Via Campesina denuncia prejuízos causados por oligopólio de empresas
A Via Campesina e trabalhadores urbanos da Assembléia Popular realizam
jornada de lutas para denunciar os problemas causados pela atuação das
grandes empresas no país, especialmente as estrangeiras, que são
beneficiadas pelo modelo do agronegócio e pela política econômica
neoliberal.
Já aconteceram protestos em Pernambuco, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do
Sul, Minas Gerais, Bahia, Ceará e Santa Catarina. O modelo econômico
baseado no capital financeiro e no oligopólio de empresas transnacionais,
principalmente do setor do agronegócio e da energia, sacrifica a renda da
população com o aumento do preço dos alimentos e da conta de luz.
Em Pernambuco, cerca de 200 trabalhadores rurais da Via Campesina ocuparam
a Estação Experimental de Cana-de-Açúcar (EECAC), no município de Carpina,
Zona da Mata Norte de Pernambuco, nesta manhã, em protesto contra o avanço
da monocultura de cana-de-açúcar na região, que contribui para a elevação
da crise dos alimentos no país.
Durante a ocupação, os agricultores destruíram mudas de variedades de
cana, inclusive espécies transgênicas, e cortaram cerca de dois dos 100
hectares de cana-de-açúcar plantadas na Estação.
A Estação Experimental é uma Parceria Público-Privada entre o Sindaçúcar
(Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool), que reúne as 20 maiores
usinas estaduais, e a Universidade Federal Rural de Pernambuco. Com 250
hectares, a área poderia assentar cerca de 50 famílias Sem Terra e
produzir alimentos para abastecer as feiras da região.
Em Petrolina, agricultores da Via Campesina ocuparam a barragem da usina
de Sobradinho para denunciar que os grandes projetos de irrigação
beneficiam apenas os latifundiários do agronegócio, especialmente o
projeto de transposição do Rio São Francisco, o Pontal Sul, em Petrolina,
e o Projeto Salitre, na cidade vizinha de Juazeiro, na Bahia.
Depois de investimento publico em infra-estrutura de irrigação (no caso do
Pontal Sul já foram investidos cerca de 250 milhões de reais), essa
estrutura é privatizada nos acordos de Parceria Publica Privada (PPP).
Na Paraíba, mais de 200 trabalhadores rurais da Via Campesina ocuparam o
latifúndio Nossa Senhora de Lourdes, localizado a 5 km da cidade de Mari,
que possui 1.100 hectares com a monocultura da cana. A propriedade de
Carlos Ribeiro Coutinho foi arrendada para a Usina Jacungu.
"Os integrantes da Via Campesina denunciam o modelo agroexportador, e a
opção do governo por ele. Expandido a monocultura da cana de açúcar, cada
vez menos terra sobra para ser feito a Reforma Agrária e para a produção
de alimentos", denuncia Dilei Aparecida, da coordenação estadual da Via
Campesina.
No domingo, 150 famílias ocuparam um latifúndio nas Várzeas de Sousa e
ainda permanecem acampadas no local para denunciar a opção do governo de
expandir o agronegócio na região, beneficiando o Grupo Santana Sementes.
Desde domingo, os fiscais da área estão fazendo varias ameaças às famílias
acampadas, mas elas permaneceram resistindo no local.
No Rio Grande do Sul, trabalhadores do campo e da cidade ocuparam cedo da
manhã desta terça-feira (10) a transnacional de alimentos Bunge, na cidade
de Passo Fundo (região Norte gaúcha). Os camponeses e trabalhadores
denunciam o monopólio que as empresas de alimentos, como a Bunge,
implementam no mercado, definindo os preços pagos pelo trabalhador nos
supermercados, que estão cada vez mais caros.
O Ministério da Agricultura concluiu em estudo que a Bunge, no Brasil
desde 1938, montou um oligopólio no setor brasileiro de fertilizantes e
vem sendo responsável pela alta do preço dos alimentos, com os altos
custos de produção de lavouras. Além disso, a Bunge precisou ser intimada
pela Justiça em 2007 para rotular como produto que contém transgênico o
seu azeite Soya, pois escondia essa informação da população.
Em Santa Catarina, cerca de duas mil pessoas, nas cidades de Otacílio
Costa e Maravilha, farão atividades contra a alta dos preços dos alimentos
e a degradação do meio ambiente. Serão distribuídas 15 toneladas de
moranga, produzidas em assentamentos do MST. Também serão plantadas
centenas de árvores na cidade de Maravilha, numa ação contra o Deserto
Verde, causado pelo monocultivo de eucalipto e pinus.
Em Minas Gerais, 500 pessoas participantes da Assembléia Popular
bloquearam a linha férrea da mineradora Vale, na altura do bairro São
Geraldo, em Belo Horizonte, para denunciar os problemas causados pela
passagem do trem. O trem bloqueia a passagem de veículos por até 2 horas
e, desde o ano passado, já morreram 04 pessoas dentro de ambulâncias,
inviabiliza as aulas da Escola Municipal Pe. Francisco Carvalho Moreira
por causa do barulho e abala a estrutura das casas.
Os integrantes da Assembléia Popular de Belo Horizonte, nos bairros de São
Geraldo, Caetano Furkim, Boa Vista, Casa Branca e Vila Mariana de Abreu
pedem a transposição da linha há 25 anos e a indenização das famílias que
perderam parentes. Em 2007, paralisaram a passagem do trem por duas
ocasiões e nenhuma das promessas foram cumpridas.
Na cidade de São Paulo, cerca de 600 trabalhadores rurais da Via Campesina
e integrantes da Assembléia Popular ocuparam prédio da Votorantim para
denunciar os impactos ambientais da construção da barragem de Tijuco Alto,
no Rio Ribeira de Iguape, que corta os estados de São Paulo e Paraná.
O Ibama reprovou duas vezes os Estudos de Impacto Ambiental (EIA/Rima)
apresentados pela companhia. A empresa enviou um novo relatório em 2005 e
ainda não recebeu parecer conclusivo do Ibama. Ainda existem duas
pendências: uma referente ao dispositivo legal que permite a inundação de
cavernas (há duas na área a ser alagada), e outra relativa à revalidação
do direito de uso dos recursos hídricos do rio Ribeira, a cargo da Agência
Nacional de Águas (ANA).
O Relatório de Impacto Ambiental (Rima) do projeto de Tijuco Alto aponta
que 51.8 quilômetros quadrados da região serão inundados, sendo que 46%
são terras aptas para a agricultura e 35% para pastagem. O Rima afirma
ainda que 689 famílias terão suas vidas afetadas pela criação da barragem.
Toda a energia produzida por essa hidrelétrica será destinada à CBA
(Companhia Brasileira de Alumínio), pertencente ao grupo Votorantim.
No Ceará, cerca de mil trabalhadores rurais da ocuparam o Porto do Pecém,
situado em São Gonçalo do Amarante (região metropolitana). Foram fechadas
as áreas de carga e descarga do terminal em protesto contra o projeto de
instalação de cinco termoelétricas, uma refinaria e uma siderúrgica no
complexo, que vão causar danos ambientais e sociais.
Além disso, os trabalhadores protestam contra a alta dos preços dos
alimentos, transposição do Rio São Francisco e instalação de uma refinaria
da Petrobrás, que será construída em cima da bacia hidrográfica e o
consumo de água será equivalente a uma cidade de 30 mil habitantes.