Em 30 anos, o MST conquistou mais de 150 cooperativas e associações
Ao longo dos 30 anos de história do MST, que se completam em 2014, muitas conquistas podem ser comemoradas pelos Sem Terra, sejam elas no âmbito da luta pela terra, da educação, da cultura, da formação, entre outras.
Entretanto, uma em específico merece atenção: a produção agrícola nas áreas de assentamento.
Ao todo, mais de 60 cooperativas e cerca de 100 associações integram o processo produtivo do Movimento em todo o país, envolvendo centenas de milhares de famílias assentadas e acampadas.
Segundo Antonio de Miranda, do setor de produção do MST, um dos principais desafios do processo produtivo se dá no âmbito da cooperação agrícola. Para ele, é necessário definir linhas de produção por região, para que sejam formados eixos articuladores da cooperação e da organização do processo produtivo.
“Buscamos construir um processo de agroindustrialização a partir das linhas de produção, sem deixar de avançar no processo de comercialização da nossa produção, seja em feiras livres ou no mercado institucional”, destaca.
Segundo ele, pode-se citar como exemplo desse processo a produção de arroz orgânico no Rio Grande do Sul, onde são produzidas mais de 300 mil sacas, envolvendo 1600 famílias de 9 assentamentos da região.
Já em Santa Catarina, por exemplo, os Sem Terra têm como carro chefe a pecuária leiteira, produzindo mais de 9 milhões de litros por mês. O Paraná não fica muito atrás, já que três cooperativas regionais são responsáveis pela industrialização de 2 milhões de litros de leite por mês, além das 600 mil sacas de arroz.
“Em geral, todos os assentamentos do MST produzem leite, mas se somarmos apenas a produção dos assentamentos que ainda estão em processo de organização de sua produção leiteira, temos aí mais de 5 milhões de litro dia”, observa Miranda.
Além dessas experiências, diversos outros cultivos já contam com o processo de agroindustrialização, seja ele de grande ou pequeno porte, como a pecuária de corte, a criação de pequenos animais, o cultivo de uva, coco, cacau, café, feijão, milho, soja, caju, mandioca, peixe. Além do cultivo de frutas locais e a realização de feiras livres a partir das hortas.
“Um dos nossos maiores desafios é a luta pela criação de agroindústrias nos próprios assentamentos. Isso permite agregar maior valor ao produto, gera mais emprego nas áreas, principalmente à juventude, e permite um maior desenvolvimento do assentamento como um todo”, acredita.
Produção agroecológica
De acordo Miranda, a luta em torno da produção agrícola nas áreas de assentamento não se limitam apenas na esfera da produtividade, mas também na qualidade dos alimentos.
“Vivemos num período de hegemonia do modelo produtivo do agronegócio, mas ele só é capaz de produzir monocultivos, destrói a biodiversidade local, exigi enorme utilização de agrotóxicos, polui o meio ambiente e contamina os alimentos que consumimos”, pontua.
Nesse sentido, outro grande desafio do MST apontado por Miranda é contrapor esse modelo produtivo, construindo um modelo alternativo de produção agrícola no campo brasileiro: a agroecologia.
“A agroecologia é uma matriz tecnológica altamente sofisticada e o que há de mais avançado no mundo agrícola. Com isso, ela só será possível de ser realizada em sua plenitude se contar com grandes políticas públicas, com instituições públicas de pesquisas voltadas a ela, com tecnologia apropriada à agricultura camponesa, com técnicas que diminuam a penosidade do trabalho e aumente a produção”, avalia Miranda.
Dentro dessa perspectiva, a luta dos Sem Terra também se dá em torno da disputa pelo modelo agrícola a ser implantado no país, ao buscar a transição da atual situação para as técnicas de agroecologia nos assentamentos.
“Que tipo de agricultura queremos? Essa que acaba com as florestas, só produz com veneno e gera câncer na população ou a que cultiva alimentos saudáveis, gera emprego e preserva o meio ambiente?”, indaga Miranda.
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