Apesar da repressao:

Movimentos camponeses colombianos seguem na resistencia

2006-01-27 00:00:00

A eleição de Evo Morales na Bolívia e o processo de mudanças sociais em
curso na Venezuela são indícios de que a América Latina tem a chance de
enfrentar mudanças na correlação de forças políticas. Mas em alguns
países a intensa repressão aos movimentos sociais, prejudica a luta dos
movimentos sociais, que seguem resistindo. É o caso da Colômbia, onde o
governo de Alvaro Uribe, aliado aos interesses imperialistas, tenta
cotidianamente minar as forças sociais no país. "O ambiente para os
camponeses na Colômbia, segue sendo caótico. Mas mesmo assim continuamos
resistindo e elaborando propostas claras no que diz respeito à reforma
agrária", afirma Mabel Andrade da ANUC-UR (Associação Nacional de Usuários
Campesinos Unidade e Reconstrução).

Em entrevista à Minga Informativa, a dirigente, que participa das atividades do VI Fòrum Social Mundial em Caracas, fala também da
conjuntura política do país que, neste ano, terá eleições.

- Como está a conjuntura da reforma agrária na Colômbia, que possui um
governo aliado ao imperialismo, marcado pela criminalização das lutas
sociais?

Mabel Andrade - Em meu país, seguem acontecendo a repressão e
criminalização dos movimentos sociais, assim como assassinatos de lideranças e a
expulsão dos camponeses de suas terras. O processo de concentração da
terra nas mãos dos paramilitares e do narcotráfico também continua. Não
existe lei de reforma agrária e, com o governo Uribe é dificíl que ela
venha acontecer. O ambiente para os camponeses permanece caótico. Mas
mesmo assim continuamos resistindo e elaborando propostas claras no que
diz respeito à democratização da terra.
Uma delas, o mandato agrário, que foi construído por muitas
organizações constitui uma proposta de se criar uma real política de reforma
agrária em nosso país, que saia do papel porque não há vontade política de
democratizar a terra no país. A outra proposta é o congresso itinerante
organizado pelos companheiros indígenas do departamento de Cauca. Mesmo
com o ambiente desfavorável, há muitas propostas caminhando, assim como
nossas lutas seguem, continuamos colocando nossas propostas. Em Cauca,
regiaõ ocidental da Colômbia está prevista a liberação de 12 áreas de
terra e a tarefa é liberar mais e concientizar a restante dos movimentos
do país que a questão da terra não é uma bandeira apenas dos
camponeses, mas de todos. E de que reforma agrária não significa apenas ter
acesso a terra.

- Quais são as perspectivas para as eleições deste ano na Colombia?

Mabel Andrade - Em março teremos eleições no Congresso e, em maio para
presidência. Hoje os movimentos colombianos estão pensando qual a
proposta alternativa ditadura velada que vivemos no país. Há grandes
chances deste governo se reeleger, porque ele utiliza muitos mecanismos para
defender seus intereses, inclusive os meios de comunicação e o
paramilitarismo. Está em curso uma propostas do movimentos de discutir qual o
candidado da esquerda mais ainda nao chegamos à um acordo único. Vamos
tentar assegurar pessoas comprometidas com o povo na Câmara, mas é
difícil por causa de todo o contexto.

- Para que a reforma agrária aconteça, é preciso a pressão dos movimentos
sociais e o compromisso do governo em torná-la política pública. É
possível que isso ocorra na Colombia?

Mabel Andrade - Nós, os movimentos sociais, em conjunto, elaboramos um
projeto de Reforma Agrária que foi construído entre as organizações
camponesas e que foi para o Congresso onde há parceiros dos camponeses.
Fizemos muita mobilização para que ele fosse aprovado, mas infelizmente a
força da direita no Congresso foi maior e o projeto não passou. Agora
está se propondo um novo projeto que necessita de parlamentares
comprometidos com o povo o defenda. Entretanto, somos conscientes que temos que
articular e mobilizar. O principal ponto é que na Colõmbia acontece uma
coisa muito particular: não são todos os movimentos que estão de acordo
em participar da luta eleitoral. Há organizações que não querem entrar
nesta área. Isso dificulta com que os movimentos se articulem e
indiquem um nome para defender suas reivindicações.