"Socialismo ou morte"

2006-01-28 00:00:00

Se alguém ainda tinha dúvidas, a noite do dia 27 serviu para tirá-las:
Hugo
Chávez, presidente venezuelano, é o maior líder da esquerda da América
Latina. Chávez subiu num palanque montado no Ginásio Poliedro para ele
pelos
movimentos sociais, com direito a distribuição de bandeirinhas e
cartazes
com sua foto para o público, rodeado de figuras históricas da luta
popular
como os cubanos Ricardo Alarcón e Aleida Guevara e de emergentes com a
estadunidense Cindy Sheeman. E não decepcionou. Fez um discurso de
esquerda,
muito de esquerda.

Todo o ginásio cantou de pé "A Internacional" na abertura do ato da
luta
antiimperialista e Chávez começou criticando os Estados Unidos, "o
império
mais perverso da história". E cínico, por não se assumir como tal. Além
disso, os Estados Unidos "falam em direitos humanos mas mantém presos
os
cinco cubanos, torturam prisioneiros em Guantánamo e protegem Posada
Carriles, um dos maiores terroristas do mundo", protestou.
Para ele, o império é bastante inteligente. Tenta dividir a esquerda
latinoamericana em duas: a dos "loucos", Chávez e Fidel Castro (Cuba) e
a
dos "estadistas", Lula (Brasil), Néstor Kirchner (Argentina) e Tabaré
Vázquez (Uruguai). "Coloco Evo Morales (recém eleito presidente da
Bolívia)
no grupo dos 'loucos", brincou. De acordo com Chávez, uma das razões do
desespero de "Mr. Danger" (senhor perigo) com a revolução bolivariana é
a
quantidade de petróleo que existe na região. "Mas ele está sendo usado
para
o desenvolvimento da Venezuela, que nunca mais será colônia dos Estados
Unidos", garantiu.

Chávez falou também do grupo "Chakal", formado pelas iniciais dos
presidentes Chávez, Kirchner e Lula, que está construindo um gasoduto
para
levar gás da Venezuela para toda a América do Sul.
Em seguida, o presidente lembrou que este grupo, unido, "enterrou a
Área de
Livre Comércio das Américas (Alca)", em Mar del Plata durante a Cúpula
de
Presidentes das Américas, realizada em novembro de 2005. Cuba não
esteve
nesta reunião pois, "muito democraticamente", foi excluída. "Chegará o
dia
em que não aceitaremos imposições como essa, depende da união entre os
países. Se Cuba não puder ir, também não iremos", previu Chávez.
O presidente venezuelano comemorou a retomada da luta contra o
imperialismo
na América Latina e a recente vitória de Evo Morales na Bolívia.
Anunciou,
ainda, um convênio com o governo boliviano, por meio do qual a
Venezuela irá
fornecer combustível à Bolívia, que deve pagar o governo venezuelano
com
produtos como a soja. "Eles não vão me pagar em dinheiro porque não
têm. A
Bolívia foi saqueada durante séculos". O convênio também prevê um plano
de
alfabetizaçao para os bolivianos que será feito pela Venezuela e por
Cuba.
"Serão 10 mil bolsas de estudo", prometeu.

Ofensiva

O momento que o continente americano vive é propício para que se crie
uma
articulação dos movimentos sociais em uma grande frente
antiimperialista
para derrotar a direita, disse Chávez. "Somos um só povo, caribenho e
latino
americano. Só unidos poderemos vencer". No entanto, é preciso respeitar
a
diversidade e autonomia dos movimentos sociais.

De acordo com ele, há razões para otimismo, porque hoje o continente
vive
coisas que há cinco anos não existiam, como o "crescimento de um
movimento
de consciência e unidade dentro dos Estados Unidos, onde vive o maior
terrorista do mundo, o Mister Bush", disse Chávez. "Podemos concluir
que nós
que lutamos por um mundo distinto estamos na ofensiva, são eles que
estão em
retirada!", bradou levantando o ginásio.
Chávez também falou sobre o fracasso da ocupação dos Estados Unidos no
Iraque e da sua inensibilidade. "Como não reconhecem a derrota que
sofreram,
seguem sacrificando a vida de estadunidenses e iraquianos. Exigimos que
cessem as agressões ao povo do Iraque", conclamou. Os 400 milhões de
dólares
gastos por dia para manter os exércitos de ocupacão, poderiam ser
utilizados
para investir em educação, saúde e alimentacão, disse o presidente
Chávez.

O Fórum Social Mundial também tem muita importância na ofensiva mundial
dos
movimentos sociais contra o imperialismo, disse o presidente da
Venezuela,
"mas não podemos deixar que ele se torne um encontro folclórico de
todos os
anos, uma espécie de turismo revolucionário", alertou Chávez ao
convidar os
líderes do Fórum a fazerem um plano de ação unitário.
Chávez afirmou que o século 21 é o século da definição, e que "não
podemos
deixar para amanhã o que podemos fazer hoje". Ele citou uma frase de
Karl
Marx, que, segundo ele, é mais atual do que nunca. "Socialismo ou
morte! Se
nada for feito agora, o capitalismo irá acabar com o planeta. Amanhã
pode
ser tarde demais", concluiu.