Alerta

2010-06-25 00:00:00

O fato
 
No dia 18 de maio, o deputado federal Moreira Mendes (PPS-RO) declarou na tribuna da Câmara Federal que, com base em informações sigilosas, um grupo composto por índios Caxararis, garimpeiros, comunidades dos distritos de Nova Mutum e Extrema, sob a coordenação do MAB, estaria preparando uma invasão ao canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Jirau para o dia 21 de maio e planejando ataques e atos que colocariam em risco os operários. Segundo o discurso do deputado, o grupo “é encabeçado pelo chamado Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) - já teria até mapeado os pontos estratégicos da obra, como o paiol de explosivos utilizados para dinamitar as rochas, a planta de combustível e as centrais de refrigeração (onde é armazenada a amônia), o que demonstra que se trata de uma ação planejada, arquitetada nos mínimos detalhes, a fim de produzir o maior impacto possível”.
 
Poucos dias antes do discurso do deputado Moreira Mendes, alguns meios de comunicação da região denunciaram a presença de um ex-coronel do exército em Porto Velho. Segundo a imprensa, o ex-coronel chama-se “Gélio Fregapani, está residindo em Porto Velho há cerca de 6 meses e se apresenta entre a população de Jacy-Paraná e Mutum-Paraná como escritor, garimpeiro e até como cantor. Participa de todas as audiências públicas, esteve em reuniões da CPI das Usinas, promovida pela Assembléia Legislativa e fez dossiês sobre cada liderança contrária às usinas, de jornalistas, ONGs e políticos que se colocam como “obstáculos” as obras. Fregapani é contratado pela empresa Sagres Consultoria, que por sua vez foi contratada pela Camargo Corrêa para fazer esse trabalho de espionagem.”
 
A suspeita
 
Suspeitamos que este plano pode estar sendo proposto e coordenado pelas próprias empresas para colocar os operários contra os atingidos. Se os indícios denunciados pelos meios de comunicação forem verdadeiros, não nos surpreenderá se estes indivíduos contratados pelas empresas promoverem ataques ou sabotagens contra os operários e colocarem a culpa nos atingidos, para jogar uns contra os outros ou criminalizar nossas organizações e sindicatos.
 
Posição do MAB
 
O MAB é um movimento organizado, que luta em defesa das populações atingidas e, de acordo com a relatora da ONU para os direitos humanos, Hina Jilani, “o MAB constitui benefício e acrescenta valor à democracia brasileira ao desenvolver modos de ação social e participação”. No entanto, somos cotidianamente atacados e vítimas de uma política de tratamento do setor elétrico que expulsa milhares de famílias e nega nossos direitos.
 
As acusações do deputado Moreira Mendes são mentirosas e fazem parte de um plano de ações das próprias empresas na tentativa de negação dos direitos, portanto alertamos que qualquer coisa que ocorrer contra os atingidos ou os trabalhadores e operários que estão construindo a hidrelétrica de Jirau será de responsabilidade das empresas donas da usina.
 
A luta dos atingidos é justa e continuaremos nossa mobilização pelos direitos dos atingidos fazendo assembléias e reuniões com as comunidades, organizando o povo e lutando pela construção de um projeto energético popular. Além disso, reforçamos nosso apoio aos trabalhadores da obra que vivem em condições precárias de vida e de trabalho.
 
Por fim, conclamamos a todos a repudiarem este tipo de atitude, como a do deputado Moreira Mendes e de espiões, e a manifestarem solidariedade aos atingidos por barragens e aos trabalhadores da usina.
 
Água e energia não são mercadorias!
 
Coordenação Nacional do MAB
 
São Paulo, 24 de junho de 2010