Protesto em defesa da soberania do Haiti
Brasileiros, Colombianos, Venezuelanos, Peruanos e Canadenses ocuparam,
ontem à
tarde, a frente da embaixada brasileira na Venezuela, em Caracas, para
reivindicar a saída de tropas militares do Haiti. Segundo o haitiano
Pierre
Antoine Lovinsky, da Fundação 30 de Setembro, já foram contabilizados
cerca
de 15 mil mortos desde fevereiro de 2004, quando houve a destituição do
ex-presidente Jean Bertrand Aristide, que foi forçado por tropas dos
Estados
Unidos, França e Canadá a deixar o país.
O Comitê pela Retirada das Tropas Brasileiras do Haiti, com sede no Rio
de
Janeiro e responsável pelo ato em Caracas, divulgou dados que indicam
que dos
US$ 2 bilhões de dólares que foram aprovados pela Organização das
Nações
Unidas (ONU) e pela Organização dos Estados Americanos (OEA) para a
reconstrução do Haiti, chegaram ao país apenas US$ 600 milhões,
destinados
à repressão da população pobre. Os recursos empenhados pelo Brasil em
sua
operação militar chegam a US$ 100 milhoes.
As eleições presidenciais, que poderiam trazer a normalidade
institucional ao
país, vem sendo adiadas pelo comando da ONU, cuja operação é dirigida
pelo
Brasil. "Isto porque todas as pesquisas apontam a vitória do candidato
apoiado
por Aristides", diz Estela Santos, membro do comitê.
Em documento divulgado durante o ato, o comitê expressou
descontentamento em
relação à forma como o governo de Luiz Inácio Lula da Silva vem
manipulando
as informações, sobretudo para os brasileiros, sobre o significado da
intervenção. O documento acusa o governo de aceitar a missão no Haiti
por
ter pretensões de assumir uma vaga permanente no Conselho de Segurança
da
ONU.
Diz um trecho do documento: "Ao contrário do que diz o governo de Lula
e
entidades de sua base de apoio, a presença das tropas brasileiras no
Haiti
não tem como finalidade garantir a paz. Existem diversas denúncias de
sua
participação em massacres em Porto Príncipe, com dezenas de vítimas,
principalmente mulheres e crianças".
História
Eleito em 1990, Aristides, foi derrubado por um golpe de Estado
promovido pelos
EUA. Depois, chegou a vier em Washington e retornou à ilha caribenha.
Eleito
novamente presidente, Aristides colocou em prática uma agenda de
caráter
neoliberal, o que gerou revolta em alguns segmentos da população, como
os
estudantes. Desgastado, Aristides sofreu, pela segunda vez, uma ação
imperialista, promovida desta vez não apenas pelos Estados Unidos, mas
também
por Canadá e Franca. Ele foi obrigado a deixar o poder em fevereiro de
2004 e
um governo provisório foi implantado, assegurado pela intervenção
militar.
Segundo o documento do comitê, o governo provisório se mostrou desde o
início
obediente às orientacoes do Banco Mundial, adotando uma política
econômica
que aprofundou o neoliberalismo, oferecendo vantagens às corporações
internacionais. Os EUA, desgastados internacionalmente com a
intervenção no
Iraque, deram às tropas internacionais da ONU, comandadas pelo exército
brasileiro, o papel de zelar pela segurança dos ricos e dos interesses
do
capital, contrariando os interesses da população haitiana. "As tropas
brasileiras estão interferindo no país com o papel de polícia de um
governo
subordinado a Washington, violando as regras de autodeterminacao dos
povos",
critica.