Brasil: Povos decidem lutar por lei de radiodifusão comunitária
Em encontro, povos do Nordeste decidem lutar por lei de radiodifusão comunitária que respeite suas características
DOCUMENTO FINAL DA OFICINA DE ÁUDIO
Os povos indígenas Truká, Pankararu e Xukuru de Ororubá (Pernambuco) Potiguara (Paraíba), Pataxó Hã-Hã-Hãe e Pataxó (Bahia) e as entidades Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Rádio Netherlands, reunidos na Oficina de Áudio para os Povos Indígenas no período de 03 a 06 de junho de 2007, na aldeia Caramuru do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, no sul da Bahia percebemos que a interação da comunidade com os diversos meios de comunicação presentes em nossas comunidades se tornam cada vez mais importante para o fortalecimento de nossas lutas em seus diversos aspectos (luta pela terra, educação, saúde, lazer, etc), favorecendo a articulação e a organização. Bem como sentimos a necessidade de nos qualificar e conhecer melhor estes diversos meios para utilizá-los da maneira que traga benefícios para os nossos povos.
Entre vários assuntos, analisamos a Lei 9612/98, que trata da radiodifusão comunitária no Brasil e chegamos às seguintes conclusões:
• Esta Lei é prejudicial às comunidades indígenas, pois não respeita os nossos direitos constitucionais, não leva em conta as nossas formas tradicionais de organização, nos impondo uma integração forçada na Sociedade Nacional;
• As exigências estabelecidas na referida Lei não respeitam as formas próprias, usuais, da organização social de nossos povos e muitas vezes causam prejuízos as nossas comunidades que buscam apenas ser beneficiadas pela Lei;
• Ela é extremamente limitante, com seu raio de abrangência de 01 quilômetro, não permitindo a criação de redes e não atende as necessidades dos povos indígenas se tornando inadequadas as comunidades;
• As rádios comunitárias são invisíveis no dial das rádios;
• Toda sua concepção visa atender a populações urbanas e não leva em conta as comunidades tradicionais;
• O seu processo de legalização é altamente burocrático e não contempla os interesses das comunidades indígenas;
Diante de tais constatações chegamos às seguintes conclusões:
• Reivindicar das autoridades competentes a criação de uma lei especifica de radiodifusão que respeite os nossos direitos constitucionais e levem em conta as nossas organizações sociais e nossas necessidades;
• A necessidade de fortalecer a organização dos Povos Indígenas para denunciar o Governo Brasileiro pela falta de respeito aos nossos direitos constitucionais e compromisso com as comunidades indígenas;
• Cobrar a imediata aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas proposto pelas comunidades indígenas;
• Promover intercâmbio entre as áreas indígenas que tem alguma discussão sobre sistemas de comunicação;
• Contactar um especialista em comunicação para estudar as reais possibilidades que venham atender as demandadas das comunidades indígenas;
• Orientar os comunicadores comunitários a entrarem com Hábeas Corpus preventivo visando não serem presos, e com Mandados de Segurança para proteger os equipamentos;
• Articular com outras comunidades tradicionais e movimentos (Quilombolas, MST, MAB) lutas conjuntas que garantam sistemas de comunicação viáveis e que respeitem as especificidades das nossas comunidades;
Definimos pela:
• Realização de um seminário sobre comunicação em áreas indígenas a ser realizado na área de atuação da APOINME, onde se possa discutir e viabilizar diversas formas de garantirmos uma comunicação que venha a atender as nossas demandas;
• Agendar uma reunião com representantes do Governo Federal (Ministério das Comunicações, Funasa, Ministério da Cultura), APOINME, COAIB, Rede Índios on-line Cimi, etc. para discutir e apresentar as reivindicações dos Povos Indígenas em relação ao sistema de comunicação;
• Cobrar da Funasa e Ministério das Comunicações (programa Gesac) o cumprimento do acordo em que as partes citadas se comprometeram para a instalação de ate 220 pontos de internet nas áreas indígenas. Desde novembro de 2007, o Gesac já gastou mais de R$ 30 mil em seis pontos com instalação e manutenção das antenas, pelos quais paga R$ 989,00 por mês, e que não funcionam porque ainda não receberam os computadores, de responsabilidade da Funasa. Se preciso for, acionar o Ministério Público Federal para agilizar o cumprimento deste acordo. Estabelecer prazos e responsabilidades;
Acreditamos que para avançar nesta luta e enfrentarmos estes novos desafios apresentados às nossas comunidades é preciso unir forças não só entre nós povos indígenas, mas com outros oprimidos pela mídia dominante. Nos solidarizamos com o movimento de rádios comunitárias na necessidade de uma completa revisão da legislação sobre comunicação comunitária, que hoje dificulta a existência de veículos comunitários no Pais.
Por uma comunicação diferenciada e inclusiva é que lutamos.
Aldeia Caramuru, 06 de junho de 2007