As falsas soluções do ambientalismo de mercado
Legitimar os impactos que o capitalismo causa no meio ambiente com a justificativa de recuperação e convivência sustentável, esta é a visão das grandes transnacionais que se apropriaram de maneira truncada do discurso ambiental em prol do futuro da humanidade.
Levantanda essa discussão, a atividade “As falsas soluções do ambinetalismo de mercado”, realizada no dia 12 de agosto, no IV Fórum Social das Américas, em Assunção (Paraguai), reuniu pessoas de vários países das Américas para discutir propostas e reflexões contra a falsa onda verde implantada pelo capitalismo em nossa sociedade atual.
Proposta pela organizaçao Amigos da Terra em vários países, como Brasil, Costa Rica e Paraguai, e por organizações como a CLOC/Via Campesina e a Marcha Mundial de Mulheres, a atividade aproveitou o espaço do Fórum Social para resgatar um pouco do que foi discutido nos Fóruns até então realizados. Os exponentes, representantes das organizações proponentes, colocaram que uma das medidas oriunda das discussões anteriores foi a realização de campanhas de esclarecimento contra a mercantilização da vida e do mundo. “Nosso mundo não está à venda”, era o slogan de uma delas. O objetivo era sensibilizar a sociedade de que a mercantilização de forma velada, através dos tratados de livre comércio ou as mudanças nas legislações nacionais para facilitar as relações de mercado, é nociva ao meio ambiente e à soberanía dos povos.
“Nossa vida nao está a venda”. Com esse outro slogan, uma nova campanha tentava conscientizar para um cuidado de entendimento diante das formas de privatização e das medidas “salvadoras” propostas pelo capital frente a inoperância do Estado. Vêm com falsas soluções, como energia limpa, crédito e resgate de carbono, além dos transgênicos como proposta frente a crise alimentar no mundo. Esse é o chamado ambientalismo de mercado, o qual apresenta o tecnicismo como salvação das mazelas ambientais. O capitalismo parece se apropriar dos discursos e solicitações da sociedade organizada, porém de uma forma ajustada a seus intereses e distorcida quanto às reais necessidades.
O capitalismo não é criativo
Em 10 anos de Fóruns Sociais Mundiais, os participantes e militantes dessa proposta alternativa de discutir um outro mundo possível, sempre estavam todos e todas muito unidos contra um inimigo comum, o neoliberalismo e o aparente avanço do capital através dos tratados de livre comércio e das privatizações. Como aconteceu no Brasil. Havia um panorama visível para perceber e ver o processo. Hoje a crise do capitalismo está ligada à crise ambiental e climática, e tenta mostrar um esforço para reverter o cenário ambiental de exploração e destruição, comum aos projetos do capital.
Entretanto, como disse Marx, o capitalismo nao é criativo. Para o capital a única forma de se manter no mundo é através da mercantilização de todos e todas. Os projetos do capital vêm com a ideia de uma vida sustentável através de programas de recuperação ambiental, que não os abonam de toda responsabilidade nesse processo de destruição.
O proceso de industrialização tem limites. É impossível produzir indiscriminadamente pois as matérias-primas são limitadas. Porém, o ar que respiramos e a fertilidade das terras não são bens limitados. Para o capitalismo, portanto, a natureza se mostra como um mercado atrativo, dentro de uma lógica econômica. O capital, portanto, avança sobre esse novo mercado, causando grandes impactos além de ambientais, sociais também. Há um crescente processo de expulsão de comunidades indígenas e tradicionais de suas terras ou áreas, através desse processo.
A biodiversidade, também, está sendo tratada como mercadoria. As áreas de preservação se mostram como grandes bancos, onde pode-se investir e também roubar riquezas, como é o caso da biopirataria, impulsionada pelas facilidades dos tratados de livre comércio e da ainda pequena preocupação com esse crime. A biopirataria não respeita os direitos coletivos ou comunitários, principalmente dos povos indígenas. Outro atividade destruidora em expansão é o ecoturismo, através do qual grandes complexos hoteleiros se instalam em áreas de preservação, causando um grande impacto para as comunidades locais. Esses empreendimentos se apropriam dos territórios fazendo, em alguns casos, como na Costa Rica, com que comunidades vejam interrompidas suas atividades tradicionais. Atividades essas ligadas a garantía da soberanía alimentar, como no caso das comunidades de pescadores que não conseguem mais pescar e se manter em seu local de morada. Dessa forma, muitos abandonam as comunidades e se vêem obrigados a ir para as grandes cidades.
Os povos latinoamericanos e o bem viver
“Temos que viver bem! E viver bem nao é ter dinheiro. É garantir a soberanía alimentar e assegurar a sobrevivência dos povos”. Essa foi a interferência feita no debate por um camponês boliviano sobre a luta pela preservação da pachamama, que vai na contrapartida dos gananciosos projetos do capital. Uma camponesa também boliviana emocionou a todos e todas quando clamava pela atenção dos irmãos e irmãs latinoamericanos para salvar sua mãe, a Terra. “Ela está doente e estamos parados diante disso. Vamos deixá-la morrer? Temos que cuidar de nossa mãe”, disse ela.
Os participantes, além disso, discutiram sobre como transformarmos esses momentos de encontro e reflexões em ações concretas que se transformem em mudanças efetivas para garantir a segurança dos povos, a soberania alimentar e uma sociedade mais justa e igualitária, em convivência harmônica com o meio ambiente e a diversidade sóciocultural que temos.
As atividades do IV Fórum Social das Américas continuam até o dia 15 de agosto.