Movimentos sociais modificam e podem barrar negociações da Alca

2004-01-27 00:00:00

A luta dos movimentos sociais de todos os países das
Américas teve um papel fundamental para modificar o curso
das negociações da Área de Livre Comércio das Américas
(Alca). Se a mobilização continuar, com a realização de
plebiscitos populares, protestos e encontros, o acordo
pode até mesmo ser barrado.

Este é o balanço apresentado no painel "Alca: situação
atual das negociações. Experiências das reuniões
ministeriais de Cancún e Miami", no dia 26, durante o 3º
Encontro Hemisférico de Luta contra a Alca, que ocorre no
Palácio de Convenções de Havana, Cuba, até o dia 29. No
evento, discursaram Adhemar Mineiro, da Rede de
Integração dos Povos, do Brasil, Edgardo Lander, da
Universidade Central da Venezuela, e Karen Hansen-Kuhn,
da Aliança Social Continental.

Para Lander, a principal conquista dos movimentos sociais
foi dar transparência e visibilidade ao acordo. "O que
antes era discutido de forma privada, em reuniões
fechadas, com conteúdo totalmente secreto, entre
técnicos, está agora na consciência coletiva e é
discutido por toda a sociedade", Lander explicou.

Karen afirmou que o acordo dito light, como ficou
conhecida a proposta ratificada na 8ª Reunião Ministerial
da Alca, que ocorreu em Miami, Estados Unidos, em
novembro, é uma armadilha, pois é confuso e ambíguo. Ela
salientou que, apesar de o governo estadunidense ter
recuado em seu projeto de criar uma área sem nenhumas
restrições ao livre comércio nas Américas, os movimentos
sociais não podem considerar a Alca light como uma
vitória.

Na reunião de Miami, representantes de 34 países do
continente assinaram um acordo para implementar
progressivamente a Alca, com a elaboração de um acordo
mínimo a ser definido durante o encontro do Comitê de
Negociações Comerciais (CNC), em Puebla, México, em
fevereiro. A partir desse tratado mínimo, vai iniciar-se
uma segunda etapa da criação do bloco, com o
estabelecimento de acordos bilaterais (entre dois países)
e multilaterais (entre mais de dois países).

Segundo Lander, a luta contra a Alca faz parte de uma
luta mais ampla, contra um modelo de vida e sociedade que
é criada pela globalização. ¨A Alca não é a única ameaça.
Podemos derrubá-la, sem derrotar a agenda global de
mercantilização da vida, segundo a qual os direitos de
empresários e do capital prevalecem sobre os das pessoas
e da natureza¨, comentou.