Via Campesina faz mobilizações contra o agronegócio e a monocultura

2008-03-06 00:00:00

A Via Campesina Brasil realizou protestos e marchas por Reforma Agrária e contra o agronegócio, nesta quinta-feira (06/03), em diversos estados, dentro das atividades organizadas em torno da semana do Dia das Mulheres. Já aconteceram atividades em Rio Grande do Sul, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Rondônia.

"A Via Campesina está tentando ao longo dos anos, juntos com alguns movimentos de mulheres da cidade, resgatar o dia das mulheres como um período de lutas. Hoje essa luta tem crescido por causa do avanço do agronegócio no campo, que atinge principalmente as mulheres e as crianças", afirma a integrante da coordenação setor de gênero, Lourdes Vicente.

As manifestações contra a violência da Brigada Militar do Rio Grande do Sul e a denúncia de compra de terras ilegais em área de fronteira pela empresa sueco finlandesa Stora seguiram com protestos no interior do estado e audiência em Brasília. As mulheres receberam também mensagens de apoio de diversas entidades e personalidades, que condenaram a violência da polícia (veja em http://www.mst.org.br/mst/pagina.php?cd=5000).

Em Santana do Livramento, as 900 trabalhadoras rurais fizeram caminhada à Praça Binacional, na fronteira com Rivera, onde realizaram um ato político contra a Stora Enso, que descumpre a legislação brasileira e usa empresas laranja para comprar terras a menos de 150 km da fronteira, como determina a Constituição Federal.

Em Encruzilhada do Sul, 600 camponesas fizeram marcha até a Fazenda Bota, da Aracruz Celulose, para denunciar os prejuízos ambientais do plantio de pinus e eucaliptos e a violação de direitos trabalhistas dos funcionários que atuam no corte da madeira.

Cerca de 250 mulheres realizaram caminhada em direção à Superintendência Regional da Polícia Federal, em Porto Alegre, para cobrar informações sobre a investigação da compra ilegal de terras na faixa de fronteira pela Stora Enso.

Em Brasília, mulheres da Via Campesina denunciaram truculência do governo do RS e ilegalidade da Stora Enso a ministros, parlamentares e diplomatas. Em audiência com o ministro da Justiça, Tarso Genro, militantes da Via Campesina e parlamentares encaminharam no início da manhã o depoimento da militante ferida durante o conflito com a Brigada Militar Gaúcha em Rosário do Sul, Maraísa Talaska. Funcionários da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça devem encaminhar a denúncia aos órgãos responsáveis. Durante a audiência com o ministro da Justiça, foram apresentados os documentos que comprovam a situação irregular da empresa Stora Enso no Brasil.

Maraísa, ainda pela manhã, também foi ao Senado Federal participar da abertura da subcomissão de "Defesa da Mulher" da Comissão de Direitos Humanos da casa. Na presença de senadores e artistas, a militante da Via Campesina mostrou em sua pele o resultado da ação violenta da Polícia Militar do Rio Grande do Sul. A senadora Ideli Salvati (PT/SC) e o senador Paulo Paim (PT/RS) se comprometeram em realizar audiências públicas sobre o tema. Na Embaixada da Suécia, a comitiva formada por integrantes da Via Campesina e parlamentares entregou o dossiê sobre a atuação ilegal da Stora Enso no país e sobre a violência contra as mulheres cometida pelo governo gaúcho. Ao receber os documentos, os secretários das embaixadas da Suécia e da Finlândia revelaram um quadro bastante preocupante para o povo brasileiro: a Stora Enso está fechando suas fábricas na Suécia para passar a atuar exclusivamente no chamado "Terceiro Mundo".

Em Pernambuco, as mulheres camponesas fizeram três manifestações contra o agronegócio e a monocultura da cana-de-açúcar. Cerca de 500 mulheres da Via Campesina ocuparam a sede da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco), em Petrolina, sertão de Pernambuco, em protesto contra o modelo de desenvolvimento implantado na região, que beneficia empreendimentos de irrigação de empresas do agronegócio, como o projeto de transposição do Rio São Francisco, o Pontal Sul, em Petrolina, e o Projeto Salitre, na cidade vizinha de Juazeiro, na Bahia.

No município de Gameleira, 600 mulheres ocuparam o Engenho Pereiro Grande da Usina Estreliana para denunciar a violência utilizada dos usineiros da região. Há dez anos, foi decretada a falência da usina por dívidas com órgãos públicos. Na cidade de Água Preta, na mata sul, foi ocupada casa grande do engenho Cachoeira Dantas. Em fevereiro, cerca de 66 famílias de trabalhadores rurais que moravam e plantavam no engenho foram despejados por decisão liminar sem possibilidade de defesa dos camponeses. Os trabalhadores foram demitidos pelo antigo proprietário e não tiveram seus direitos trabalhistas pagos.

Em Alagoas, 3.000 famílias de trabalhadores rurais da Via Campesina fizeram grande marcha de mulheres pelas principais ruas de Maceió e entregaram pauta de reivindicações ao ao governo do estado e ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).

Na Bahia, a Via Campesina promove a partir de hoje o 8º Acampamento de Mulheres com o lema: "Mulheres Sem Terra e Indígenas em defesa da soberania alimentar, contra o agronegócio e as transacionais no campo", na Escola Parque, bairro Caixa D´Água, em Salvador, com 1.500 mulheres, para debater a necessidade de mudanças nas relações de gênero no campo

No estado de Mato Grosso, dois encontros reúnem mulheres da Via Campesina, que discutem as conseqüências do avanço do agronegócio sob a perspectiva feminina. No município de Cáceres, região sudoeste, participam 200 mulheres e, em Sinop, na região norte, 150 mulheres. Os encontros pretendem debater .

"O ânimo e a determinação de luta é a marca dos encontros. Todas estamos indignadas com a ação da Brigada Militar e do governo do Rio Grande do Sul e solidárias às mulheres que mais uma vez demonstram coragem e determinação nessa nossa luta permanente contra o agronegócio e o deserto verde", diz Itelvina, da direção do MST.

Em Rondônia, cerca de 300 mulheres da Via Campesina fizeram marcha até as Centrais Elétricas de Rondônia S.A (Ceron), em Porto Velho, onde entregaram coletivamente as autodeclarações que garantem a Tarifa Social de energia para as famílias que consomem até 140 kwh por mês.

O protesto denuncia o subsídio energético dado às empresas e multinacionais pela Eletronorte, que é a principal acionista da Ceron. A Alcoa e a Vale, por exemplo, possuem indústrias de alumínio e ferro no norte do país (a Alumar e a Albrás) e, desde 1984, recebem energia subsidiada (a preço real de custo) da Eletronorte.