Dívida externa e militarização do continente a serviço da Alca
No dia 27, os participantes da oficina “Dívida e Militarização”, atividade do III Encontro Hemisférico de Luta contra a Alca, que ocorre em Havana, Cuba, até o dia 29, concluíram que o governo estadunidense faz uso de pressões econômicas e militares para obrigar países da América Latina a negociarem tratados de livre comércio. A professora mexicana Ana Esther Ceceña, conferencista do evento, salientou que ter o controle total das Américas é fundamental para a sobrevivência do sistema político dos Estados Unidos e, por isso, a região se transformou em assunto de segurança nacional para os governantes deste país.
Para Ana Esther, a proliferação de bases militares estadunidenses no continente é um meio de vigiar as mobilizações dos movimentos sociais. Ela afirmou que a ação dos militares dos Estados Unidos se dá de duas formas: reprimir as pessoas que resistem às políticas defendidas por Washington e impedir que cresça a organização popular.
Jaime Stay, da Benemérita Universidade de Puebla, México, explicou que o controle estadunidense também se dá por meio da dívida externa, que condena países à dependência econômica em relação aos Estados Unidos. Segundo Stay, a dívida externa da América Latina tem crescido no decorrer dos anos: de 1982 a hoje, ela passou de 330 a 745 bilhões de dólares. Neste período, ele destacou, os países da região já pagaram 900 bilhões de dólares em juros.
Para Stay, a dívida influi na capacidade dos países latino-americanos em negociar acordos de livre comércio com os Estados Unidos. “Não há igualdade nas negociações, pois os Estados Unidos são o país que mais empresta dinheiro. Nunca há igualdade de força entre quem empresta e quem deve”, salientou.
A coordenadora do Jubileu Sul na Argentina, Beverly Keene, afirmou que os acordos pelos quais são decididos os empréstimos já carregam o plano de anexação da América Latina pelo sistema político dos Estados Unidos. Segundo ela, ao dar empréstimos, o Fundo Monetário Internacional obriga a uma série de ajustes sociais e culturais, que tiram a governabilidade dos presidentes latino-americanos.
“A dívida é insustentável e ilegal, pois a maior parte dela foi contraída durante regimes militares ilegítimos, e é hora de priorizar as políticas sociais”, Beverly disse. Nesse sentido, para ela, é fundamental mobilizar-se contra o pagamento da dívid.