Jovens de 51 países discutem temas sobre a questão agrária
Estudar e debater as pautas da Via Campesina a partir da visão da juventude foi um dos objetivos da 2ª Assembléia de Jovens da Via Campesina, que aconteceu nos dias 16 e 17 de outubro, em Maputo, Moçambique. Cerca de 100 pessoas de vários países fizeram análises da questão agrária em cada região, trocaram experiências e reafirmaram o papel da juventude na construção de uma nova sociedade.
A metodologia do encontro se deu através de quatro grupos temáticos para discussão. São eles, o acesso à terra; formação política e de comunicação alternativa; experiências em agroecologia; e articulação entre o campo e a cidade. “Todos estes temas estão sendo tratados pelos jovens em suas organizações. Por isso é importante trocarmos experiências, ver o que está dando certo ou errado em cada região”, afirmou Pedro XX, do MST. Apesar do constante desafio de criar um coletivo de jovens consistente e mais orgânico dentro da Via Campesina internacional, Pedro vê um avanço entre a primeira Assembléia, realizada em 2004 no Brasil, e a segunda, já que agora participam representantes de 51 países, em comparação com 37 na Assembléia anterior.
A juventude e o êxodo rural
Um dos temas mais apontados pelos jovens durante as análises da situação do campo nos países foi a migração do campo para a cidade. Segundo Paulo Mansan, da Pastoral da Juventude Rural, do Brasil, o aumento dos conflitos no campo - gerado pela expansão do agronegócio - somado à falta de condições básicas nas comunidades rurais, como educação, saúde e lazer, fazem com que o jovem saia cada vez mais do campo. Além disso, “o capitalismo trabalha com um processo de dominação cultural. Através do aparato midiático, constrói o falso consenso de que o campo é atrasado e a cultura camponesa retrógrada, aumentando assim a desmotivação dos jovens em permanecer na roça”, acrescentou Mansan.
No Japão, a decisão do governo em permitir a importação do arroz, principal atividade rural do país até então, levou à diminuição da produção, à queda do preço do arroz e, conseqüentemente, ao êxodo rural. No entanto, quando o jovem japonês chega à cidade, se depara com uma qualidade de vida muito inferior à do campo. “Muitos não conseguem emprego, são explorados, se alimentam mal e até entram em depressão” relatou Ayumi, jovem japonesa que participa da organização de pequenos agricultores Noumienren. Segundo ela, 60% da comida consumida no Japão é importada.
Como a pobreza nas cidades aumenta cada vez mais, os países pobres também estão perdendo seus jovens urbanos, que migram para lugares onde há “desenvolvimento”. De acordo com dados da Organização Internacional para a Migração, são mais de 200 milhões de pessoas que deixaram seus países de origem, na maioria das vezes para trabalhar como mão-de-obra barata em países centrais como Europa e Estados Unidos.
Organização da juventude
De acordo com o jovem Poul Frederich, de Camarões, a juventude da Via Campesina tem o importante papel de mostrar para os jovens que eles podem e devem transformar a vida no campo. “A juventude tem que protagonizar a luta pela soberania alimentar, além de lutar por condições para a permanência dos jovens no campo”.
A aliança entre os jovens do campo e da cidade também foi apontada por todas as regiões como fundamental para uma transformação. Segundo os jovens, “a nossa luta é antes de tudo uma luta contra o modelo neoliberal, que traz pobreza e destruição para o campo e pra cidade”.
Os jovens estão preparando a declaração final da II Assembléia de Jovens da Via Campesina que será divulgada em breve.