Organizações urbanas defendem unificação da luta dos trabalhadores
Márcio de Castro - o Monga – é um dos três dirigentes da torcida organizada “Gaviões da Fiel” que marcou presença e acampou no 5º Congresso do MST, em Brasília. Quando questionado sobre o porquê do apoio de uma das principais torcidas do futebol brasileiro para a luta pela Reforma Agrária, a resposta foi simples: “as lutas dos trabalhadores têm pontos em comum e o inimigo é o mesmo”. A resposta de Monga aponta para uma articulação entre os trabalhadores do campo e da cidade.
A “Gaviões da Fiel” é uma torcida ampla, que abriga diferentes classes sociais, porém, para Monga, todas elas têm em comum o fato de conhecer o MST pelas notícias veiculadas nos meios de comunicação empresariais, o que significa que existe um grande preconceito a ser quebrado. “Prestamos atenção no eixo rural, porque os trabalhadores estão deixando o campo e migrando para as cidades, que hoje acumulam gente e não oferecem emprego”, afirma. A participação de Monga é um sinal da articulação que volta a ser feita entre o operariado e o campesinato.
O primeiro ensaio dessa articulação aconteceu durante a Jornada Nacional de lutas do dia 23 de maio, quando todos os trabalhadores se unificaram para protestar contra a perda de direitos. O membro da coordenação nacional do MST, Gilmar Mauro, analisa que este apoio mútuo ainda está se construindo, partindo do atual contexto de fragmentação entre as organizações de esquerda.
De acordo com Mauro, existe uma crise dos instrumentos políticos construídos ao longo dos anos 1970 e 1980, cujo objetivo era uma “revolução democrática e popular”, nas suas palavras. Agora, é necessária a superação dialética, e a criação do novo a partir do velho. “Do ponto de vista político, temos que manter relação com os instrumentos históricos, mas fortalecer os novos mecanismos, pois temos coisas novas sendo feitas”, aponta. Para ele, um espaço para a construção, dentro de um novo ciclo, é a Assembléia Popular.
O MST e a luta dos trabalhadores
De acordo com Zé Maria, do Conlutas – uma das organizações sindicais presentes na abertura do 5º Congresso do MST – a aliança entre as lutas no campo e na cidade é indispensável. Ele analisa que a realidade brasileira, na qual mais de 80% dos trabalhadores estão concentrados na cidade, reforça a necessidade do MST atuar ao lado dos movimentos urbanos. Ele diz que também é verdade que as lutas da cidade ganharam força no momento quando os movimentos do campo incluíram nas suas demandas a luta contra as reformas trabalhista e previdenciária.
“Nós estamos na luta pela democratização da terra, para que os pequenos agricultores produzam para a população (...) A luta é conjunta para a socialização da terra, assim como para a democratização da moradia na cidade, pela expropriação dos bancos, das fábricas, e também do latifúndio”, comenta.
Mas a luta só pode ser feita com ações concretas. Emanuel Melato, da Intersindical, lembrou na sua fala, durante a abertura do Congresso, que a Jornada do dia 23 fechou 40 rodovias no Brasil todo. Contou, para isso, com a presença do MST para impedir a circulação de mercadorias.
Por sua vez, Monga, da “Gaviões da Fiel”, conta que os membros da torcida organizada participam dos cursos de formação do MST. Já Gilmar Mauro, por sua vez, cita que vem acontecendo a participação e o aprendizado conjunto dos trabalhadores do campo nas paralisações sindicais e dos trabalhadores da cidade durante as ocupação de terras.