Fórum: defensores de migrantes criticam EUA

2006-03-08 00:00:00

CARACAS - Defensores dos direitos dos migrantes disseram ontem no VI Fórum Social Mundial que o chamado "muro da vergonha" que os Estados Unidos querem erguer na fronteira com o México tenta esconder o barateamento da mão-de-obra ilegal no país.
As organizações sociais que participam dos debates sobre emigração do FSM apontaram que os planos de Washington para conter a imigração ilegal pretendem reduzir os direitos dos trabalhadores ilegais latinos que moram nos EUA.
"É degradante que os EUA busquem seu desenvolvimento pisoteando ainda mais a dignidade dos pobres dos países subdesenvolvidos, embora também nestes as políticas migratórias estejam se endurecendo", disse o dominicano José Núñez, do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados para a América Latina e o Caribe.
Embora ainda deva ser analisado pelo Senado, o projeto de lei aprovado em 16 de dezembro pela Câmara de Representantes dos EUA, que prevê a construção do muro, transformará em criminosos os imigrantes ilegais e aqueles que os ajudem. Também eliminará o sorteio anual de vistos e permitirá à polícia local de cada estado - em particular dos 29 condados na faixa de fronteira com o México - que atue como agentes de imigração para prender imigrantes clandestinos.
Na opinião de Nuñez, as atuais políticas restritivas à emigração estão ligadas ao capitalismo, por meio dos tratados de livre comércio e da globalização, que precisa de mão-de-obra barata que não exija nenhum direito. Ele também criticou que seu país siga o exemplo e denunciou que a Chancelaria da República Dominicana construiu seu escritório de Migração com mão-de-obra ilegal haitiana.
De acordo com os organizadores do FSM, que acontece na Venezuela, nos debates sobre emigração será denunciada e identificada esta dupla moral, a fim de formular propostas comuns de luta contra este novo tipo de geração de pobreza. O chileno Diego Carrasco, presidente do Observatório Interamericano dos Direitos dos Migrantes, disse que o México também ergueu um muro em sua fronteira com a Guatemala.
"O endurecimento norte-americano gerou endurecimentos migratórios também na fronteira com a Guatemala e o mesmo em outros pontos da região: as fronteiras da Colômbia com o Equador, Venezuela, Panamá e Brasil; a do Haiti com a República Dominicana; a do Brasil com o Paraguai e Argentina, e a do Chile com a Bolívia e Peru", insistiu o ativista chileno.
"As organizações de defesa de direitos dos migrantes e de direitos humanos em geral presentes no FSM determinarão em Caracas que, no tema da integração regional, a sociedade civil tenha como eixo de mobilização a denúncia de todos esses muros", antecipou Carrasco. (EFE)