Jornada de lutas mobiliza 15 estados e DF por Reforma Agrária e investimento nos assentamentos

MST protesta contra Vale em Belém

2008-04-18 00:00:00

Os 600 trabalhadores do MST, famílias e mutilados no Massacre de Eldorado dos Carajás ocuparam a sede da mineradora Vale para denunciar a campanha da empresa contra os movimentos sociais e em solidariedade aos integrantes do Movimento dos Trabalhadores e Garimpeiros na Mineração (MTM), que fizeram protesto em Parauapebas na manhã desta quinta-feira (17/4).

As famílias vítimas fizeram um protesto simbólico, com uma ocupação de uma hora (entre 15h e 16h), depois saíram do prédio e participaram de ato em
memória aos 19 trabalhadores mortos no Massacre de Eldorado dos Carajás,
que completa 12 anos de impunidade hoje. Nada foi quebrado da
manifestação.

"A nossa ocupação simbólica foi um ato em protesto contra as declarações
criminosas da diretoria da Vale. Bandidos são os diretores da Vale, que
não têm apreço pela democracia, prejudica comunidades e desrespeita os
movimentos sociais e o povo brasileiro. . Vamos seguir a luta pela sua
reestatização para resolver essas problemas e resgatar um patrimônio da
Nação", disse o integrante da coordenação nacional do MST, Ulisses
Manaças.

Os trabalhadores que fizeram ocupação estavam acampados em frente ao
Palácio dos Despachos no Pará, sede do governo do estado, desde
segunda-feira, para cobrar da governadora Ana Júlia Carepa (PT) o
cumprimento de suas promessas de 2007. Leia depois do balanço nota do MST
sobre manifestação do MTM em Parauapebas.

Balanço nacional

Nesta quinta-feira (17/04), dia em que o episódio conhecido como Massacre
de Eldorado dos Carajás completa 12 anos sem que nenhum responsável tenha
sido preso, o MST realizou protestos em 15 estados e no Distrito Federal
na jornada nacional de lutas por Reforma Agrária, para exigir o
assentamento das 150 mil famílias acampadas no país, investimentos
públicos na produção agrícola e habitação em assentamentos.

As famílias Sem Terra exigem também mudanças na política econômica para
criar condições para a sustentabilidade de um modelo agrícola baseado em
pequenas e médias propriedades. Foram realizados protestos em Pará,
Pernambuco, Sergipe, Paraíba, Ceará, Roraima, Maranhão, Pará, Piauí, Rio
Grande do Sul, Distrito Federal, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio
de Janeiro e Mato Grosso.

"A Reforma Agrária está emperrada no país por causa da política econômica,
que beneficia as empresas do agronegócio, concentra terras e verbas
públicas para a produção de monocultura para exportação. O governo precisa
apoiar a pequena e média produção agrícola para fortalecer o mercado
interno, garantir a produção de alimentos para a população e a preservação
do meio ambiente", afirma José Batista de Oliveira, da coordenação
nacional do MST.

No Paraná, para denunciar os 12 anos de impunidade do Massacre de Eldorado
dos Carajás e cobrar agilidade no processo de Reforma Agrária, milhares de
trabalhadores do MST (Movimento dos Sem Terra), realizam hoje (17/04),
mobilizações em várias praças de pedágios do Paraná.

O MST também protesta contra a violências das milícias armadas no Paraná,
as privatizações das rodovias federais e estaduais e as tarifas abusivas.
Foram ocupadas as praças de Paranaguá, São Miguel do Iguaçu, Marialva,
Campo Mourão e São Luiz do Purunã. Atualmente, os pedágios são um dos
principais entraves da agricultura camponesa e familiar, pois encarece o
transporte e distribuição dos produtos agrícolas, prejudicando os
produtores no campo e os consumidores.

Em São Paulo, duas agências do Banco do Brasil foram ocupadas, nos
municípios de Sorocaba e Andradina. Entre as reivindicações estão a
criação de um novo crédito para a Reforma Agrária. A nova linha de crédito
seria para, entre outras coisas, criar as condições de produção de
auto-consumo e de infra-estrutura nos primeiros anos dos assentamentos.
Cerca de 400 trabalhadores rurais ocuparam a fazenda Saltinho no município
de Americana, região de Campinas. A área de 216 hectares faz parte de um
complexo de terras de 8,5 mil hectares utilizados indevidamente pela Usina
Ester para o plantio de cana-de-açúcar.

Em Pernambuco, cerca de 3.000 trabalhadores rurais marcharam pela capital
Recife, desde a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra), onde 700 Sem Terra já estavam acampados desde ontem (16),
até o Palácio das Princesas, onde foi entregue uma pauta de reivindicações
ao governador do estado. Além do assentamento das 14.000 famílias
acampadas no estado, os Sem Terra reivindicam investimento publico nas
áreas de assentamento, principalmente em relação à habitação,
infra-estrutura, créditos de fomento à produção agrícola e assistência
técnica.

