Brasil: Milhares marcham contra a ALCA e OMC
Milhares marcham até o consulado norte americano para protestar contra a implantação da ALCA e as imposições da OMC
Milhares de trabalhadores, estudantes, sem-teto e sem-terra,
desempregados, homens e mulheres, através de suas entidades e
movimentos, participaram neste 13 de setembro da manifestação
de protesto contra os acordos da OMC – Organização Mundial do
Comércio. A marcha, que foi convocado pela coordenação dos
movimentos sociais, partiu da Avenida Paulista, centro de São
Paulo, seguindo até o consulado americano e, faz parte de uma
Jornada Mundial de lutas contra a OMC que, nesta semana, está
reunida em Cancum, México, buscando aprofundar ainda mais seu
domínio sobre os países pobres.
Com palavras de ordem como: "a vida não tem preço, não aos
acordos e não a OMC"; "O povo está nas ruas, Bush a culpa é
sua"; "Se cuida, se cuida imperialismo, a América Latina vai
ser toda socialista" e, ainda, "Bush assassino, a derrota é
seu destino "; a caminhada foi acompanhada por um forte
esquema policial. Em frente ao consulado, cerca de 200
polícias faziam a segurança da entrada, de onde os
manifestantes eram filmados pelos funcionários do império.
Waldemar Rossi, 70, militante da Pastoral Operária,
esclareceu que o movimento é um primeiro passo para que se
desenvolva um processo de mobilização social, visando não só
protestar contra a proposta da ALCA, da OMC etc, mas também,
para exigir do governo brasileiro mudanças na política
econômica. Destacou que o manifesto da coordenação dos
movimentos sociais, quer que o governo invista o dinheiro
público na reforma agrária, na construção de moradias
populares que hoje sofre uma carência de 10 milhões de
unidades, no desenvolvimento de um amplo serviço de educação
e saúde pública para atender o povo em suas necessidades.
Já Antonio Carlos Spis, da CUT – Central Única dos
Trabalhadores, afirmou que o sucesso da manifestação
surpreendeu até mesmo os organizadores do evento.
"Esperávamos uma boa mobilização, mas ela superou as nossas
expectativas. Aqui nós temos representações estudantis, da
Igreja, dos trabalhadores, dos sem terra, dos sem teto, sem
saúde, sem educação, enfim, diversas entidades que se
conglomeram em torno da coordenação dos movimentos sociais.
Viemos simbolicamente na porta do consulado norte americano,
por entender que os Estados Unidos representam políticas
nocivas tanto na OMC e no Banco Mundial, como no G7, e acabam
condicionando empréstimos a países do 3º mundo, impondo
restrições de investimentos nas políticas sociais". Disse
ainda que "como o movimento tem por característica a defesa
dos direitos sociais, queremos questionar o acordo com o
FMI, os acordos da OMC e todas as instâncias internacionais.
Nas ruas, de uma maneira festiva, estão representações de
diversos setores da sociedade civil como a OAB, ABI, o
Sindicato dos Advogados, MST, enfim, inúmeras entidades que
compõem a coordenação dos movimentos sociais. Somos cerca de
cinco mil pessoas dando voz a essa nossa pauta. E queremos
que ela fique latente na sociedade.Não adianta ficar
esperando que o governo Lula, do qual temos muito orgulho de
ter eleito, implemente as questões sociais. Elas não
acontecerão se agente não disputar a nossa agenda na
sociedade, se não disputarmos a própria agenda do governo".
Spis ainda comentou que não basta o MST – Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra fazer excelentes mobilizações
nacionais para sair à reforma agrária, porque os
latifundiários têm representação na Câmara e no Senado".
Concluiu dizendo que é preciso muita pressão popular, seja
ela por terra, moradia, salário, educação, saneamento básico
e outras questões que fazem parte da nossa pauta.
Já Ricardo Gebrin, 44, presidente do Sindicato dos Advogados
do Estado de São Paulo, disse que o evento tem um papel
fundamental. "Primeiro porque é uma manifestação que está se
dando em plano mundial como forma de resistência à tentativa
de transformar a OMC – Organização Mundial do Comércio numa
grande blindagem, que prenda definitivamente os povos à
lógica capitalista, mais do que isso, à lógica da exploração,
da impossibilidade de desenvolvimento e da geração de
trabalho. Segundo, porque a luta também é contra a
implantação da ALCA – Área de Livre Comércio das Américas.
Esta é uma data da Campanha Continental contra a ALCA. Em
todos os países na América Latina, nós estamos nos
manifestando contra este acordo e estamos muito confiantes
porque este movimento esta crescendo em todos os países".
Lembrou que "no Brasil, a data é também importante porque é
um momento de luta pela realização de um plebiscito oficial,
pela retomada do desenvolvimento, geração de trabalho,
reforma agrária e todas as bandeiras que coloquem o Brasil em
uma perspectiva soberana".
Ao final da caminhada, em frente ao consulado americano, João
Pedro Stédile, 48, coordenador nacional do MST, destacou que,
"assim como todos nós aqui reunidos, em muitas outras
capitais do Brasil e do mundo, os lutadores do povo também
estão protestando contra o governo dos Estados Unidos que
querem ser os donos do mundo e estão, neste momento, reunidos
em Cancun, no México, para decidir sobre a vida e a soberania
dos povos do mundo. Também em Cancun, milhares de
companheiros e companheiras como nós, estão concentrados para
dizer fora aos EUA, fora ao capital internacional, fora a
ALCA, a OMC, o FMI e todos os exploradores do mundo". Stédile
conclamou ainda que as entidades ali presentes firmassem um
pacto: "de união entre todos os movimentos para seguir nossa
luta contra a ALCA, contra a OMC, contra o acordo do Fundo
Monetário Internacional, por uma nova política econômica e
por um projeto brasileiro com soberania com desenvolvimento,
com direito ao trabalho, à terra, à moradia, à educação, ao
lazer, à cultura, com distribuirão de renda e inclusão
social". Disse que este projeto não será obra do idealismo.
"Não adianta esperar de nenhum governo. Só o povo mobilizado,
lutando nas ruas, vai conquistar as mudanças pelas quais
votamos em outubro passado". Lembrou que na próxima semana
várias entidades e delegações dos estados brasileiros estarão
em Brasília, para entregar mais de um milhão de assinaturas
ao Congresso Nacional, ao Poder Judiciário e ao Palácio do
Planalto, exigindo do governo Lula, que o povo possa decidir
se quer o não que o Brasil faça parte da ALCA. "Mas não
podemos parar aqui – disse João Pedro – deveremos preparar as
nossas bases para novas mobilizações, seja nas campanhas
salariais, seja ocupando os terrenos vazios da capital ou os
latifúndios improdutivos, ou lutando por melhores salários.
Por isso, precisamos sair daqui com as energias renovadas
para seguir nossa luta contra a ALCA, contra a OMC, e contra
o governo Bush".
Ao final, em homenagem ao camponês coreano que participava
das manifestações em Cancum e morreu pela falta de socorro
dos policiais mexicanos, o líder do MST pediu a todos um
minuto de silêncio.
* Luciane Udovic e Luiz Bassegio –
Secretaria do Grito dos Excluídos Continental – por Trabalho,
Justiça e Vida -.