um Estado plurinacional e o
respeito à diversidade étnica passam a compor a agenda
alternativa. Esses assuntos enriquecem uma pauta comum dos
movimentos continentais, centrada sobretudo na luta contra
a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e os Tratados
de Livre Comércio (TLCs), pelo não pagamento da dívida
externa e contra a militarização.
"O particular do fórum é o fato de que, desde 1994, há um
processo de recomposição das forças sociais do continente.
Aqui, temos um espaço de reflexão e articulação dessas
redes e movimentos", avalia Oswaldo León, da coordenação do
Fórum Social das Américas.
REDESCOBRIMENTO
Em 1994, movimentos de indígenas, camponeses, negros e
outros grupos iniciaram a campanha dos "500 anos de
Resistência Indígena, Negra e Popular", cujo lema era
"unidade na diversidade". A iniciativa tinha como objetivo
rejeitar a proposta do governo espanhol, de comemorar a
chegada de Cristóvão Colombo às Américas, em 1494.
Como decorrência da campanha, foram criadas a Coordenação
Latino- Americana das Organizações do Campo (Cloc) e a
Frente Continental de Organizações Comunais (Fcoc).
Surgiram e ganharam projeção internacional também o
movimento zapatista, no México, e o Movimento do
Trabalhadores Rurais Sem Terra, no Brasil. "O fórum pode
contribuir com esses processos, sendo um fator catalisador,
tornando possível convergências de lutas, agendas e
plataformas", diz León.
As redes dos movimentos sociais trouxeram outro desafio
para o Fórum Social: discutir um projeto de integração a
partir dos povos. Tal discussão permeia boa parte das
centenas de debates, divididos em conferências, seminários,
painéis e oficinas. "Teremos de fazer a escolha entre dois
projetos: o de morte, exclusão e dominação, e outro de
integração e de defesa de nossa cultura. Engana-se quem
pensa que a dominação começa pela economia. A dominação,
primeiro, é cultural", considera o argentino Adolfo Perez
Esquivel, Prêmio Nobel da Paz de 1980.
Também recebe atenção especial, entre os debates, o
fortalecimento de projetos antiimperialistas no continente,
como a defesa de Cuba e as transformações na Venezuela,
responsável pela maior delegação no evento. "Os governantes
devem pensar em políticas locais, e não simplesmente em
cumprir as correntes políticas e econômicas que vêm dos
Estados Unidos. Hugo Chávez, por exemplo, tem governado com
os olhos para a América Latina e proposto uma integração
dos países", avalia Esquivel.
(*Colaborou Claudia Jardim)