No Rio Grande do Sul, quatro rodovias foram bloqueadas no estado por 19
minutos. Os bloqueios ocorreram na BR-356 em Nova Santa Rita e nas
rodovias estaduais de Tupanciretã, Bossoroca e Nonoai. Em Coqueiros do
Sul, no Norte do estado, cerca de 200 acampados entraram na Fazenda
Guerra, onde colocaram cruzes de madeira e faixas lembrando os
companheiros mortos no Pará. As famílias já saíram do local. Em São
Gabriel, os 800 integrantes do MST seguem na ocupação da Fazenda Southal,
exigindo a desapropriação da área, que possui uma dívida de R$ 50 milhões
com o governo federal, para a reforma agrária.

Em Santa Catarina, 500 trabalhadores rurais chegaram pela manhã a Chapecó,
onde ocuparam a sede do Incra para reivindicar o assentamento das 700
famílias acampadas no estado, além da construção de 1050 casas em
assentamentos. De lá, realizaram uma marcha até a Praça Central da cidade
para lembrar o Massacre de Eldorado dos Carajás.

Na Paraíba, foram ocupadas 6 fazendas em todo o estado, além do fechamento
da rodovia que liga Catingueira ao Piancó, na região do sertão. 70
famílias ocuparam uma área próxima ao município de São Mamede; cerca de
100 famílias ocuparam fazenda a 3km do município de Imaculada; 70 familias
ocuparam fazenda próxima ao município de Santa Terezinha e 60 familias
ocuparam fazenda próxima ao município da Santana dos Garrotes. Além disso,
60 familias ocuparam a Fazenda Serra Preta, a 2 km do município de Algodão
de Jandaira.

Em Sergipe, cerca de 850 famílias ocuparam a usina hidrelétrica de Xingo,
no município de Canindé de São Francisco. "Exigimos o reinício das obras
do canal de irrigação do projeto Jacaré Curituba, que há 10 anos amarga o
descaso da empreiteira", disse o integrante da coordenação nacional do
MST, João Daniel. A usina pertencente ao grupo Chesf (Companhia Hidro
Elétrica do São Francisco) e é gerenciada pelo grupo Codevasf (Companhia
de Desenvolvimento
do São Francisco), que há um ano reatem os 51 milhões para a finalização
da obra.

No Rio de Janeiro, diversos movimentos e entidades entregaram uma carta
aberta ao Incra no Rio, pedindo medidas do governo contra a impunidade do
Massacre de Eldorado dos Carajás e a agilidade no processo de reforma
Agrária. A Carta foi entregue ao Superintendente Mario Lúcio, por
representantes da CMP, Justiça Global, MST, Deputado Estadual Marcelo
Freixo, PACS, entre outros.

No Distrito Federal, cerca de 400 trabalhadores ocuparam a
Superintendência Regional do Incra DF para reivindicar o assentamento das
1.200 famílias acampadas e a construção imediata de 300 casas nos
assentamentos da região, além de crédito para recuperação de casas e
assistência técnica. Os Sem Terra estão reunidos com o presidente da
autarquia, Rolf Hackbart.

No Maranhão, cerca de 300 Sem Terra ocuparam a sede do Incra em
Imperatriz. Os trabalhadores reivindicam o assentamentos das 2,8 mil
famílias acampadas no estado, e cobram crédito para infra-estrutura nos
asssentamentos.

No Piauí, cerca de 300 pessoas ocuparam a sede da Caixa Econômica Federal
de Teresina. No início da tarde, saíram do prédio e marcharam até a sede
do Incra, onde permanecem mobilizados.

No Ceará, foram bloqueadas a BR-116, a 160 km de Fortaleza, com 400
pessoas, e a BR-020, no município de Boa Viagem, com 500 pessoas. Em
Canindé, acontece marcha com 700 pessoas em direção a praça Tomás Barbosa,
no centro da cidade, onde acontecerá audiência pública no Incra.

Em Roraima, cerca de 200 trabalhadores rurais Sem Terra ocuparam uma área
da União no município de Bomfim, a 60 km de Boa Vista. Outros 200 Sem
Terra ocuparam a sede do Incra em Boa Vista.

No Mato Grosso, cerca de 300 integrantes do MST bloquearam hoje a BR-070,
que liga o país à Bolívia, na região oeste do Estado. Os manifestantes
permitiram apenas a passagem de ambulâncias pela barreira.

Em Minas Gerais, mais de 500 trabalhadores e trabalhadoras sem terra
ocupou a fazenda Correntes, no município de Jequitaí, Região Norte de
Minas, que é improdutiva.

No final, leia nota do MST sobre o protesto do MTM, que aconteceu hoje
pela manhã em Parauapebas.