Imigrantes latino-americanos fazem do país estrangeiro uma nova!
No dia 28 de janeiro, durante VI Fórum Social Mundial, em Caracas, a Aliança Nacional de Comunidades Latinas Americanas e Caribenhas organizou um seminário no qual, imigrantes latino-americanos, residentes nos Estados Unidos, Argentina e Itália testemunharam a sua luta para fazer do país estrangeiro uma nova casa.
O Seminário se deu, no contexto, da II Jornada de Políticas Migratórias, realizada nos dias 25 e 26 de janeiro, que nos deu um panorama global do fenômeno das migrações, como andam as políticas migratórias, os problemas em relação às legislações migratórias nos paises de origem, destino e de transito de migrantes, a segurança nacional e as conseqüências dos acordos bilaterais na vida do povo latino-americano, principalmente dos paises mais pobres.
A cifra de migrantes é alarmente, chega a 89 milhões, dos quais 17 milhões estão sem documentos. Estados Unidos segue sendo o principal país de destino dos migrantes, porém nos últimos três anos, como lembrou Gerardo Cerdas Vegas “nos últimos três anos, tem aumentado o numero de paises expulsores da população, assim como aqueles que reúnem a tríplice condição de ser paises de origem, de transito e de destino de migrantes”, ou então paises de origem e destino de migrantes, como é o caso do Brasil, por exemplo. Hoje estimamos um numero aproximado de 1,5 milhões de imigrantes no Brasil, por sua vez os brasileiros no exterior chegam a aproximadamente três milhões, daí a preocupação de não só legislar sobre os imigrantes, mas também ter uma política de legislação que contemple ambas as partes, tanto a imigração como a emigração.
O agravamento das políticas restritivas depois do 11 de setembro tem conseqüências diretas nas manifestações de discriminação e xenofobia. Os governos em nome da segurança nacional, facilmente podem identificar o imigrante como ameaça e, portanto, puni-lo, quando não criminalizá-lo.
As zonas de fronteiras, vinculadas aos conflitos sócio-políticos e militares seguem constituindo-se em espaços físicos de vulnerabilidade dos e das migrantes, especialmente, no quíntuplo fronteira colombiana (Equador, Brasil, Venezuela, Panamá e Peru), Haití-República Dominicana, México - Estados Unidos, o que tem propiciado um crescente aumento de refugiados e pessoas em situação de refugio em toda a região.
Esses e outros são fatores que levaram as associações de imigrantes e organizações que trabalham com imigrantes a tomar um posicionamento político diante do enrijecimento das políticas migratórias, em relação aos paises de destino de migrantes, principalmente, Estados Unidos, como também fortalecer os espaços de articulação, com a finalidade de realizar ações de incidência política conjunta.
Nesse sentido, no seminário “Haciendo del Pais Extranjero Uma Nueva Casa-Perspectivas de Migrantes sobre la Integración”, percebemos que a realidade das migrações são diferentes em determinados contextos, como por exemplo, Estados Unidos, Itália e Argentina, porém o desejo de integração é igual, e o migrante transcende a dimensão espaço e tempo, na medida, em que, sem perder aquilo que o identifica como pessoa, numa cultura e origem determinada, faz a travessia da segunda fronteira, a mais difícil, passar do eu diferente, desconhecido pelo outro, para o novo desconhecido pelo imigrante surpreendente para todos.
Para patrícia Sobalvarro, imigrante nicaragüense Nos Estados Unidos “o fato de fazer do país estrangeiro uma nova casa, não se trata de abandonar aquilo que é característico de cada povo, mas de se incorporar”. Para que essa incorporação seja possível ela comenta que os valores são fundamentais para todo imigrante. A educação acrescenta “é importante para que a pessoa se integre e se supre, e, nesse sentido, o idioma é um ponto de apoio para que se possa entrar na cultura”.
O trabalho com as crianças, da segunda geração, na Argentina mostrou que as redes de imigrantes cada vez mais estão se organizando em torno de uma incidência política, num processo de comunhão e participação, onde se tenha em conta uma cultura de igualdade, mas isso ainda está distante, pois existe um conflito nas relações de poder entre um grupo e outro, isso aos poucos está sendo superado, e a segunda geração, nos mostra que é possível uma nova forma de relação e de organização na luta pela melhoria de vida para todos, “queremos melhoras para nós, mas também para os italianos” lembrou Paula Baudet Vivanco, imigrante chilena da segunda geração em Roma.
Concluindo, migrantes, somos todos nós e queremos um mundo mais justo para todos e todas. A bandeira levantada no I Fórum Social Mundial de Migrações em Porto Alegre, em janeiro de 2005 nos fez refletir sobre um novo conceito de cidadania, desde a ótica da cidadania universal. As II Jornadas Hemisféricas levantaram eixos comuns de preocupações e de propostas concretas de ação para as redes. O II Fórum Social Mundial das Migrações a ser realizado na Espanha em junho deste ano aponta para grandes desafios, pois o mundo conhecerá a luta dos imigrantes, e um outro mundo será possível, se a partir destas e outras iniciativas conseguirmos uma sociedade mais justa e solidária.