O Grito das Américas

2002-02-18 00:00:00

Com todos os povos das Américas, nós, a partir de nossa mais (mais
profunda convicção) íntima verdade e da nossa utopia, queremos levantar a
voz e manifestar nossa inquietude e indignação diante de tantas
injustiças, praticadas há séculos contra nossos Povos pelo capital
internacional e por governos irresponsáveis.

Os povos (países) do Terceiro Mundo, como (em) nosso Continente,
ainda padecem, e hoje de modo sistematicamente estrutural, problemas
cruciais que atingem a maioria de sua (de seu povo) população. São
negados os direitos ao trabalho, alimentação, terra, habitação,(moradia
digna) educação e informação.

Globaliza-se a miséria, mas não o verdadeiro progresso. A
globalização gera dependência, e cerceia a soberania dos povos. Os
capitais circulam livremente, mas as pessoas não. Prioriza-se a
competitividade, em vez da solidariedade. Absolutiza-se a mercadoria ao
mesmo tempo em que são ignorados os valores éticos. Tudo tem (impõe-se
preço a tudo)preço, inclusive a dignidade humana. Depredam-se os recursos
naturais e se põe em risco a sobrevivência da humanidade. Privatiza-se a
terra e agora se tenta privatizar a água, a biodiversidade, as plantas,
os animais, quem sabe um dia os ventos, o sol... A cobiça está acima da
igualdade fraterna(fraternidade). A propriedade tem mais valor (acima da)
do que a vida.

Basta, esse sistema de morte não pode continuar!

Para isso, aqui, neste porto do Rio Guaíba, Porto Alegre e
solidário, encontram-se (encontramo-nos) pessoas de todo o Continente,
trabalhadores do campo e da cidade, habitantes de todos os rincões,(os
lugares) migrantes, jovens e estudantes, brancos, negros e indígenas;
homens e mulheres, crentes e não crentes, ecologistas, lutadores do
Povo... Viemos para gritar e manifestar ao mundo a nossa indignação e a
nossa esperança!

Porém, sabemos que não basta gritar. É necessário lutar
conscientemente, unindo as forças e as aspirações!

Para isso queremos fazer deste porto de encontro, um porto de
compromisso para cada uma e cada um de nós e para nossas respectivas
organizações.

* Lutaremos pelos direitos fundamentais de nosso povo: soberania,
identidade, autonomia, liberdade, alimento, trabalho, terra,
habitação(moradia digna), educação pública e gratuita...

* Lutaremos contra o monopólio da informação dos grupos econômicos
e dos governos imperialistas, que controlam os principais meios de
comunicação de massa.

* Lutaremos contra o capital financeiro e seus insaciáveis
interesses.

* Lutaremos contra o pagamento da Dívida Externa, a qual
denunciamos como verdadeira usura internacional.

* Lutaremos contra a violência e o machismo, contra a manipulação
política e a corrupção econômica.

* Juntemo-nos todas e todos, contra o domínio imperialista que
utiliza o FMI, o Banco Mundial e a OMC. Que favorece em nosso Continente
o militarismo, a violência, a repressão, com suas bases militares e com
os seus planos - Plano Colômbia, Plano Puebla-Panamá, Plana Dignidade
(Plano Dignidad) na Bolívia -... e sua ganância sobre a Amazônia.

* Juntemo-nos agora para desmascarar e combater a ALCA, que o
sistema quer nos impor, como uma nova forma, continental, de dominação
colonialista. Propomos especialmente que se realize neste ano de 2002, em
toda a Nossa América, um grande plebiscito,(uma) verdadeira consulta
popular continental, para que os nossos Povos decidam sobre a ALCA e
sobre todos os assuntos que nos afetam diretamente.

Conscientizemo-nos, organizemo-nos, em todos os espaços e
rincões(lugares). E caminhemos sempre com o povo, como povo.

Porto Alegre, Brasil,
Fórum Social Mundial,
4 de fevereiro de 2002