Mais de 10 mil mulheres abrem mobilizações de massas na Cúpula dos Povos
Mais de 10 mil mulheres de diversas organizações e movimentos sociais abriram com uma grande marcha o ciclo de manifestações de rua na Cúpula dos Povos - realizada em paralelo à Rio+20 -, na manhã desta segunda-feira (18).
Ao percorrerem as ruas do Centro do Rio de Janeiro, as mulheres em luta procuraram dar um recado claro em questionamento às falsas soluções propostas por Estados e grandes corporações, para as questões sociais e ambientais.
“Não é à toa que seja das mulheres o primeiro grande ato da Cúpula dos Povos”, garante Alana Moraes, da Marcha Mundial das Mulheres (MMM). “Nós mulheres somos as mais afetadas pelo modelo de sociedade sustentado pela elite e baseado na exploração do trabalho. Não há como o capitalismo se reproduzir de maneira sustentável, pois sempre precisará da nossa carga de trabalho doméstico e está baseado na exploração do trabalho.”
Para as manifestantes, só é possível alguma transformação da sociedade com justiça social e ambiental. Noeli Taborda, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC/Via Campesina), denunciou o problema sistêmico. “As mais de 10 mil marchantes estão denunciando as falsas soluções propostas por chefes de Estado, que não abrem mão de sua economia e pretendem avançar sobre nossos territórios para saquear nossos recursos”.
Noeli explica que este modelo, que sempre gerou violência contra a mulher, à juventude e às comunidades, pretende agora se reapresentar com a insígnia da “economia verde”.
As lideranças discursaram para a multidão de milhares de militantes da Marcha Mundial das Mulheres, movimentos camponeses ligados à Via Campesina no Brasil e no mundo, entidades estudantis nacionais, mulheres indígenas, mulheres organizadas na Central Única dos Trabalhadores (CUT) e um sem número de organizações.
Mulheres lutam pelo mundo
Marta Emília, da Guatemala, representante da Via Campesina Internacional classificou a marcha como um marco na luta dos povos por direitos. “Aqui, articulamos nossas lutas como mulheres, em diferentes continentes. Em vários pontos do planeta estamos em pé de luta pela defesa do território e da Mãe-Terra”, disparou a líder camponesa neste dia que classificou como “uma data energética para o povo Maia”, em luta.
Para além das pautas específicas das mulheres, contra a violência doméstica e opressões cotidianamente sofridas, foi destacado o papel central das feministas nas diversas lutas dos povos. Gina Vargas, da Articulação Feminista MarcoSur, testemunhou sobre o enfrentamento a grandes projetos ameaçadores no Peru.
“Estamos presentes na luta contra a mineradora Conga, numa aliança feminista com mulheres indígenas e urbanas, o que acumula como aliança de classe para terminar com o machismo, sexismo, patriarcado e, em última instância, com o capitalismo”, declarou.
Ocupação do BNDES
Ao final da marcha, um grupo de quarenta mulheres se somou à mobilização engrossada pelos povos originários, da ocupação do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). Para as manifestantes, o banco público tem papel no financiamento que acaba gerando a exploração das mulheres, “tanto ao manter a lógica do capital financeiro, como quando o banco financia grandes eventos, que se instalam e reservam os empregos para os homens, enquanto que às mulheres é legado a prostituição”.
Percurso
Cerca de 5 mil manifestantes da MMM e da Via Campesina partiram nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira do Sambódromo, no centro da cidade, e percorreram a Avenida Presidente Vargas e a Rio Branco até MAM, no Aterro do Flamengo, onde receberam o reforço de mulheres oriundas de outras partes da cidade em concentração.
O ato de encerramento da marcha aconteceu no Largo da Carioca, com a animação cultural e ato político característico dos movimentos feministas e populares.
http://mst.org.br/node/13525