O Grito das Mobilizações
No próximo mês de setembro serão realizadas mobilizações no
Brasil e no mundo. Serão vozes, gritos que querem ecoar
contra o modelo neoliberal materialista que aliena e reduz
homens e mulheres a meras mercadorias, engrenagens de
produção e, principalmente, de consumo. Serão os gritos dos
que não ficam indiferentes face aos problemas gerados pelos
interesses egoístas de uma minoria prepotente e criminosa que
detém o destino econômico global. Um império que nos submete
às normas de um modelo selvagem, cujos valores são impostos
de cima para baixo, de forma planejada e calculada, através
de vários mecanismos, entre eles, uma mídia conivente,
globalizada e mercantilizada.
Serão gritos contra um império que atende por nome de Estados
Unidos e que pretende dominar o planeta econômica, política,
cultural e militarmente.
Do ponto de vista econômico este império procura apoderar-se
das fontes de energia do nosso planeta como o petróleo. Das
riquezas naturais como a água e a biodiversidade. Serve-se
para isto de várias armadilhas, como é o caso da dívida
externa, dos tratados de livre comércio e dos inúmeros planos
que impõem pelas Américas. Um exemplo recente foi publicado
no Jornal Britânico "Independent". A matéria relata que o
presidente George W. Bush está buscando fundos para
implementar gasodutos que cruzariam as florestas tropicais da
Amazônia peruana até a costa do Oceano Pacífico. De acordo
com a publicação, o plano "enriqueceria algumas das empresas
que mais contribuíram para a campanha de Bush, embora ponha
em risco a floresta, ameace seus povos indígenas e ponha em
risco espécies raras na costa".
Para impor e manter sua política de dominação, o governo
estadunidense se serve ainda da via militar. Mais de uma
dezena de bases militares já foram implantadas por toda a
América Latina e Caribe e, outras, estão em vias de
implantação.
Do ponto de vista cultural a indústria americana dita as
regras no mundo inteiro, seja através de filmes, músicas,
roupas, ou os inúmeros "fast foods" espalhados pelo mundo. É
fundamental resistir a esta imposição para reforçar o caráter
de identidade nacional. Por isso, como parte da agenda de
mobilizações, está a semana de boicote aos produtos
americanos. Simbolicamente aos produtos do Mc Donalds, Coca-
Cola, Esso e Texaco.
Na política, o império americano busca se concretizar através
dos diversos tratados que, entre outras coisas, impedem aos
governos da região de elaborarem políticas públicas que
favoreçam os países. Um exemplo bastante em pauta é o Tratado
de Livre Comércio das Américas – ALCA.
Os gritos também serão contra o pagamento da dívida externa e
pela auditoria da dívida. Não aceitamos continuar pagando
bilhões de dólares à custas de constantes cortes nos
investimentos sociais.
No orçamento deste ano, estão previstos para a seguridade
social, entendendo entre outras coisas segurança pública,
assistência social, saúde, educação, cultura, habitação,
saneamento, agricultura, transporte, ciência e tecnologia,
77,9 bilhões de reais. Praticamente a metade do que está
previsto para o pagamento da dívida interna e externa, que é
um total de 140,8 bilhões de reais. Se olharmos o quanto à
dívida líquida do setor público avançou proporcionalmente ao
PIB, nos damos conta de algo assustador. Em 1994, a dívida
correspondia a 30% do PIB, já em 2002 o montante saltou para
57,5%. Neste ano, o governo federal pagou nos seis primeiros
meses, 37 bilhões de reais para o pagamento da dívida
interna, entretanto ela passou de 687 bilhões para 709
bilhões de reais. Para o social foram gastos 20 bilhões de
reais.
Enfim, estão gritando os desempregados, os indígenas, os
negros, os migrantes, as mulheres e o jovens. Estão gritando
todos aqueles desprezados pelo sistema, os excluídos, os que
sequer são necessários, os descartáveis
As diversas mobilizações previstas tem como eixo fundamental
a defesa da autonomia das nações, da independência de cada
país, para que cada povo possa ser sujeito de sua história. O
mundo irá gritar para que os Estados Unidos entendam que
devem cuidar de seu país para que cada povo possa ser dono de
seu destino. No Brasil, nos somaremos aos gritos contra a
exclusão social, em favor do Brasil e do povo brasileiro. O
grito por independência e soberania.
O marco das mobilizações inicia-se com a Marcha das
Margaridas no final de agosto e na semana da pátria, de 01 a
07 de setembro, por ocasião do 9º Grito dos Excluídos, que
este ano terá como lema "Tirem as mãos...o Brasil é nosso
chão", reforçando assim, a luta dos movimentos por uma nação
livre, soberana, fundada na justiça social , na solidariedade
e na igualdade de direitos. Serão intensificados os mutirões
de coleta de assinaturas para a realização do plebiscito
oficial sobre a implantação da ALCA. A simbologia utilizada
será a Campanha de Vacinação contra o vírus da Alca.
Assinando o abaixo-assinado pelo plebiscito as pessoas
estarão, se protegendo contra o vírus da ALCA. Daí a
simbologia da caneta e da seringa. Mas, as mobilizações não
param por aí. Na semana de 08 a 14 de setembro, será a vez do
boicote aos produtos norte americanos para chamar a atenção
da população para que o Brasil não continue negociando a ALCA
com um governo autoritário, que não respeita o Conselho de
Segurança da ONU e faz pouco caso das leis internacionais. A
guerra contra o Iraque provou o quanto é frágil à
possibilidade de um acordo com o governo Bush. Todos são
convocados a aderir o boicote. Este é o momento para
expressar ao governo Lula a nossa vontade de que o Brasil
possa ter uma política soberana de desenvolvimento, com
superávit comercial. Para garantir isto é que estamos
mobilizados.
Concluindo mais esta etapa de luta, está previsto para o dia
16 de setembro, em Brasília/DF, a entrega do abaixo-assinado
exigindo do governo a realização do plebiscito oficial sobre
a ALCA.
Essas mobilizações vão além do Brasil, estendem-se a todos os
continentes. No dia nove de setembro, serão realizadas
manifestações mundiais contra a reunião da OMC, em Cancun,
México; no dia 10, as manifestações serão em favor da
soberania alimentar, promovida pela Via Campesina e, no dia
13, contra a Globalização e a Guerra. Finalmente, em 12 de
outubro acontecerá o quinto Grito dos Excluídos Continental,
ndas Américas e no Caribe.
* Luciane Udovic e Luiz Bassegio , da coordenação do grito
dos Excluídos Continental
e da Campanha Continental contra a militarização