CUT quer o governo Lula fora das negociações da Alca

2002-12-10 00:00:00

Quito - A Central Única dos Trabalhadores (CUT) defendeu nesta
quarta-feira que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva abandone as
negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Em um
sinal de que não aceitará todas as decisões do novo governo, apesar
da histórica ligação entre o PT e a central sindical, o diretor de
relações internacionais da CUT, Kjeld Jacobsen, argumentou que a Alca
não apresenta possibilidade de vantagem para o Brasil e que,
portanto, esse acordo seria contraditório com a agenda de crescimento
econômico defendida por Lula. Jacobsen participou hoje, em Quito, no
Equador, da Jornada de Resistência Continental contra a Alca, um dos
eventos do Fórum Social que está sendo realizado em Quito
paralelamente à reunião de ministros.

"Há diferença entre o sindicalismo e o governo do PT, por melhores
que sejam as relações que tenhamos. Nós, da CUT, preservamos nossa
autonomia", afirmou Jacobsen, ao ser questionado sobre a recente
mudança do discurso do PT, que agora assumiu uma linha mais tolerante
e aberta às negociações da Alca. "A Alca apresenta mais desvantagens
que vantagens para o Brasil, principalmente para setores que são
geradores de empregos. Para nós, esse acordo vai custar postos de
trabalho e, por isso, achamos que o governo deva sair das
negociações".

Em seu ponto de vista, o futuro governo poderá contornar uma das
falhas da atual administração caso exponha à sociedade quais são,
pontualmente, suas metas em relação à Alca - assim como os Estados
Unidos vêm fazendo nos últimos anos. Se o governo Lula vier a deixar
claro onde quer ganhar e onde está disposto a abrir concessões,
Jacobsen acredita que a Alca não interessará mais aos Estados Unidos
e, portanto, será abortada. "Se Lula implementar a agenda de
crescimento econômico que vem defendendo, a Alca não caberá nela. As
condições que o Brasil apresentar tampouco seriam aceitas pelos
Estados Unidos", afirmou.

Nesta sexta-feira, os participantes do Fórum Social deverão marchar
pelas ruas centrais de Quito em protesto contra a Alca e em defesa de
um projeto alternativo de integração das Américas, mais voltado para
uma agenda de desenvolvimento e de ação social. O ponto final das
manifestações será o hotel onde transcorrem as negociações
preliminares para a reunião dos ministros dos 34 países, sob forte
proteção policial.

Em São Paulo, antes de se reunir com Lula, o presidente da Central,
João Felício, afirmou hoje que a sociedade brasileira será
surpreendida com um novo conceito de negociação permanente, iniciada
pelo presidente eleito, com os movimentos sindicais. No entanto, ele
negou que a CUT negocie uma trégua com o governo eleito. "Não
seremos instrumento do esquerdismo infantil, nem da direita
desavergonhada, que farão alianças para desestabilizar o futuro
governo", afirmou.

O presidente da CUT disse que não abrirá mão das reivindicações
históricas da central, entre elas, a reposição das perdas salariais.
"O que conversamos hoje é a criação de uma nova relação entre a
Presidência da República com os movimentos sociais", disse Felício.