Povos indígenas enviam declaração aos presidentes da América do Sul
Numa assembléia de dar inveja à classe política profissional, lideranças
dos povos indígenas presentes na Cumbre Social aprovaram uma declaração que será entregue aos presidentes da América do Sul. Além desta, os 11 chefes-de-Estado que já confirmaram presença na II Cumbre da Comunidade Sul-Americana de Nações (CSN), que começa amanha em Cochabamba, irão receber uma carta-apoio que respalda as lutas do povo boliviano e o presidente Evo Morales.
Sob o título “Comunidade Sul-Americana de Nações para ‘viver bem’ sem neoliberalismo”, o “chamamento” – como foi identificado o documento para diferenciá-lo de uma proposta oficial – foi aprovado por unanimidade em plenária e referendado com a assinatura das pessoas presentes. “Isso para que não digam que esta Cumbre é do Evo, mas sim nossa”, disse uma das lideranças ao microfone.
A aprovação aconteceu após a mesa organizadora garantir que ao texto
seriam acrescentadas as recomendações que surgiram ao longo do debate. Como por exemplo: o uso ou não da palavra América no lugar do nome original do continente – Abya Ayla ––, o pagamento de indenização aos povos indígenas por parte dos países colonizadores (Portugal, Espanha, Inglaterra, e outros), a inclusão dos nomes de muitos outros heróis da luta dos povos indígenas que ainda são pouco conhecidos, a inclusão da discussão de gênero e a concretização de uma moeda única para os países sul-americanos. Houve também um pedido para que a CSN leve em conta a tradição da “oralidade” dos povos indígenas em seus espaços de debate.
OLHOS INDÍGENAS
Nessa espécie de assembléia era visível que “A integração da América do
Sul a partir do olhar dos povos indígenas” – nome da sessão temática –
anda a passos largos e fortes. Na mesa, mais de 15 representantes. Desde
quéchua bolivianos a Mapuche chilenos. De Aymara peruanos a Guarani Kayowá brasileiros.
“A profecia de Túpac Catari se concretiza”, disse uma liderança peruana ao
subir ao palco. Ao morrer, em 1781, Catari, traído após organizar um
exército de 40 mil indígenas em La Paz vaticinou: “Eu voltarei, e serei
milhões”.
Um outro participante, quéchua de Cochabamba, diz logo em seguida no
microfone: “Um homem não pode vender, nem traficar a sua mãe (...) Então,
não podemos deixar que isso aconteça com nossa Pacha Mama”, conclamando todos à defesa da Mãe Terra Sul-Americana, espoliada há mais de 500 anos.
Mariátegui também foi citado: “temos de ter em mente que a luta dos povos
indígenas de nossa América Latina deve estar sempre atrelada à luta dos
camponeses e dos operários”. E por fim, a receita recebida com aplausos:
“Os povos devem permanecer de pé, enquanto a oligarquia deve ser posta de joelhos”.
DECLARAÇAO
“Nós, das raízes profundas da hoje chamada “América do Sul”, nos dirigimos aos presidentes dos Estados-naçao, que são posteriores as nossas orgulhosas civilizações, eficazes e autônomas, que deram e seguem dando forma a estas terras (...) nossas propostas concretas para que seja possível uma outra forma de integração sul-americana distinta do
neoliberalismo, mediante outros enfoques do chamado “desenvolvimento”.
Não somos o folclore das democracias nem pedimos apenas direitos
setoriais. Somos atores para atingir mudanças estruturais que consigam
“Para Todos Tudo”.
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